A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) vem a público manifestar seu veemente repúdio à reportagem veiculada no Jornal Nacional da Rede Globo no dia 24 de novembro de 2025, que, mais uma vez, reforça uma narrativa parcial, seletiva e distorcida sobre a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). A matéria omitiu informações essenciais, ocultou dados públicos disponíveis e acolheu sem qualquer contraponto o discurso privatista que tenta deslegitimar uma empresa estratégica para a soberania e a integração nacional. Trata-se de um movimento que se repete há anos e que atende a interesses muito específicos do mercado, não do povo brasileiro.
A CTB denuncia o desequilíbrio informativo que domina o debate público sobre os Correios. Grande parte dos veículos de comunicação repete como verdade absoluta a tese da privatização, oferecendo espaço exclusivamente a economistas liberais e porta-vozes empresariais enquanto silenciam trabalhadores, pesquisadores, lideranças sindicais e especialistas da área postal. Essa omissão deliberada constrói artificialmente uma sensação de consenso, quando na verdade o que existe é uma intensa disputa política e ideológica mascarada de “reportagem neutra”.
A verdade que a reportagem não contou — e que deveria ter sido apresentada ao público — começa pelo mito da ineficiência. A narrativa de que os Correios seriam “uma estatal cara e ineficiente” é desmentida por dados concretos que a grande mídia insiste em ignorar. A empresa registra resultados positivos consecutivos desde 2019, tem um dos menores custos postais do mundo, expandiu sua competitividade na logística do e-commerce e, sobretudo, é a única instituição presente em todos os 5.570 municípios brasileiros — algo que nenhuma empresa privada pretende assumir, porque a universalidade postal é uma obrigação constitucional que somente o Estado cumpre. A iniciativa privada não entrega correspondência no interior do Amazonas, do Piauí, das aldeias indígenas ou das comunidades ribeirinhas porque nesses locais não há lucro possível. Os Correios entregam porque esse é seu papel público.
Ao omitir esse conjunto de informações, a reportagem também ignorou um dado central: entre 2000 e 2025, os Correios registraram lucro em 18 de 27 anos e repassaram, corrigidos pelo IGP-M, mais de R$ 13,8 bilhões aos cofres da União. Esses recursos fortaleceram o caixa do governo ao longo de décadas às custas da própria empresa, justamente os resultados que agora são desconsiderados para sustentar a narrativa de crise permanente. A queda de receitas registrada nos últimos anos, ao contrário do que insinuou o Jornal Nacional, não se deve a uma suposta incapacidade da estatal, mas sim às rápidas transformações no mercado de e-commerce, à concorrência desleal de plataformas internacionais, a mudanças regulatórias que transferiram parte significativa do setor de remessas internacionais para operadores privados, à ausência de investimentos federais por décadas e a decisões administrativas equivocadas de gestões anteriores. Nada disso foi mencionado pela emissora.
A reportagem também citou que “89% das agências são deficitárias” para insinuar ineficiência, mas omitiu o ponto central: esse número não revela falha de gestão, e sim o cumprimento da lei. Os Correios são responsáveis por manter atendimento presencial e operação logística mesmo em regiões onde a atividade é deficitária — obrigação definida pelo modelo de universalização postal brasileiro. A iniciativa privada opera somente onde é lucrativo; a estatal opera onde é necessário. Defender o fechamento de agências deficitárias, como sugerido de forma irresponsável pelo economista entrevistado, significaria abandonar milhões de brasileiros, romper a política de universalização e aprofundar desigualdades regionais.
Também não foi informada a interferência direta das mudanças recentes na legislação sobre remessas internacionais, especialmente com a implementação de normas que retiraram dos Correios a prioridade no desembaraço de pacotes e deslocaram o fluxo de milhões de encomendas para sistemas privados, como o Remessa Conforme. Essa perda artificial de receita foi ignorada pelo Jornal Nacional, embora seja determinante para compreender a conjuntura atual da empresa.
A cobertura omitiu ainda o papel social dos Correios: a distribuição de toneladas de donativos às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul em 2024; a entrega anual de milhões de livros didáticos; a logística do ENEM em mais de 1.700 cidades; a devolução de valores a aposentados vítimas de fraude; a emissão de CPF em parceria com a Receita Federal; e o fato de que, em milhares de municípios, os Correios são o único equipamento do Estado presente fisicamente. Essa não é uma empresa deficitária: é uma empresa que cumpre missão pública.
As dificuldades enfrentadas pela empresa nos últimos anos são consequência direta do processo de precarização promovido pelos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, que congelaram investimentos, paralisaram concursos, retiraram direitos e construíram um discurso permanente de desgaste com o objetivo de criar artificialmente as condições políticas necessárias para justificar a privatização. Fabricou-se o problema para vender a solução.
Nesse contexto, o presidente do SINTECT-SP e diretor da CTB, Elias Diviza, rebateu de forma contundente a tentativa de deslegitimar a estatal e ressaltou a urgência de medidas concretas do poder público. “Não há como discutir os Correios sem falar do sucateamento deliberado que a empresa sofreu nos últimos anos. Criaram dificuldades para vender facilidades. A narrativa de crise permanente é construída para justificar privatização. O que os Correios precisam não é de ataques, mas de um aporte emergencial do governo federal, de investimentos estruturantes e de uma política pública que devolva à estatal sua capacidade plena de operação. Os trabalhadores seguem fazendo a sua parte. Agora é preciso que o Estado cumpra a sua e proteja esse patrimônio estratégico do povo brasileiro”, afirmou.
Defender os Correios é defender a universalidade postal, a integração nacional, o acesso igualitário a serviços essenciais, a logística pública de vacinas, livros didáticos, provas, urnas, medicamentos e políticas públicas, além da soberania do país sobre uma infraestrutura estratégica. Não está em debate apenas uma empresa, mas o modelo de Estado que o Brasil deseja.
A CTB reafirma sua defesa dos Correios 100% públicos, o compromisso incondicional com as trabalhadoras e os trabalhadores da ECT e a importância de uma logística estatal robusta, universal e estratégica. Reitera seu repúdio à cobertura parcial, enviesada e alinhada aos interesses do mercado realizada pela Rede Globo e demais veículos que insistem em promover a narrativa privatista. Exige que a mídia cumpra seu papel democrático, garantindo o contraditório e respeitando o direito à informação correta e contextualizada, ouvindo especialistas independentes, pesquisadores, trabalhadores e entidades da sociedade civil. O Brasil precisa de jornalismo responsável, não de propaganda.
Os Correios são patrimônio do povo brasileiro. Privatizá-los é romper com o compromisso histórico de soberania nacional.


