“Um movimento sindical paralisado na antessala do governo não ajuda”, alerta Adilson Araújo em IX Encontro de Direito Sindical

Nesta sexta-feira (30), o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, participou do IX Encontro de Direito Sindical, em Maceió – AL, integrando a mesa de debates sobre subcidadania laboral e o nível de sindicalização no Brasil — temas centrais para o movimento sindical diante dos retrocessos nas relações de trabalho e dos ataques à organização dos trabalhadores.

Durante sua intervenção, Araújo traçou um diagnóstico crítico do atual cenário econômico e político brasileiro, apontando entraves estruturais à valorização do trabalho e à reconstrução dos direitos sociais no país.

“O Brasil, sob o anteparo de uma autonomia que nós não temos ao Banco Central, lidera uma taxa de juros que fere qualquer expectativa de um desenvolvimento acelerado, de um desenvolvimento produtivo. Nos tornamos um supermercado do mundo, uma economia de grãos, uma economia de colônias, que pouco agrega valor”, denunciou.

O dirigente cobrou mais ousadia e protagonismo do movimento sindical na interlocução com o governo federal:

“Um movimento sindical paralisado na antessala do governo não ajuda, não contribui para o governo avançar.”

E completou:

“O governo diz que não é hora de dar o cavalo de pau. Mas se a luz amarela acende sempre, é mais do que necessário dar o cavalo de pau. Porque, se não levantar agora, o carro pode não levantar mais.”

Araújo também destacou a queda acentuada do nível de sindicalização nas últimas décadas. Lembrou que, nos anos 1980, a taxa era de cerca de 30%, enquanto dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que, entre 2005 e 2015, o índice caiu para cerca de 20%.

“Essa relação com a política mais geral afeta o movimento espiritual [de luta] dos trabalhadores”, observou.

Ao abordar a experiência no setor bancário, onde atuou por mais de 35 anos, o presidente da CTB defendeu o direito de cada categoria decidir sua forma de sustentação financeira e elogiou os avanços da negociação coletiva no setor financeiro. No entanto, ele alertou que a maioria dos setores econômicos “não está disposta a permitir a subsistência digna das categorias”.

Araújo também relembrou a participação do movimento sindical na transição do governo Lula, enfatizando que não se trata de uma relação “subterrânea”, mas sim de uma interlocução legítima com o projeto político que venceu nas urnas. Segundo ele, é hora de pressionar por medidas concretas:

“Meu compromisso é fortalecer a negociação coletiva, regulamentar o trabalho por aplicativo, mexer na tabela do imposto de renda e comprar a briga com esse negócio dos juros.”

Por fim, apontou a contradição de o Brasil, mesmo tendo figurado entre as seis maiores economias do mundo, não ter consolidado um Estado de bem-estar social:

“Não estamos falando de comunismo. As etiquetas estão aí: a China está aí. Nós queremos entrar na Rota da Seda. Por que não? Queremos sair do amargurado e fortalecer nossa paixão sofrida.”

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