Ao discursar nesta terça-feira, 13 de maio, na sessão de abertura do IV Fórum da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizado em Pequim, na China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância da integração da China com os países sul-americanos e caribenhos para o desenvolvimento da região. “Isso fica evidente sobretudo na área de infraestrutura. O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas escala regional”, destacou o presidente brasileiro.
“O Fórum CELAC-China comemora seu décimo aniversário este ano. Ao longo dessa década, os laços entre a América Latina e o Caribe e a China se fortaleceram. A China já é o segundo maior parceiro comercial da CELAC e um dos mais importantes investidores diretos na região. Recursos oriundos de instituições financeiras chinesas superam créditos oferecidos pelo Banco Mundial ou pelo BID. A parceria com a China é um elemento dinâmico para a economia regional”, frisou Lula.
A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre as nações. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos, acrescentou.
PAPEL NA PANDEMIA
Lula lembrou ainda o papel que a China teve no crescimento da América do Sul e do Caribe, além da importante participação do país no desenvolvimento de vacinas e insumos durante a pandemia do Covid-19. Para ele, reforçar a articulação entre todos esses atores permitirá a todos aproveitar na plenitude o potencial dessa relação. “A demanda chinesa foi um dos propulsores do crescimento que experimentamos no início do século. Obtivemos avanços expressivos na redução da pobreza e da desigualdade. Foi nesse momento que finalmente olhamos para nosso entorno e nos unimos para criar a UNASUL e a CELAC. Só com maior articulação entre nós conseguiremos aproveitar ao máximo o potencial de cooperação sino-latino-americana e caribenha”, afirmou Lula.
FORTALECIMENTO DA INDÚSTRIA
O líder do Brasil também ressaltou que a relação entre a CELAC e a China deve resultar em um fortalecimento das indústrias nos países sul-americanos e caribenhos, inclusive no campo da Inteligência Artificial. “Para construir um futuro compartilhado, é necessário reduzir as assimetrias entre os países. É imprescindível que a colaboração entre a CELAC e a China contribua para fortalecer a indústria e a inovação na região. A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre as nações. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos”, disse.
COP30 NA AMAZÔNIA
Ao abordar o tema das mudanças climáticas, Lula reforçou que a união entre os atores envolvidos no IV Fórum CELAC-China pode mandar uma mensagem muito clara para o planeta no que diz respeito a um modelo que alie crescimento e preservação do meio ambiente. “A América Latina e o Caribe e a China podem mostrar ao mundo que é possível conter a mudança do clima sem abdicar do crescimento econômico e da justiça social. A COP30, na Amazônia, no estado do Pará, na cidade de Belém, no coração da Amazônia, almeja ser um ponto de virada na implementação dos compromissos climáticos, estabelecendo a confiança em soluções coletivas”, previu.
GOVERNANÇA E MULTILATERALISMO
O presidente do Brasil voltou a defender o papel do multilateralismo e disse que a América Latina e o Caribe podem ajudar a estabelecer um novo marco na história da Organização das Nações Unidas, momento em que foi aplaudido durante seu discurso. “A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas sim aperfeiçoá-lo. A América Latina e o Caribe podem contribuir elegendo a primeira mulher Secretária-Geral da ONU e honrando, assim, o legado da Conferência de Pequim sobre os direitos das mulheres”, defendeu Lula. “A governança global já não espelha a diversidade que habita a Terra. Esse anacronismo tem impedido que se cumpra o propósito de evitar o flagelo da guerra, inscrito na Carta das Nações Unidas.”
O FÓRUM
O IV Fórum CELAC-China (FCC) é uma plataforma de cooperação intergovernamental entre países em desenvolvimento, que serve de vetor de promoção dos interesses do Sul Global. O encontro insere-se na agenda externa da CELAC, que inclui, também, diálogos regulares com União Europeia, União Africana, Conselho de Cooperação do Golfo, Índia e Turquia.
