Matéria baseada em dados divulgados pelo IBGE em 19/11/2025
A taxa de sindicalização no Brasil voltou a crescer pela primeira vez desde 2012, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento integra o módulo Características Adicionais do Mercado de Trabalho da PNAD Contínua e mostra que, em 2024, 8,9% dos trabalhadores ocupados eram filiados a sindicatos — um total de 9,1 milhões de pessoas.
O resultado interrompe uma sequência de reduções iniciada em 2016 e marca um aumento de 9,8% no contingente de sindicalizados em relação a 2023, quando o país registrou o menor índice da série histórica: 8,4% (8,3 milhões de trabalhadores).
Para a CTB, o avanço reforça a importância da reorganização sindical em defesa dos direitos trabalhistas, da valorização profissional e da reconstrução do diálogo social no país.
Crescimento após anos de retração
Segundo o IBGE, todos os grupamentos de atividades registraram aumento nas taxas de sindicalização em 2024 — com exceção de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, que teve leve queda de 0,2 ponto percentual.
Os setores com maior alta foram:
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Administração pública, defesa e seguridade social, educação, saúde e serviços sociais: 15,5% (+1,1 p.p.)
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Indústria geral: 11,4% (+1,1 p.p.)
Comércio e serviços também avançaram, ainda que com taxas abaixo da média nacional.
Apesar da melhora em 2024, todos os setores acumulam recuo em relação a 2012 — reflexo dos impactos das reformas regressivas, da precarização das relações de trabalho e da queda na formalização.
Setor público e trabalhadores com carteira puxam alta
O estudo mostra que a retomada da sindicalização foi mais intensa entre categorias historicamente mais organizadas:
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Empregados do setor público: 18,9% (alta frente aos 18,3% de 2023)
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Trabalhadores com carteira assinada no setor privado: 11,2% (contra 10,1% no ano anterior)
Já entre trabalhadores sem carteira (3,8%) e empregados domésticos (2,6%), as taxas continuam muito baixas.
Para os pesquisadores, isso indica que a precarização atinge todos os segmentos, mas com maior impacto nos mais vulneráveis.
Avanço nas regiões Sul e Sudeste impulsiona média nacional
O IBGE aponta que o aumento da taxa de sindicalização foi impulsionado especialmente por:
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Sul: 9,8% (+0,5 p.p.)
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Sudeste: 9,2% (+1,3 p.p.)
O Nordeste foi a única região onde a sindicalização feminina (10%) superou a masculina (8,9%). Nacionalmente, a diferença entre homens e mulheres sindicalizados caiu para 0,4 ponto percentual — a menor da série.
Sindicalizados têm mais escolaridade
Do total de sindicalizados:
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37,5% concluíram o ensino médio
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37,2% têm ensino superior completo
A maior taxa de sindicalização foi registrada entre trabalhadores com nível superior (14,2%). Apesar disso, este grupo também acumulou a maior queda histórica desde 2012.
Informalidade e CNPJ: radiografia do trabalho autônomo
O levantamento revela ainda que 33,6% dos trabalhadores por conta própria e empregadores estavam registrados no CNPJ em 2024 — o segundo maior índice da série histórica.
Entre os trabalhadores por conta própria:
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25,7% têm CNPJ
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Apenas 4,3% são associados a cooperativas de produção — menor nível histórico
A Região Sul registra os maiores percentuais de trabalhadores associados a cooperativas (8,2%).
CTB: dados reforçam urgência de fortalecer a organização sindical
Para a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, os dados confirmam a importância da ação sindical na retomada do crescimento da sindicalização e na luta contra a precarização.
A CTB avalia que o avanço em setores estratégicos como indústria, educação, saúde e serviço público evidencia um movimento de reorganização da classe trabalhadora após anos de ataques aos direitos e enfraquecimento das estruturas sindicais.
A Central também destaca que a ampliação da formalização e a retomada do emprego contribuem para estimular o engajamento dos trabalhadores.
Fonte
IBGE – PNAD Contínua: Características adicionais do mercado de trabalho 2024. Publicado em 19/11/2025. Texto por Jana Peters e Marília Loschi; arte de Claudia Ferreira e Licia Rubinstein.


