O presidente dos EUA, Donald Trump, se elegeu prometendo um forte crescimento da economia para tornar o país imperialista “grande de novo” com base numa política protecionista e xenófoba. Os fatos, de outro lado, caminham na direção oposta aos propósitos anunciados pelo líder da extrema direita.
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos registrou uma queda anualizada de 0,2% no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a segunda estimativa divulgada nesta quinta-feira (29) pelo Departamento de Comércio. Um recuo acentuado em relação ao quarto trimestre de 2024, quando a produção teve uma expansão anualizada de 2,4%.
O resultado é interpretado por analistas como um sinal de que uma recessão pode estar a caminho na maior economia capitalista do mundo, com o estímulo adicional das políticas erráticas da Casa Branca, como é o caso do bizarro vai e vem do chamado tarifaço.
O contraste com a China é notável: o PIB chinês cresceu 5,4% no mesmo período, reafirmando a tendência do desenvolvimento desigual entre os dois países, força motriz tanto da decadência dos EUA quanto da ascensão do gigante asiático.
Inflação
No sentido inverso do PIB, a inflação na terra do Tio Sam está em alta, o que é uma aparente anomalia característica do fenômeno designado de estagflação.
O núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que desconsidera preços de alimentos e energia, aumentou ao ritmo anualizado de 3,4% no primeiro trimestre nos Estados Unidos, acelerando ante o avanço de 2,6% do trimestre anterior, segundo o Departamento de Comércio.
Dado o peso extraordinário das importações no consumo parasitário da sociedade estadunidense é de se esperar que o tarifaço de Trump, ainda que diluído pelos recuos do governo e decisões judiciais, contribua para a alta dos preços das mercadorias, agravando o quadro inflacionário, o que pode resultar em aumento das taxas de juros.
Anticomunismo temperado com xenofobia
Na quarta-feira (28), o secretário de Estado, Marco Rubio, anunciou que os EUA vão revogar vistos dos estudantes chineses, principalmente daqueles que possuem ligação com o Partido Comunista Chinês e os que estudam em ‘áreas críticas’ associadas ao desenvolvimento tecnológico.
“O Departamento de Estado trabalhará com o Departamento de Segurança Interna para revogar agressivamente os vistos de estudantes chineses”, disse ele.
Além da xenofobia e do ranço anticomunista (que remete aos tempos do infame macarthismo), a medida discriminatória tem por pano de fundo o duelo geopolítico entre Washington, cuja liderança econômica global está se esvaindo, e Pequim, que hoje comanda a maior e mais próspera economia do mundo. O protagonismo do Partido Comunista nesta história é total e faz, de fato, a diferença.
Falsa liberdade
A China condenou com veemência a medida reacionária anunciada por Marco Rubio, que vai na contramão dos interesses e da filosofia de muitos universidades estadunidenses e está inserida no contexto de uma ofensiva fascista de Donald Trump contra as instituições de ensino que não rezam por sua cartilha extremista, como é o caso destacadamente da prestigiada Universidade Harvard.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, declarou nesta quinta (29) que a decisão da Casa Branca em revogar os vistos de estudantes chineses nos Estados Unidos “expõe a mentira da suposta liberdade e abertura” que os imperialistas norte-americanos sempre alardearam.
Em conversa com jornalistas, Ning disse que a medida é “injustificada” e “discriminatória” e que o governo chinês apresentou queixas ao governo liderado por Donald Trump (republicano).
“Os EUA usaram ideologia e segurança nacional como pretexto para a decisão, que fere os direitos e interesses legítimos dos estudantes”, declarou a porta-voz.
E complementou:
“Essa prática politicamente discriminatória dos EUA expõe a mentira da suposta liberdade e abertura que os EUA sempre apregoaram e prejudicará ainda mais sua própria imagem internacional e credibilidade nacional”.
Tensões geopolíticas
O agravamento das tensões geopolíticas entre as duas potências já vinha provocando uma redução no número de estudantes chineses no país presidido pelo líder da extrema direita.
Segundo a Reuters, o número de estudantes internacionais chineses nos EUA caiu para cerca de 277.000 em 2024, em comparação com o pico de aproximadamente 370.000 em 2019.
Nova ordem mundial
A xenofobia e o anticomunismo devem dominar o cenário político internacional ao longo dos próximos anos, radicalizando as lutas de classes e ampliando os riscos de uma Terceira Guerra Mundial, mas não vão conter a China nem deter a marcha da história na direção de um novo arranjo geopolítico.
A ordem imperialista internacional proveniente dos acordos celebrados em Bretton Woods quando a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim, fundada na hegemonia dos EUA, caducou, tornou-se irracional. A prova maior desta demência é a plutocracia instaurada pelo bilionário Donald Trump na Casa Branca.
De acordo com Hegel, o que é irracional, ou seja, o que se opõe à razão e à lógica, está condenado a morrer. A transição no sentido de uma nova ordem mundial tem caráter objetivo e não pode ser interrompida ou revertida por arroubos e bravatas neofascistas.
Umberto Martins
Ilustração: Valor Econômico