Há um consenso no mundo de que Bolsonaro não pode continuar presidente do Brasil, diz advogado

O advogado trabalhista Maximiliano Ataíde esteve recentemente representando a CTB na delegação do Brasil na 110ª Conferência da OIT em Genebra. Ele relata que o clima de preocupação com o país é unânime, e até entre o empresariado Bolsonaro não é bem-quisto. “Entre os trabalhadores a gente já esperava, mas o pessoal do empresariado falou que não quer mais o Bolsonaro também. Eu fiquei até surpreso”.

Maximiliano Ataíde durante a 110ª Conferência da OIT, em Genebra

Maximiliano Ataíde é advogado trabalhista, e participou da conferência como assessor técnico da delegação brasileira convidado pela CTB. Ele esteve na Comissão do Trabalho-Aprendizagem, debateu sobre os direitos mínimos a serem garantidos internacionalmente na relação trabalho-aprendizagem (ou seja, o trabalho realizado durante a formação para poder melhor aprendê-la), dos quais são modalidades os estágios, residências-medicas e algumas modalidades de pós-graduação. Segundo ele, neste tema o Brasil conseguiu dar boas contribuições, porque o país tem uma legislação e uma estrutura de políticas públicas avançadas para fomentar o ingresso no mundo do trabalho. “Em muitos países, acontece até de as pessoas precisarem pagar para ter um primeiro emprego e aprender. Mas o Brasil, dentro dessa discussão, tem uma certa vantagem, porque já tem algumas leis e políticas estruturadas para o primeiro emprego. A gente tem, por exemplo, a Lei do Estágio, tem o Sistemas S que fornecem capacitação, além de bolsas de estudo para Mestrado e Doutorado. Então o Brasil teve uma participação importante neste tópico”, explica Ataíde.

Fora Bolsonaro é mundial

Se a discussão em torno do mundo do trabalho é diversa e complexa, a visão mundial sobre o Brasil é unanime: o Bolsonaro não pode continuar presidente do país. Segundo Maximiliano, até entre o empresariado é consenso de que Bolsonaro precisa sair.

“Participamos de uma reunião com o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, onde nós apresentamos a situação do Brasil, e ele nos perguntou o que esperamos do Brasil: se queremos voltar ao passado, se queremos eleger Lula, ou apesar disso, trazer uma nova discussão de governo… e o consenso dos trabalhadores foi que Bolsonaro não tem condições de continuar e precisamos buscar um governo progressista. A maioria entente que esse governo se concretiza na figura de Lula. Há uma parcela que defende Ciro Gomes, mas a maioria de esquerda defende o nome de Lula”, afirma o dirigente sindical.

Delegação brasileira na Conferência da OIT

Diferente de anos anteriores, desta vez a Conferência da OIT foi híbrida, devido à pandemia da Covid-19, e este período especial fez com que mais exceções acontecessem no evento. Foi o caso de um jantar do empresariado onde os trabalhadores foram convidados.

“Nós participamos de um jantar, que foi interessante porque normalmente a delegação dos trabalhadores não costuma ir a esse jantar, que quem oferece é a CNT, dos Transportes, que é da delegação dos empregadores. Mas como foi nesse período pós-pandemia, acabou que a maioria dos trabalhadores aceitou ir. E nesse evento, o pessoal do empresariado falou que não quer o Bolsonaro também. Eu fiquei até surpreso”, contou o advogado.

Durante o evento, a delegação brasileira denunciou o negacionismo de Bolsonaro na pandemia da Covid-19, que causou quase 700 mil mortes, a corrupção e a propina da vacina, que foi denunciada com a CPI da Pandemia. E segundo Maximiliano, há um consenso de que Bolsonaro representa o que há de pior da direita mundial, e não deve permanecer à frente da presidência do Brasil.

Maximiliano Ataíde e Carlos Müller, representantes da CTB na Conferência da OIT

“Para mim, foi uma honra esse convite da CTB, ocupar essa vaga nesse debate. Até porque, neste ano, pós-pandemia, o contingente de pessoas foi muito mais reduzido. Foi tudo muito interessante, primeiro porque a gente tinha contato com a ONU, os salões da ONU que são de uma arquitetura muito interessante, a gente vê obras de arte de muitos países, como Japão, Indonésia, países africanos, países latinos… E também pude ver de perto a disputa entre os diversos setores, entre os empresários, os governos e os trabalhadores. Tanto que as reuniões são todas separadas”, conta o advogado.

A delegação da CTB contou ainda com a presença do comandante Carlos Müller, presidente da Confederação dos Marítimos e secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB. Maximilano Ataíde é advogado trabalhista, advoga para sindicatos da Construção Civil e dos professores da Bahia, é pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.

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