Durante reunião realizada em São José (SC), nos dias 11 e 12, a CTB aprovou uma resolução política que situa a luta contra o imperialismo e sua alma gêmea, a extrema direita, no centro da tática do sindicalismo classista para 2026, ano de uma batalha política e eleitoral crucial para os destinos da nação e da classe trabalhadora brasileira. A central classista reiterou a solidariedade aos governos e aos povos da Venezuela e Cuba. Leia a íntegra do documento:
Resolução Política da Direção Nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
1- O Ano Novo que se aproxima será palco de embates decisivos entre a extrema direita e as forças democráticas e progressistas e anuncia desafios vitais para a CTB e a classe trabalhadora no Brasil e no mundo;
2- A conjuntura segue marcada pela continuidade e agravamento da crise geopolítica decorrente do declínio e decomposição da ordem mundial hegemonizada pelos EUA;
3- É notório o acirramento das contradições sociais, a polarização política e a radicalização das lutas de classes em todos os âmbitos;
4- O imperialismo em crise mostra-se ainda mais arrogante e perigoso, como sugere o recrudescimento das agressões neocolonialistas dos Estados Unidos, cujo principal alvo é a América Latina e o Caribe, que os imperialistas de Washington consideram como uma extensão do próprio território, ou um mero quintal;
5- As chantagens, pressões e ameaças terroristas contra a Venezuela e o governo bolivariano liderado por Nicolás Maduro, ao lado da intensificação do criminoso bloqueio econômico imposto a Cuba, são expressões desta nova realidade;
6- O Brasil também tem sido vítima da Casa Branca, que nos impôs tarifas injustas e contraproducentes (funcionaram como um tiro no pé e estão sendo retiradas), aliadas a sanções contra Alexandre de Moraes (depois retiradas) e outros ministros do STF, com o alegado e fracassado propósito de evitar a condenação e prisão do golpista Jair Bolsonaro;
7- A luta contra o imperialismo e em defesa do direito à autodeterminação das nações entrou na ordem do dia no continente americano e está obviamente associada ao embate contra a extrema direita, que vestindo a fantasia cínica do falso patriota, constitui a quinta coluna de Donald Trump e apela despudoradamente à intervenção de Washington contra os povos da região;
8- Derrotar o imperialismo pressupõe derrotar a extrema direita, tarefa que é hoje e provavelmente será pelos próximos anos o principal desafio das forças democráticas e progressistas, incluindo o movimento sindical, no Brasil e em muitos países, conforme indica resolução aprovada no 6º Congresso da nossa Central;
9- Em contraposição à decadência e decomposição da ordem imperialista, observa-se a ascensão da China e do Brics, desenhando os contornos de uma nova ordem mundial, com perspectivas promissoras para os países mais pobres, oprimidos pelo tacão neocolonialista do imperialismo;
10- Os EUA e as potências reunidas no alquebrado G7, embora em franca decadência, não abrem mão da hegemonia mundial e prometem fazer de tudo para preservá-la. Conter a ascensão da China e do Brics é o objetivo primordial da política externa estadunidense. Tudo isto fornece combustível à crise geopolítica atual, que evolui entrelaçada com as depressões cíclicas e a semi-estagnação das economias capitalistas, e ainda parece muito longe de um desfecho. Por essas razões, a transição na direção de um novo arranjo geopolítico é caracterizada pelo agravamento das contradições do sistema imperialista inaugurado no século passado pelas potências capitalistas ocidentais. Destaca-se, neste contexto, a escalada da corrida armamentista, que atiça os focos de tensão internacional despertando a possibilidade de uma terceira guerra mundial;
11- Agravando este cenário geopolítico, a crise climática avança em meio à desordem global sem muitas esperanças de solução nos marcos da atual ordem capitalista mundial, em que pesem os tímidos avanços obtidos na COP30. Como denunciou a Declaração da Cúpula dos Povos em Belém, a raiz da crise é o sistema capitalista. Trump, que não compareceu à COP nem enviou representantes, escuda-se no negacionismo, assim como outros líderes da direita extremista, cuja ascensão política é respaldada e apoiada pelas chamadas big techs;
12- Também prossegue sem solução à vista a guerra no leste europeu entre Rússia e Ucrânia, devido principalmente à forte oposição das potências europeias e da OTAN a um acordo com Moscou, Um cessar-fogo sem o recuo da Rússia é percebido como uma derrota da OTAN e da Europa;
