Recuo de Trump coloca em evidência o declínio dos EUA

Donald Trump iniciou a guerra comercial contra a China imaginando que poderia levar o gigante asiático à lona, impondo prejuízos insuportáveis à sua economia e forçando os dirigentes do Partido Comunista a implorar por negociações.

Não foi o que ocorreu. Os fatos revelam que o tiro saiu pela culatra.

Nesta segunda-feira (12), os dois países anunciaram um acordo, que começa com uma pausa de 90 dias enquanto prosseguem as negociações para superar o tarifaço anunciado em abril, que desembocou na guerra comercial.

Quem diria?

Trump impôs aos chineses sobretaxas estratosféricas de até 145%. Pequim retaliou fixando novas tarifas de 125%, afetando principalmente produtos agrícolas dos EUA, além de suspender a exportação de terras raras e acelerar a venda de títulos emitidos pela Casa Branca.

O acordo anunciado hoje reduz as tarifas estadunidenses para 30% e as chinesas para 10%.

Ao contrário do que Donald Trump esperava, não foram os chineses que procuraram os norte-americanos desesperados por uma solução.

Quem desta vez pediu arrego foi o todo poderoso e arrogante império. A Casa Branca foi atrás da negociação, ou seja, Tio Sam arregou. Quem diria?

Isto não significa que a China não sofreu com o tarifaço. As exportações para os EUA caíram, mas a economia do país é resiliente e já não depende tanto do mercado estadunidense, que ainda lidera o ranking das importações mundiais em função de um déficit comercial gigantesco e crônico, o que em vez de força é sinal de parasitismo econômico-social e decadência.

Valorização do trabalho

Ao longo dos últimos anos, com os imperialistas em Washington obcecados pelo propósito de deter a ascensão chinesa, os líderes comunistas de Pequim estiveram empenhados em diversificar os seus parceiros comerciais, ampliando o comércio e também as relações financeiras com outras economias emergentes.

É expressivo o aumento dos investimentos chineses em outras economias, o que contribui para reduzir a dependência do mercado norte-americano.

Além disto, o governo investe no fortalecimento do mercado interno, o que se dá principalmente através de um expressivo aumento dos salários.

O salário médio dos trabalhadores e trabalhadoras chinesas é o que mais cresce no mundo, alimentando e ampliando o mercado interno, bem como ajudando a contornar crises de superprodução advindas da contração do mercado externo.Em 10 anos, o valor praticamente triplicou, cabendo ainda notar que a China é um país com Inflação muito baixa.

A valorização do trabalho e da classe trabalhadora na China é um feito incontestável do socialismo com características chinesas.

Enfraquecimento geopolítico

O recuo do governo Trump reflete o enfraquecimento econômico – e por extensão geopolítico – do imperialismo estadunidense. Esta decadência também ficou em evidência com as sanções impostas à Rússia no curso do conflito contra a Ucrânia, que tampouco levaram os líderes de Moscou à lona e sequer interromperam a boa performance da economia russa.

A taxa de crescimento do PIB da Rússia foi de 4,1% em 2023 e teve o mesmo desempenho no ano passado, ao passo que na zona do euro o PIB oscilou 0,7% e 0,1% no mesmo período e nos EUA 2,5% e 2,8%.

O primeiro trimestre deste ano foi inaugurado nos Estados Unidos pelo recuo do PIB, de 0,3%, em relação ao mesmo período do ano passado. Em contraste, o PIB da China cresceu 5,4%. Este desenvolvimento desigual, que marcou as quatro últimas décadas, ajuda a explicar tanto a ascensão da China quanto o declínio do poderio econômico dos EUA. A indústria é a principal força propulsora deste movimento contraditório.

Lula em Pequim

Outro sinal do novo cenário econômico e geopolítico que vem sendo desenhado nessa nossa história é ilustrada pela viagem de Lula à China, onde fez um anúncio de investimentos chineses no valor de US$ 27 bilhões na economia brasileira, enalteceu a parceria estratégica com a potência asiática, fez referências elogiosas à revolução de 1949, comandada pelo Partido Comunista, e criticou o protecionismo.

Já em 2009, ano em que foi criado o Brics, a China tornou-se a maior parceira comercial do Brasil e, conforme lembrou o presidente brasileiro, “nosso comércio evoluiu de maneira extraordinária. Só para se ter ideia, o nosso comércio de 2003 até 2025 cresceu aproximadamente 30 vezes. Em uma demonstração de que o potencial da relação entre China e Brasil é inesgotável.”

Lula lembrou também que na última década, “a China saltou da 14ª para a 5ª posição no ranking de investimento direto no Brasil. Trata-se do principal investidor asiático em nosso país, com estoque de mais de 54 bilhões de dólares”.

Ele também fez referência aos compromissos sociais do seu governo e do governo comunista da China. “É a única razão que eu acredito que valeu a pena a Revolução Chinesa em 1949 e o que valeu as nossas eleições no Brasil é provar que quando um governo tem compromissos sociais e não esquece as origens daqueles que chegaram ao poder e querem governar para todos, as coisas melhoram”.

Na conclusão do seu pronunciamento, o mandatário brasileiro mencionou a necessidade de estabelecer uma nova ordem internacional fundada no multilateralismo e em relações mutuamente vantajosas entre as nações.

“A nossa relação será indestrutível, porque a China precisa do Brasil e o Brasil precisa da China e nós dois juntos poderíamos fazer com que o Sul Global seja respeitado no mundo como nunca foi”.

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