1910…

Por Claudia de Lima Medeiros.

Poderia ter sido o ano de nascimento de madre Teresa de Calcutá.
Poderia ter sido o ano de uma turnê do Charles Chaplin.
Poderia ter sido o período do surgimento do jazz como estilo musical.
Poderia mesmo ter sido o ano de passagem do Cometa Halley sobre a terra.
Poderia ter sido o ano de fundação do time do Corinthians.
Poderia ser apenas mais um número qualquer, uma placa de carro, parte de um número telefônico, trecho da CNH, mas não é.
1910…
Esse número conta o vazio de um dia
Esse número revela o descaso com a vida
Esse número registra a dor de uma população
Esse número simboliza o luto das famílias
Esse número ordena a sequência de absurdos
Esse número contabiliza o alto preço da negação da verdade e da ciência
1910…
Despedimo-nos de muitas Teresas, não em Calcutá, mas aqui do lado.
Projetaram um filme tenebroso. Mudos ficamos nós diante do assombro.
Não ouvimos jazz, mas fomos atordoados com os badalos dos sinos em despedida.
Ao invés de olhos em busca de corpos celestes, fomos ofuscados pelas lágrimas.
Hoje não comemoramos nenhum título do futebol, até porque os estádios estão vazios.
Não foi apenas um número, não apenas um número, não um número.
Mil novecentas e dez pessoas…