Redução da jornada de trabalho é a bandeira originária do 1º de Maio

Foto: Roberto Parizotti.

Por Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

No centro das manifestações programadas pela CTB e as centrais sindicais para este 1º de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, está o fim da desumana escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais. São também destaques da pauta a isenção do IRPF para quem ganha até R$ 5 mil, redução da taxa de juros, regulamentação da Convenção 151 da OIT e a efetivação da reforma agrária, entre outras reivindicações.

No cerne dessa memorável data, desde suas origem, reside a luta fundamental pela redução da jornada de trabalho. A gênese do 1º de Maio remonta a um período de intensa exploração da classe trabalhadora nos Estados Unidos, durante o auge da Revolução Industrial no século XIX. 

Jornada diária de 16 horas 

Os operários eram submetidos a jornadas exaustivas que frequentemente ultrapassavam 12, 14 e até 16 horas diárias. Trabalhavam em ambientes insalubres por salários miseráveis. A crescente insatisfação gerada por essas condições culminou em um movimento organizado que exigia a redução da jornada de trabalho sob o lema: oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer.

Em 1884, a Federação Americana do Trabalho (American Federation of Labor) proclamou que a partir de 1º de Maio de 1886, a jornada de trabalho de oito horas deveria ser a norma, o que foi acompanhado por uma onda de greves e manifestações em diversas cidades estadunidenses. O epicentro desse movimento foi Chicago, onde centenas de milhares de trabalhadores paralisaram suas atividades.

Polícia e Justiça a soldo da burguesia

A manifestação de 1º de Maio de 1886 em Chicago reuniu dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. A tensão aumentou nos dias seguintes, culminando na trágica explosão de uma bomba na Praça Haymarket no dia 4 de Maio, durante um protesto. O evento, que resultou na morte de policiais e trabalhadores, foi usado como pretexto para uma violenta repressão ao movimento operário. 

Lideranças sindicais foram presas, julgadas em um processo tendencioso e arbitrário e, posteriormente, executadas ou condenadas à prisão. Polícia e Justiça agiram como lacaios da burguesia, reproduzindo o ódio do patronato à rebeldia proletária contra a exploração e a opressão capitalista.

Mártires de Chicago

A luta dos operários norte-americanos e o sacrifício de seus líderes não foi em vão. Em 1889, durante o Congresso da Segunda Internacional Socialista, realizado em Paris, o 1º de Maio foi instituído como o Dia Internacional dos Trabalhadores, em homenagem aos mártires de Chicago e à luta pela jornada de oito horas. A data se tornou um símbolo da solidariedade internacional da classe trabalhadora e da sua persistente busca por direitos.

Ao longo do século XX a limitação da jornada a oito horas diárias tornou-se uma realidade mundial. Em 1932 este direito conquistado com o sangue operário foi instituído no Brasil por decreto do presidente Getúlio Vargas. 

Vida pessoal e profissional

Desde que a data foi instituída até os dias atuais, o 1º de Maio sempre foi um momento crucial para a reafirmação das demandas dos trabalhadores, com destaque para a luta por uma jornada de trabalho mais humana e que promova um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional permanece relevante.

Atualmente, frente à emergência da Inteligência Artificial e o avanço de doenças ocupacionais como o burnout e o estresse, o debate sobre a redução da jornada ganha novas nuances e justificativas. A experiência histórica demonstra que a ampliação do tempo livre da classe trabalhadora aumenta a produtividade, melhora a saúde física e mental e o bem-estar dos trabalhadores, eleva a oferta de empregos e ameniza a tragédia do desemprego.

Produtividade

Simultaneamente, o avanço da produtividade do trabalho, impulsionado pelas novas tecnologias, significa por definição a redução do tempo de trabalho necessário para a produção de bens e serviços consumidos pela sociedade, criando as condições objetivas para reduzir a jornada de trabalho ampliando a oferta de postos de trabalho mantendo ou mesmo aumentando a produção.

A luta pela redução da jornada de trabalho em nosso caso compreende a campanha pelo fim da desumana escala 6×1, ansiado por milhões de assalariados, e a diminuição da carga semanal de trabalho de 44 para 36 horas. Embora justa e necessária, a reivindicação esbarra na ferrenha oposição patronal e na correlação de forças no Congresso Nacional, obstáculos que só podem ser removidos por uma vigorosa mobilização da classe trabalhadora. Este 1º de Maio será um passo valioso nesta direção.

 

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