Por Marcos Aurélio Ruy (Foto: Divulgação)
O site da ONG Repórter Brasil denuncia que a construção de uma fábrica da cervejaria Heineken em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi embargada e autuada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “O órgão do Ministério do Meio Ambiente também enviou ofício para o governo mineiro, que já havia concedido a licença prévia para a construção, e aplicou duas multas na empresa, que somam R$ 83 mil”, informa o repórter Daniel Camargo.
A obra foi suspensa porque a cervejaria recebeu a permissão de Romeu Zema, governador de Minas Gerais, para instalar a sua fábrica em uma região muito próxima à Área de Proteção Ambiental Carste Lagoa Santa, local onde foi encontrado em 1975, o esqueleto de Luzia, o mais antigo fóssil do continente americano. Acredita-se que Luzia tenha 11 mil anos.
Os fiscais do ICMBio concluíram que os impactos dessa construção à natureza são imprevisíveis, porque “os estudos apresentados pela Heineken e aprovados pelo governo mineiro são falhos”.
Com isso, a construção pode soterrar grutas e cavernas de fundamental importância para a história.
“É lamentável a atitude do governador Zema de liberar a construção de uma fábrica em uma região que precisa ser valorizada pela sua contribuição histórica à humanidade”, revela Valéria Morato, presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – seção Minas Gerais (CTB-MG).
Para Valéria, o governador deveria se preocupar em “elaborar um plano de desenvolvimento sustentável para a região, que explore as possibilidades turísticas e a pesquisa científica”, mas, ao contrário “ele opta por destruir um sítio arqueológico que é um verdadeiro patrimônio da humanidade”.
O esqueleto de Luzia foi encontrado, no sítio arqueológico em Pedro Lepoldo pela missão arqueológica chefiada pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire. Em meio a fósseis animais, descobriram em uma das cavernas o crânio mais famoso no Brasil.
Estudiosos concluíram que Luzia era uma mulher que estava na faixa dos 20 anos quando morreu, tinha 1,50m de altura e possuía traços negroides, com nariz largo e olhos arredondados. Pesquisadores da Universidade de Manchester, Inglaterra, fizeram a reconstituição de seu rosto, em 1999.
Réplica de Luzia está no Museu Nacional, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já que seu crânio foi queimado no incêndio que atingiu o importante museu em setembro de 2018. Tamanho o descaso com a memória e a história do país. Descaso do governo federal e de muitos estaduais, como o de Zema, do Partido Novo,
O nome de Luzia, foi dado pelo antropólogo e arqueólogo brasileiro, Walter Neves, enquanto estudava o fóssil. Ele defende a teoria de que o continente americano foi povoado por duas migrações de Homo Sapiens vindos da Ásia. A primeira há 14 mil anos, por indivíduos parecidos com Luzia e a segunda há 12 mil anos. Por isso, explica Neves ao Repórter Brasil, “Qualquer coisa que mexa na dinâmica de água subterrânea do carste (relevo caracterizado pela corrosão das rochas) é um desastre”.
Valéria defende a urgência em “reverter o desprezo dos nossos governantes pela história e pela ciência, e a ausência de planejamento estratégico para o país”. De acordo com ela, é por causa de trapalhadas como essa “que a economia mineira está um desastre e quem mais perde é a classe trabalhadora, a começar pelos funcionários da própria empresa”.
Por isso, “a CTB-MG vai apurar qual é a situação das trabalhadoras e trabalhadores para avaliar medidas que os protejam. Afinal, eles são os únicos inocentes desta história”.
A reportagem de Camargo informa que “a empresa disse que suspendeu a atividade de terraplanagem após a ação dos fiscais. Disse também que está à disposição dos órgãos envolvidos. Destacou ainda que ‘reforça seu profundo compromisso com a preservação do meio ambiente e com a legislação ambiental em vigor’”.