Nesta terça-feira (13), faleceu aos 89 anos o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, em decorrência de um câncer no esôfago, diagnosticado em maio de 2024. Mujica, reconhecido internacionalmente por sua trajetória política, seu estilo de vida austero e suas posições progressistas, estava prestes a completar 90 anos, no próximo dia 20 de maio.
Em nota, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, lamentou profundamente a perda.“Morreu um grande líder latino-americano, defensor da democracia e da integração dos nossos povos. A CTB e a classe trabalhadora brasileira estão profundamente consternados”, disse.
Presidência marcada por avanços sociais e estilo de vida austero
Pepe Mujica foi o 40º presidente do Uruguai, governando o país entre 2010 e 2015. Seu governo ficou marcado por avanços sociais e econômicos, mas principalmente pela imagem de um líder que praticava o que pregava. Ao invés de ostentar o poder, escolheu uma vida simples, trocando a residência oficial, o Palácio de Suárez y Reyes, por sua chácara “La Puebla”, nos arredores de Montevidéu.
“Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade”, declarou Mujica certa vez. Durante seu mandato, doava 90% do salário presidencial para um fundo destinado a programas de moradia popular. Seu bem declarado mais famoso era um Fusca azul, ano 1987.
Encontro com a CTB
Em 2016, Pepe Mujica esteve no Brasil, na sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo. Na ocasião, concedeu uma entrevista coletiva a representantes da mídia alternativa e a CTB. Entre reflexões sobre o momento político da América Latina:
“A riqueza mais importante que temos é o conhecimento e isso não se compra (…) A crise política chega na América Latina, mas isso não é nenhuma catástrofe. Agora é tempo de lutar.”
Ex-presidente uruguaio critica modelo econômico que reduz a vida ao consumo e ao trabalho exaustivo
Durante evento da Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo em 2017, Pepe Mujica fez uma crítica ao sistema neoliberal, que transforma direitos em mercadorias e impõe uma lógica de vida baseada na produtividade e no consumo. Para Mujica, era urgente repensar os rumos da sociedade, valorizando o tempo livre, a convivência e a dignidade humana, elementos que vão além da simples sobrevivência financeira
“Vida humana não pode se resumir a trabalhar e pagar contas”.
Trajetória de resistência e compromisso com a democracia
Ex-guerrilheiro tupamaro, Mujica foi preso durante a ditadura uruguaia, passando mais de uma década encarcerado, muitas vezes em condições desumanas. Ao sair da prisão, continuou sua trajetória política como deputado, senador, ministro e, por fim, presidente da República. Sua vida sempre foi pautada pela coerência entre discurso e prática.
Legado que ultrapassa fronteiras
Pepe Mujica deixa um legado de ética, resistência e esperança para gerações de militantes, políticos e cidadãos em toda a América Latina. Sua história continuará como símbolo de que é possível fazer política com empatia, simplicidade e compromisso real com o povo.