Para Marson, apoio dá liberdade para premiê israelense intensificar ataques e minar a criação de um Estado palestino
A professora de Relações Internacionais Ana Carolina Marson, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), classifica o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, como um agente desestabilizador no Oriente Médio. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ela explica que o apoio incondicional dos Estados Unidos é um dos fatores que garantem a liberdade de ação do governo israelense na região.
“Israel se sente muito ameaçado e Netanyahu acaba se valendo do apoio que recebe dos Estados Unidos. E aqui precisamos destacar que esse apoio acontece independente de quem esteja no poder, seja republicano, seja democrata”, afirma. “Ele sente que tem bastante liberdade de ação justamente por isso”, complementa.
A avaliação foi feita após a reunião televisionada entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e Netanyahu, que discutiu um possível cessar-fogo na Faixa de Gaza. Marson demonstrou ceticismo sobre a iniciativa. “Trump já prometeu uma série de cessar-fogos. […] É uma pessoa de muita bravata, com uma fala muito forte, mas que não necessariamente se transcreve em ações”, indica.
Embora não confirme a existência de acordos secretos entre Netanyahu e Trump, Marson afirma que o premiê se aproveita da aliança com Washington para intensificar ataques contra o que considera ameaças. “Atacou os Houthis no Iêmen; a Faixa de Gaza por causa do Hamas; o Irã, focando o programa nuclear iraniano. […] Ele se vale desse apoio para desestabilizar quem considera uma ameaça”, cita.
Cessar-fogo político
Apesar disso, ela acredita que a chance de um cessar-fogo ser efetivado é maior neste momento devido à mudança na postura do premiê israelense. “A única pessoa que pode parar isso agora é Benjamin Netanyahu. Então o fato de ele estar disposto, nem que seja para salvar a sua popularidade, […] pode dar o indício de um desejo dele de um cessar-fogo”, avalia.
Para a professora, no entanto, essa disposição não representa uma preocupação genuína com a população palestina. Ela critica, por exemplo, a proposta de Netanyahu de “dar um futuro melhor aos palestinos” por meio da busca de países que possam recebê-los fora de Gaza. “Ele já deixa muito claro que não quer os palestinos em Israel, nos territórios de Gaza e Cisjordânia. […] Essa fala é seríssima porque os palestinos não querem sair da Faixa de Gaza. Aquela é a terra deles”, aponta.
Marson lembra que Netanyahu tem um longo histórico de ações que buscam inviabilizar a criação de um Estado palestino. “Ele promove ataques a pessoas em filas de ajuda humanitária e a hospitais, o assentamento de israelenses em territórios da Faixa de Gaza, a derrubada de casas de palestinos. […] Ele só quer acabar com o que considera ser um problema”, analisa.
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