CONCERTAÇÃO E DIÁLOGO
Para o Brasil, a reunião demonstrará a importância da CELAC como foro privilegiado de concertação e diálogo da América Latina e Caribe com o mundo. O encontro na China contribuirá para fortalecer a parceria entre países do Sul Global e defender o multilateralismo, com as Nações Unidas em seu centro, e o sistema de comércio internacional regido pela OMC, em contexto de ressurgimento do unilateralismo, o que aumenta a relevância da diversificação das parcerias do Brasil e da CELAC.
INTERCÂMBIOS
Além das considerações políticas mais amplas, a reunião deve propiciar intercâmbios sobre grande número de assuntos de interesse mútuo. A CELAC buscará apoio da China para iniciativas como o Fundo de Adaptação Climática e Resposta Integral a Desastres Naturais (FACRID); o Plano da CELAC sobre Segurança Alimentar e Nutricional (Plano SAN-CELAC); e o Plano de Autossuficiência Sanitária da CELAC.
INVESTIMENTOS E ACORDOS
O IV Fórum CELAC-China abriu o segundo dia de compromissos oficiais de Lula e da comitiva brasileira em Pequim. Na segunda-feira (12/5), o líder brasileiro teve uma agenda cheia de compromissos, que resultaram em diversos anúncios de investimentos e na assinatura de acordos.
Após Lula participar de quatro audiências com executivos de empresas chinesas ligadas aos setores de energia sustentável e defesa, foram anunciados investimentos de US$ 1 bilhão na produção de SAF (combustível renovável para aviação) por meio da Envision Group, e a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em parceria entre a Windey Technology e a SENAI CIMATEC na área de energia renovável.
O presidente do Brasil também participou do encerramento do Fórum Empresarial Brasil-China. Lula ainda se reuniu com representantes de empresas do setor de saúde e a agenda foi marcada pelo anúncio de acordos bilaterais voltados à criação de um centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento de vacinas no Brasil e a proposta de uma parceria estratégica para construir no Brasil uma plataforma industrial robusta de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), além da assinatura de memorandos de entendimento na área de equipamentos de imagem (VMI).
PRINCIPAL PARCEIRO COMERCIAL
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e chegou, em 2023, ao recorde de US$ 157,5 bilhões, com exportações brasileiras de US$ 104,3 bilhões, importações de US$ 53,1 bilhões e superávit para o Brasil de US$ 51,14 bilhões. As exportações brasileiras para a China foram superiores à soma das vendas do país para os Estados Unidos (US$ 36,9 bilhões) e para a União Europeia (US$ 46,3 bilhões). Além do Brasil, a China destaca-se por ser o principal parceiro comercial de grande parte dos países da América Latina e do Caribe e, cada vez mais, um importante investidor, especialmente em infraestrutura. A robusta agenda de cooperação do Fórum CELAC-China não se limita a temas econômico-comerciais e inclui cooperação em assuntos como educação, inovação, transição energética, clima, inteligência artificial, combate aos crimes internacionais, desastres naturais e segurança alimentar.
AMPLO RELACIONAMENTO —
O relacionamento entre Brasil e China é marcado por um alinhamento que vai além da esfera bilateral. As duas nações têm mantido diálogo em mecanismos como BRICS, G20, OMC e BASIC (articulação entre Brasil, África do Sul, Índia e China na área do meio ambiente). Neste sentido, a visita de Lula permitirá que o presidente brasileiro e o presidente chinês, Xi Jinping, com quem Lula se reúne ainda nesta terça-feira (13/5) na Residência Oficial de Zhongnanhai, explorem sinergias entre suas políticas de desenvolvimento e programas de investimento e estreitem a coordenação sobre tópicos regionais e multilaterais – inclusive em relação ao G20, ao BRICS e às conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), que neste ano será realizada em Belém (PA), em novembro.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Ricardo Stuckert/PR