Durante o 3º Encontro Nacional da Rede de Comunicadores da CTB, o jornalista e pesquisador Inácio de Carvalho, da agência pública de jornalismo investigativo Agência Pública, fez uma reflexão crítica sobre o papel das tecnologias e das redes sociais na disputa política atual. “A rua é o impacto da luta política”, afirmou, ao destacar que, hoje, a internet se tornou um dos principais territórios de enfrentamento ideológico e mobilização social.
A internet potencializa a luta
Segundo Inácio, o ambiente digital ampliou o alcance das mobilizações. “Na internet, essa luta se potencializa. Ela ganha mais escala e mais poder de alimentação. A gente olha e percebe muitos mundos sociais interagindo com o existente.” Ele reforçou a importância do uso crítico da inteligência artificial, destacando a fala de outra participante do evento: “Usar a inteligência artificial de forma crítica é fundamental”.
Tecnologia não é o problema
Para o pesquisador, é preciso deixar claro que a tecnologia em si não é a vilã. “Não é assim: ‘a tecnologia gera problema, desemprego, textos burros, textos ruins…’. O problema não é a tecnologia”, afirmou, chamando atenção para a necessidade de separar as ferramentas dos usos que se faz delas.
Transformação das redes sociais
Inácio lembrou que, no início, as redes sociais eram espaços de interação cultural, esportiva e universitária. “Hoje são ambientes de disputa política, de embate mesmo”, explicou, evidenciando a mudança do papel das plataformas no cenário nacional.
Entender os mecanismos das redes
A compreensão de como funcionam os algoritmos e os mecanismos das redes sociais é, para ele, essencial. “Não é por acaso que forças da extrema-direita, grupos antidemocráticos, se ampliaram tanto nesse meio”, alertou.
O lucro como lógica das plataformas
A lógica empresarial das redes também foi destacada. “Estamos falando de empresas privadas que querem lucrar. E vão lucrar com aquilo que gera mais permanência nas plataformas, com o que causa mais engajamento”, afirmou, em sintonia com a fala do pesquisador Ergon.
Romper as bolhas — inclusive territoriais
Inácio defendeu o uso estratégico das plataformas para romper bolhas sociais e territoriais. “Temos que ir para as redes sociais com o objetivo de romper bolhas”, reforçou.
Onde estão os trabalhadores hoje?
Ao discutir o desafio da comunicação sindical, Inácio apontou as dificuldades de acesso aos locais de trabalho. “Nem sempre o sindicato consegue entrar no local de trabalho. Nem sempre é possível ter contato direto.”
Uma experiência marcante no passado
Ele compartilhou uma lembrança marcante da juventude militante, quando participou da venda de jornais na porta da fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo. “Foi uma das cenas mais impressionantes que já vi: quase a cidade inteira saindo de dentro da fábrica.”
A nova arquitetura das empresas
Hoje, no entanto, a realidade é diferente. “As empresas criaram estratégias para dificultar esse contato. Os trabalhadores muitas vezes nem entram pelo portão principal”, disse, referindo-se a uma “nova arquitetura” que impede a interação direta com a categoria.
Onde encontramos os trabalhadores hoje?
Para Inácio, o desafio agora é saber onde encontrar os trabalhadores: “No bairro, na pelada de futebol, no clube, nas redes sociais.”
A fala de Inácio reforçou a urgência de repensar as estratégias de comunicação sindical frente às transformações digitais e sociais dos últimos anos.