Sindicalistas apontam que Fora Bolsonaro deve ganhar fôlego no segundo semestre

Por Railídia Carvalho

Em live realizada nesta quarta-feira (24) no facebook do Portal Vermelho sindicalistas defenderam que a pauta do segundo semestre do movimento sindical deve ser o fortalecimento dos movimentos em defesa da democracia e da articulação Fora Bolsonaro. Adilson Araújo, presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) afirmou que “essa questão deve ganhar mais força no pós-coronavírus”.

“Se depender do governo Bolsonaro, que é avesso à ciência, seguiremos distantes da perspectiva da descoberta da vacina, que me parece a questão fundamental”, disse Adilson. Ele completou: “Se vier uma segunda onda (da Covid-19) pode pegar muita gente. Não se trata de uma gripezinha. A salvação necessária é construir o caminho da defesa da democracia”. 

Nivaldo Santana, secretário nacional sindical do PCdoB, e Alex Custódio, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim (MG) também participaram do bate-papo, mediado pelo jornalista André Cintra. De acordo com Nivaldo, se de um lado a oposição ainda busca unidade e amplitude para construir uma alternativa a Bolsonaro, de outro, aumenta a consciência do povo contra o atual presidente.

“A minha expectativa é de que com unidade, amplitude e mobilização a gente consiga desempatar o jogo e transformar em realidade a palavra de ordem fora Bolsonaro”, ressaltou. Na opinião de Alex, o descaso do atual governo neste momento vai gerar um pós-pandemia mais crítico ainda. “É extremamente preocupante porque a indústria está indo por água abaixo e o presidente não se importa com os postos de trabalho perdidos”.

Ambiente virtual e classe trabalhadora

Os efeitos da 1ª Plenária Nacional Virtual dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, realizada no sábado (20), também foi tema da live. Adilson contou que havia um receio no ar mas a experiência mostrou que foi uma decisão acertada da CTB porque “a nova engenharia” aproximou a central da classe trabalhadora. “As redes sociais tem eclodido um conjunto de acontecimentos que tem ajudado a levar a mensagem. Ao qualificar a nossa intervenção eu penso que o saldo é positivo”.

Entre os metalúrgicos de Betim as ferramentas digitais são uma realidade. Uma assembleia virtual dos trabalhadores da Fiat puxada pelo Sindmetal-Betim resultou na manutenção de milhares de empregos. Alex afirmou que essa forma de atuação através das redes veio para ficar. “O movimento sindical terá que se readequar para utilizar melhor essas ferramentas. O ideal é que essa prática se adeque e continue sendo usada mesmo no pós-pandemia”.

Nivaldo reiterou que o movimento sindical precisa se apropriar das novas tecnologias. Incorporar ao dia a dia para desenvolver a consciência classista, organizar comissões de fábrica e experimentar realizar eleições. “Dá para usar na organização, na formação, comunicação e finanças. É um universo amplo a ser explorado pelo conjunto do sindicalismo”. A realização de um Congresso Nacional virtual é uma possibilidade, de acordo com Adilson.

Pandemia e mais precarização do trabalhador

Assegurar vidas, defender a democracia, o emprego e a renda. Garantir protocolos de saúde e segurança quando se fala em volta ao trabalho. São pontos que balizaram a resolução aprovada na 1ª Plenária Nacional Virtual. Os sindicalistas confirmam que o projeto de asfixiar o movimento sindical e impor perdas aos trabalhadores ganhou força na pandemia. 

“Fizemos caducar a MP 905 que criava o contrato verde e amarelo. Na batalha da MP 936 (suspensão de contratos e redução de jornada e salários) trouxeram pontos da 905 para o calor do debate. Vencemos e o governo coloca adiante a MP 927”, descreveu Adilson. “Esse governo quer promover o derretimento do direito constitucional do trabalho e de conquistas históricas”, definiu Adilson.

Alex afirmou que o governo disponibilizou 4 bilhões de reais para ajudar as montadoras. “Há todo um esforço para ajudar os patrões e as multinacionais”. Ele enfatizou que das 95 cláusulas da convenção coletiva, os patrões querem reduzir e cortar a grande maioria. “Se eles tem a ajuda do governo não tem porque tentar colocar nas costas dos trabalhadores o custo da crise” 

Eleições municipais

Nivaldo usou o exemplo das MPs para destacar a importância do engajamento dos trabalhadores e trabalhadoras como candidatos nas eleições deste ano. “À medida que cresce a bancada de empresários na Câmara e no Senado diminui a representatividade dos trabalhadores. Nesses meses foram editadas varias medidas provisórias que atacam o direito do trabalho. Ter trabalhador na Câmara e no Senado é importante”.

De acordo com Nivaldo, a rotina do sindicalista o credencia a disputar as eleições. “Está acostumado a reunir com trabalhador e trabalhadora, negociar com patrão e dirigir organizações sindicais”. Segundo ele, cabe ao sindicalista “jogar pesado na disputa como candidato e participar da luta de ideias com propostas e opiniões”. E completou: “Vamos tocar o sindicato, fortalecer o sindicato mas vamos participar da disputa política eleitoral”.