13- Cresce nas atuais circunstâncias a necessidade de lutar por uma nova ordem mundial anti-imperialista, fundada no efetivo multilateralismo, no respeito à soberania das nações, focada na solução pacífica dos conflitos internacionais e no desenvolvimento sustentável e compartilhado das nações. A Direção Nacional da CTB reitera a solidariedade com o povo e o governo cubano, bem como a luta contra o criminoso bloqueio imperialista imposto pelos EUA. Reafirma, igualmente, solidariedade à Venezuela e a Nicolás Maduro, apoio à heroica resistência do povo palestino ao Estado terrorista de Israel e a defesa do estabelecimento e reconhecimento do Estado da Palestina, bem como o apoio à justa luta do Povo Saaraui e da Frente Polisário pela independência nacional;
CONJUNTURA NACIONAL
14- No Brasil, o ano de 2025 foi coroado pela condenação e prisão de Jair Bolsonaro e militares de alta patente pela empreitada golpista que culminou na invasão e vandalização das sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de Janeiro de 2023. O resultado do julgamento, inédito em nossa história, fortalece a democracia e a soberania nacional, mas seria precipitado interpretá-lo como o ponto final da ameaça neofascista que continua pairando sobre o país, contando com o apoio do chefe da Casa Branca;
15- O tarifaço imposto pelos EUA às exportações brasileiras, a título de protesto contra o julgamento de Bolsonaro, acabou se revelando um tiro no pé e está sendo revertido após negociações entre os presidentes Lula e Donald Trump;
16- Apesar dos obstáculos impostos pelas políticas monetária e fiscal, o desemprego no Brasil atingiu seu menor nível da série histórica (desde 2012), chegando a 5,4% no trimestre encerrado em outubro, segundo o IBGE;
17- O comportamento positivo do mercado de trabalho e a resiliência da economia refletem políticas governamentais progressistas, como é o caso da política de valorização do salário mínimo, associado ao Bolsa Família e programas como o MCMV, PAC e Nova Indústria Brasil, entre outros. Essas políticas fortaleceram o mercado interno, ampliando a oferta de empregos e impulsionaram a demanda agregada;
18- Por outro lado, o PIB ficou praticamente estagnado no terceiro trimestre deste ano, frente ao segundo trimestre, oscilando 0,1%, segundo dados divulgados pelo IBGE no início de dezembro. Isto é consequência da alta taxa de juros. Com a Selic em 15%, o Brasil pratica a segunda maior taxa real de juros do mundo, o que impacta negativamente tanto o consumo quanto os investimentos, condenando a economia à estagnação;
19- A possibilidade de crescimento mais vigoroso da economia e do bem estar social só poderá ser transformada em realidade com mudanças profundas na política macroeconômica, com destaque para as políticas monetária e fiscal. É preciso acabar com o perverso tripé macroeconômica, reduzindo substancialmente as taxas de juros e spread, administrando o câmbio e ampliando os investimentos públicos;
20- A ofensiva do capital contra o trabalho é uma realidade global no mundo capitalista. Subordinado às relações sociais capitalistas, o aumento da produtividade do trabalho que acompanha a introdução de novas tecnologias no processo de produção e distribuição das mercadorias, ao invés de redundar em redução da jornada, é instrumentalizado pelos grandes capitalistas para destruir o Direito do Trabalho, debilitar o movimento sindical e ampliar a taxa de exploração da força de trabalho. O trabalho nas plataformas, com jornadas excessivas e ausência de garantias, ilustra bem esta dura realidade;
21- Regulamentar as relações trabalhistas neste novo ramo da economia, que surge explorando o formidável exército de desempregados criados pelo capitalismo, é mais um desafio aberto para as forças progressistas que esbarra na intransigência das multinacionais e na correlação de forças adversa no Congresso Nacional. Esses também são os motivos que explicam a persistência do legado de retrocessos impostos à classe trabalhadora e suas organizações pelos governos Temer e Bolsonaro;
22- As iniciativas democráticas e populares do governo Lula despertam forte oposição na classe dominante, que não vão poupar recursos para impedir sua reeleição em 2026;
23- Frente a esta realidade, despertar a consciência política classista e mobilizar amplamente os trabalhadores e trabalhadoras para a luta em defesa dos seus interesses e bandeiras, em defesa da democracia, da soberania e dos direitos sociais, a partir do local de trabalho, é o principal desafio da CTB e do conjunto das forças democráticas e progressistas na presente conjuntura;
