Diz a mitologia egípcia que Toth foi um importante Deus da sabedoria. A ele próprio, a mitologia credita a invenção da escrita. Portanto, o Deus da escrita. Certa feita, Toth se perguntou sobre como deixar para a posteridade as regras de um jogo com o qual lidava na ocasião. Teria aí pego um caniço de madeira com tinta e começado a desenhar símbolos para tudo que conhecia… passou horas, dias, meses fazendo este exercício. Quando entendeu ter registros suficientes, foi até Rá (Deus Sol – o maior de todos) mostrar a novidade. Rá indaga a Toth sobre os diversos riscos de dispensar o uso da memória para lembrar de certas coisas e, depois de longa conversa, Toth convence o Deus Rá da viabilidade de sua invenção.
Mostrou que o que era lembrado (às vezes de forma até imprecisa) agora estaria perfeitamente guardado para a eternidade por meio da escrita. Desta forma, as energias para viver, lembrar, transmitir e memorizar tudo o que iria estar escrito poderiam ser usadas em outros pensamentos e desafios novos para compreensão das inúmeras coisas da vida.
A Inteligência Artificial nos traz uma aflição parecida com a de Rá. Se deixarmos tarefas dos feitos da inteligência humana para as máquinas deixaremos de pensar? Iremos atrofiar intelectualmente ou passaremos a ter mais preguiça de pensar? A aflição é digna de quem tem preocupação com a humanidade. Mas é também verdadeiro afirmar duas questões:
A primeira delas é que as forças produtivas se valem dos avanços tecnológicos para seguir cada vez mais capazes de transformar a natureza. No capitalismo, o fazem guardando o aumento de lucros e a consequente acumulação de riquezas por parte de um setor da sociedade que detém o controle dos meios de produção. Enquanto isso o trabalho da maioria é posto para produzir mais e mais com contínua diminuição de seus custos visto que a própria tecnologia se impõe cada vez mais eficiente e incansável. Noutras palavras, quem domina os meios de produção aposta nos avanços tecnológicos para gastar menos com o trabalho.
Em segundo lugar, do lado dos setores mais afetados com avanços tecnológicos como a Inteligência Artificial (AI), os trabalhadores devem ter claro que, lembrando o velho e bom Belchior, “o novo sempre vem!”. Vamos recorrer à história? No começo da Revolução Industrial, na Inglaterra surge um movimento chamado Luddismo que implicava em destruir máquinas que já substituíam o trabalho humano em alguns setores. A culpa das mazelas da época era em certo aspecto colocada na conta dos avanços tecnológicos na vida industrial. Depois de muitas indústrias destruídas em alguns países do mundo o movimento foi fortemente reprimido, as leis endureceram contra os trabalhadores e (principalmente) os proprietários das indústrias aplicaram a mais-valia acumulada em mais tecnologia. Desde então, as máquinas que chegam são cada vez mais eficientes e com maior poder de produção.
Assim, a questão não é negar a AI, evitar ou combater. Se faz necessário disputar sua propriedade. Utilizar, dominar e desenvolver a Inteligência Artificial a tal ponto que se possa tomá-la para as nossas causas. O nosso desafio é aplicar os recursos infinitos da AI para suavizar a rotina no labor e reduzir a jornada de trabalho que é cada vez mais escorchante em muitos setores do mundo do trabalho.
Como Toth e Rá devemos olhar com coragem e ousadia para a Inteligência Artificial.
*Por Professor Elton de Aquino Arruda
Secretário Adjunto da Secretaria de Formação do Sinte – PI
@professoreltonarruda