Por Adilson Araújo, presidente da CTB
Muito se reclama da baixa produtividade do trabalho no Brasil. De fato, isso constitui um problema de grande relevância para a economia e o desenvolvimento nacional.
Muito pouca atenção se concentra, por outro lado, nas interações deste fenômeno com a saúde, a educação e a segurança dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.
Sociedade enferma
Em nossa querida pátria, 30% da classe trabalhadora sofrem da síndrome de burnout. Uma pesquisa da ISMA-BR de 2023 revelou que 72% dos brasileiros estão estressados no trabalho. São dados que retratam uma sociedade enferma.
Dados da ONU também mostram um aumento de 134% nos afastamentos por problemas de saúde mental no Brasil, com reações ao estresse, colhido no ambiente de trabalho, sendo uma das principais causas.
Face aos prejuízos com a saúde, a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2019) estima que cada dólar investido em segurança e saúde no trabalho pode gerar até quatro dólares em retorno econômico devido à redução de afastamentos e aumento da produtividade do trabalho.
Jornada excessiva
Em nosso país, um fator determinante dos índices alarmantes de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e seus relevantes prejuízos econômicos é a jornada de trabalho excessiva.
Cumpre destacar a desumana escala 6×1, à qual hoje estão submetidos, no mercado formal de trabalho, cerca de 33 milhões de brasileiros e brasileiras, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
O cansaço, o desânimo e alterações cognitivas estão entre os prejuízos à saúde associados à desumana escala 6×1, conforme alertou o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Helian Nunes. Problemas cardiovasculares podem surgir devido ao estresse e à falta de repouso.
É comum, também, segundo o especialista, que trabalhadores deste tipo de jornada apresentem lesões musculoesqueléticas, como a LER (lesão por esforço repetitivo), fadiga crônica e distúrbios osteomusculares. Ainda segundo o professor, a saúde mental dos trabalhadores também é comumente afetada.
“Para mim, o principal efeito seria o sofrimento mental. Esse sofrimento mental pode ocasionar transtornos de ansiedade e depressão, e até alterações cognitivas. Muitas vezes, esses trabalhadores nos buscam falando que estão com demência, problema de memória”, acrescenta Helian Nunes.
Longas jornadas são, ainda, uma das principais, senão a principal, causas dos acidentes de trabalho. No ano passado, foram registradas 742,2 mil notificações de acidentes de trabalho no país.
Saúde e educação
Solucionar os problemas crônicos de saúde que acometem a classe trabalhadora brasileira é um imperativo para o avanço da produtividade do trabalho e o desenvolvimento nacional. O combate ao trabalho exaustivo e a redução da jornada de trabalho sem redução de salários são caminhos incontornáveis nesta direção.
Outro benefício da redução da jornada é a liberação de tempo livre para que o trabalhador possa se dedicar ao estudo e à formação profissional, o que também é essencial para elevar a produtividade do trabalho.
Apoiada por 71% da população brasileira e ansiada por dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo o país, o fim da escala 6×1, com a redução da jornada para 36 horas semanais, entrou na ordem do dia e, graças à força da mobilização social, é agora alvo de acalorados debates no Congresso Nacional.
A nação brasileira está atrasada neste sentido, visto que em muitos países já não se pratica a escala 6×1, e o que está em tela é a implantação da escala 4×3, pela qual se trabalha quatro dias na semana contra três de descanso.
Reação do capital
Bandeira histórica da classe trabalhadora, a regulação e redução da jornada de trabalho sempre esbarrou numa feroz resistência dos capitalistas e só prevalece como resultado de uma árdua luta de classes.
Desta vez não será diferente. O patronato já se manifestou contra as propostas em tramitação no Congresso Nacional e, na Câmara Federal, 70% dos deputados também manifestaram posição contrária à classe trabalhadora.
Cabe ao movimento sindical e à classe trabalhadora intensificar a campanha pelo fim da escala 6×1 para, por meio da mobilização social, reverter o cenário no Parlamento e conquistar o fim da desumana escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais sem redução de salários.