23- Nesta direção, é preciso trabalhar pelo êxito da jornada de mobilização proposta pelo Fórum das Centrais, cujo calendário compreende o seguinte:
* Realização de atos nos estados em comemoração à conquista da isenção do IR sobre salários de até R$ 7,2 mil no dia 5 de fevereiro, quando o benefício começará a fazer efeito no bolso dos assalariados;
* 100 dias de campanha nacional unificada pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários e com o fim da desumana escala 6×1. A redução da jornada sem redução de salários para 36 horas semanais é uma pauta estratégica da classe trabalhadora brasileira que conquistou uma importante vitória na CCJ do Senado;
* Realização de uma nova Conferência Nacional da Classe Trabalhadora no dia 15 de abril em Brasília, que deve ser coroada com uma marcha na capital para entrega da Pauta da Classe Trabalhadora ao presidente Lula, bem como aos presidentes e outros representantes do Senado e da Câmara Federal;
* Continuidade e ampliação da luta contra os juros altos, com atos unitários das centrais e movimentos sociais diante das sedes e agências do Banco Central;
* Lutar contra a pejotização, cuja institucionalização pode significar o fim do Direito do Trabalho em nosso país;
* Derrotar a proposta de reforma administrativa em tramitação no Congresso Nacional, denunciá-la como séria ameaça aos servidores e aos serviços públicos. A CTB também manifesta sua oposição à reforma administrativa cogitada pelo governo federal, travestida de reestruturação e aglutinação das carreiras;
24- Reforçar a batalha contra o plano de reestruturação dos Correios centrado no sacrifício do emprego e conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras;
25- A CTB defende a redução do custo da CNH e um trânsito mais seguro, com a redução de taxas que são exorbitantes e com a ampliação dos valores destinados à carteira social, que é gratuita, para as pessoas de baixa renda. Mas não é justo que esta redução seja bancada pelo desemprego dos instrutores e funcionários de Centros de Formação de Condutores, o que infelizmente ocorrerá a partir da resolução aprovada pelo Contran, que acaba com a obrigatoriedade de frequentar autoescolas para tirar a CNH no Brasil;
27- Diante da crescente violência contra as mulheres, explosão dos feminicídios e ataques misóginos nas diversas mídias, a CTB reforça o posicionamento histórico do movimento sindical em defesa da igualdade de gênero, da autonomia econômica e garantia de direitos e combate ao machismo, ao racismo, às desigualdades estruturais e ao feminicídio;
28- A CTB reafirma a reforma agrária como política estruturante para o desenvolvimento nacional, indispensável para garantir acesso à terra, ordenar o território e fortalecer sistemas produtivos sustentáveis. Defende, ainda, políticas públicas que ampliem o apoio à agricultura familiar e assegurem condições de adaptação e resiliência diante da crise climática, promovendo justiça social, ambiental e soberania alimentar;
29- Neste dia (12-12-2025) a CTB comemora 18 anos de existência. Ao alcançar a maioridade, reafirmamos a importância dos princípios que orientaram nossa fundação e constituíram a base sólida que nos permitiu chegar até aqui e seguirão sendo essenciais para o nosso crescimento coletivo: a defesa intransigente dos direitos da classe trabalhadora e de um projeto nacional de desenvolvimento soberano; a unidade de ação do movimento sindical classista, democrática e plural; a defesa da unicidade sindical como elemento estruturante da organização da classe trabalhadora; o compromisso com a justiça social e a igualdade de gênero, raça e geração; a luta pelo fortalecimento do Estado democrático de direito e pela ampliação da democracia; a solidariedade internacional entre os povos e a resistência ao imperialismo; e a perspectiva estratégica de transformação social orientada pelos valores do socialismo;
30- As eleições do próximo ano para a Presidência da República, Congresso Nacional, governos e legislativos dos estados, serão decisivas para o futuro da pátria e da classe trabalhadora, É fundamental conscientizar as bases sobre a relevância desta batalha, a necessidade de alterar a composição do Congresso Nacional para viabilizar o fim da desumana escala 6×1 e avançar na pauta da classe trabalhadora. É imprescindível reunir e mobilizar forças para reeleger Lula e derrotar a extrema direita, barrar as forças do retrocesso, defender a democracia, a soberania, os direitos sociais e avançar nas conquistas do povo brasileiro, criando condições para transformações sociais e políticas mais profundas de sentido socialista.


