Estudo analisa a onda de pedidos de demissão no Brasil e revela que a busca por uma “vida além do trabalho” tem sido um dos principais motivos para o rompimento de vínculos formais. Jornadas longas, baixos salários e adoecimento físico e mental estão entre as causas mais recorrentes.
O fenômeno da Grande Demissão, que ganhou destaque nos Estados Unidos após a pandemia de Covid-19, também se consolidou no Brasil — e com características próprias. De acordo com o estudo “Fractais do tempo: jornadas, sofrimento e a Grande Demissão no Brasil”, assinado por Cássio da Silva Calvete, Luciane Franke e Tiago Pinheiro, os pedidos de demissão no país vêm crescendo de forma contínua desde 2020 e atingiram recorde histórico em abril de 2024, com 734 mil desligamentos voluntários, um aumento de 29% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Esgotamento e desigualdade
A pesquisa mostra que, além da busca por melhores oportunidades, as principais razões que levam trabalhadores a pedir demissão estão ligadas à precarização das relações de trabalho: baixos salários, sobrecarga, assédio e falta de reconhecimento. O levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego também revelou que 31,2% dos entrevistados relataram adoecimento físico ou mental, principalmente entre as mulheres — grupo que, junto aos jovens, lidera o número de pedidos de desligamento.
Tempo de trabalho como centro da disputa
Para os autores, a Grande Demissão reflete uma resistência silenciosa diante de um modelo produtivo cada vez mais extenuante. A análise entende o tempo de trabalho como um “fractal do tempo”, ou seja, uma dimensão que espelha as contradições da vida social. Assim, reduzir jornadas e repensar escalas — como a atual 6×1 — é também lutar pelo direito de se apropriar do próprio tempo.
“Toda forma de resistência contra gestões que tornam o trabalho mais extenso e intenso faz parte da luta dos trabalhadores pela apropriação do seu tempo”, afirmam Calvete, Franke e Pinheiro.
Por uma vida além do trabalho
O estudo conclui que o fenômeno da Grande Demissão não se trata apenas de uma estatística econômica, mas de um movimento social difuso, marcado por decisões individuais que expressam a busca por dignidade, saúde e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
A chamada “vida além do trabalho”, defendida em diversos movimentos contemporâneos, vem se tornando um símbolo de resistência diante da exploração e da precarização que ainda marcam o mercado de trabalho brasileiro.
 
								 
											


 
															