Por que a burguesia financeira não gosta de Lula na Presidência?

Pesquisa recente da Genial/Quaest mostra que a avaliação positiva do governo Lula no mercado financeiro desceu a 9% enquanto a negativa subiu a 52% (era de 47% em setembro).

O instituto entrevistou 100 profissionais de fundos de investimentos sediados em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre os dias 16 e 21 de novembro.

Taxação dos super ricos

O resultado não suprrende. O público pesquisado é vassalo do capital financeiro, cujos interesses estão na contramão do projeto político e de muitas iniciativas e medidas adotadas pelo governo liderado pelo PT.

É o caso, por exemplo, do imposto sobre os super ricos, que arranha levemente o bolso de um grupo restrito de bilionários e suscitou uma guerra surda no Parlamento, que acabou suavizando a proposta original, reduzindo as alíquotas sugeridas pelo Executivo.

A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou quarta-feira (22) o texto-base do projeto que prevê a taxação de offshores e de fundos de investimento exclusivos, chamados fundos de super-ricos. A matéria já recebeu o aval da Câmara dos Deputados.

O resultado foi comemorado como uma vitória. Ajuda a turbinar as receitas da União e prevenir futuras pressões por contingenciamento de despesas. Mas, o lobby e o poder econômico dos ricaços sobre o Parlamento acabaram reduzindo as pretensões do Palácio do Planalto.

A alíquota de 10% proposta pelo governo para quem antecipar a atualização do valor dos rendimentos acumulados até 2023 foi reduzida a 8%. Já a alíquota linear de 15% sobre os rendimentos aprovada pela Câmara se contrapõe à proposta original de uma alíquota progressiva de 0% a 22,5%.

Taxa de juros

O mercado financeiro é igualmente hostil à campanha do governo pela redução das taxas de juros, que de resto é respaldada pelas centrais sindicais, movimentos sociais e setores do empresariado.

Para este mercado, cujos interesses caminham na contramão do anseio popular e das necessidades de desenvolvimento nacional, quanto maior a taxa de juros, melhor. Afinal, o pagamento dos juros da dívida pública garante aos bancos e credores do governo federal a apropriação de 50% do Orçamento da União.

Estados e municípios também reservam parte substancial de seus orçamentos ao pagamento de dívidas contraídas no mercado financeiro.

É preciso lembrar, aqui, as taxas de juros absurdas cobradas sobre o rotativo do cartão de crédito, que na média hoje situam-se em 425% ao ano. Por acaso isto não configura uma agiotagem institucionalizada? Pouca importa, como também pouco importa o impacto deletério dos juros sobre o crescimento da economia e o orçamento das famílias.

O único critério que conta para o capital, e os capitalistas (que encarnam e personificam os interesses do capital), é o lucro, ou melhor, a maximização dos lucros.

Propensão ao fascismo

Outro tema que atrai a ira do mercado financeiro é o da indispensável revisão das reformas neoliberais impostas desde o golpe de 2016, com destaque para as mudanças na CLT e nas regras da Previdência.

Podemos acrescentar a interrupção da política de entrega das nossas estatais aos tubarões capitalistas, que no caso da Vale já resultou em dois trágicos crimes ambientais em Minas Gerais (Mariana e Brumadinho) e, no setor elétrico, é fonte de recorrentes apagões.

Além da oposição ao projeto político, o simbolismo evocado por um ex-operário, um líder assumido da classe trabalhadora, na Presidência da República é como um osso preso na gargante das classes dominantes brasileiras.

No meio ambiente dominado pelos ricaços cresce a propensão ao fascismo, que transparece no apoio a Jair Bolsonaro e no otimismo despertado na nata da burguesia pela vitória de Milei na Argentina.

É este o caminho, e também o desdobramento, da luta de classes em nosso país e no mundo. A consciência e unidade da classe trabalhadora são as forças que, se bem desenvolvidas, podem derrotar essas classes decadentes que, embora poderosas, são minoritárias e, neste momento, ameaçam conduzir a humanidade ao abismo da barbárie fascista e da guerra nuclear.

Foto: Ricardo Stuckert/Reuters