Por Adilson Araújo, presidente da CTB
Submissos ao xerifão global do imperialismo, Donald Trump, os países membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com a honrosa exceção da Espanha, decidiram ampliar os gastos militares de 2% para 5% de seus PIBs durante a cúpula da instituição realizada na Holanda nesta quarta-feira (25).
Conforme informações da mídia, o acordo foi costurado sob forte pressão dos EUA, o país que mais gasta com armas tanto na comparação com os demais integrantes da aliança como com o restante do mundo, respondendo por cerca de 40% dos gastos militares globais.
Terceira Guerra Mundial?
A decisão da OTAN, aprovada com a presença de Trump, põe mais lenha na corrida armamentista e, acompanhada da retórica belicosa de alguns líderes imperialistas, pavimenta o caminho de novas aventuras militares e amplia consideravelmente os riscos de uma Terceira Guerra Mundial, que pode muito bem ser a última, dado o potencial destrutivo acumulado pelas potências militares.
É preciso lembrar que a OTAN foi fundada em 1949, após a Segunda Guerra Mundial, como uma aliança militar com o pretexto de promover a defesa coletiva e a segurança mútua entre seus membros contra supostas ameaças da União Soviética e para manter a estabilidade na Europa.
Em resposta, os países do bloco socialista liderados pela União Soviética fundaram o Pacto de Varsóvia, em 1955, uma aliança militar criada para se contrapor à aliança militar imperialista hegemonizada pelos Estados Unidos. As tensões entre os dois blocos configurou o que foi designado à época de guerra fria.
Expansão da OTAN
Em 1991, a União Soviética foi destruída por iniciativa de Boris Yeltsin, um líder político russo lacaio do imperialismo que, com as graças do Ocidente, fechou o Parlamento e impôs à Federação Russa reformas radicais inspiradas no neoliberalismo e orientadas por Washington que provocaram uma profunda queda do PIB (estimada em mais de 50%) e reduziram a perspectiva de vida dos russos.
A guerra fria acabou e era de se esperar que a OTAN, criada segundo a narrativa do imperialismo anglo-americano para neutralizar a suposta ameaça soviética (que nunca passou de uma teoria da conspiração) também deveria ser dissolvida. Não foi isto que aconteceu.
Agindo na direção contrária à expectativa gerada com o fim da guerra fria, os líderes da aliança militar imperialista aproveitaram a embriaguez da Rússia, que sob Boris Yeltsin perdeu a noção de identidade nacional, para avançar pelo Leste europeu açambarcando vários dos países que integravam a extinta União Soviética e o Pacto de Varsóvia.
Guerra híbrida
A estratégia foi azeitada pelo desencadeamento do que analistas russos caracterizam como guerra híbrida, fomentando as chamadas revoluções coloridas, golpes de Estado e mudança de regimes.
O fato é que após o fim da URSS e do Pacto de Varsóvia, a OTAN incorporou 14 novos países: 12 ex-membros do Pacto de Varsóvia e duas ex-repúblicas soviéticas. Entre as façanhas desta época conta a destruição da Iugoslávia. Em março de 1999, a aliança lançou uma campanha aérea contra a antiga Iugoslávia, que durou 78 dias, promovendo então a maior operação militar em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Para justificar a corrida às armas, líderes imperialistas da Europa disseminam a russofobia e voltam a apelar para a teoria da conspiração, alardeando que o conflito da Ucrânia sinaliza a intenção da Rússia de iniciar uma guerra contra as nações europeias. Isto não corresponde à verdade dos fatos, uma vez que a guerra no leste europeu foi causada precisamente pela expansão da OTAN, interpretada corretamente como uma ameaça à segurança russa.
Luta de classes
A decisão de aumentar os gastos militares não vai interromper e muito menos reverter a marcha fúnebre da decadência do Ocidente, mas podem apostar que vai aprofundar as contradições sociais e as lutas de classes no velho continente.
Os recursos dos Estados capitalistas integrantes da OTAN são finitos e não são produzidos pelos governos, mas subtraídos do conjunto da sociedade por meio de taxas e impostos. O crescimento substancial dos gastos militares terá por contrapartida a intensificação da ofensiva contra o já debilitado Estado de Bem Estar Social e mudanças regressivas nos direitos trabalhista e previdenciário, como a reforma da Previdência recentemente imposta por Macron na França.
A classe trabalhadora não ficará passiva. Vai ter luta. O resultado da cúpula da aliança imperialista é mais um alerta aos povos para a necessidade de lutar por uma nova ordem internacional orientada para a solução pacífica dos conflitos internacionais, o multilateralismo e o fim do imperialismo, sob o qual, como já dizia Lênin, a guerra é inevitável.