A Venezuela comemora o bicentenário de sua Independência, prepara-se para as eleições parlamentares de 26 de setembro e enfrenta uma nova ofensiva de provocação do governo direitista da Colômbia, de Uribe.
Neste sábado, dia 24, celebrou-se o aniversário de Símon Bolívar, principal referência de libertação do colonialismo espanhol para a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Panamá e Peru.
Visitamos a casa onde Bolívar nasceu e um museu anexo. Cinco mil pessoas passaram pelo local no sábado. Objetos pessoais, mobília, pinturas, textos, documentos históricos remanescentes do grande líder latino-americano compõem o acervo das duas casas.
A comemoração do aniversário de Bolívar foi associada ao bicentenário da Independência da Venezuela. Sob a liderança de Chávez, há um notável esforço para se dar um nexo histórico evolutivo entre a Independência e a Revolução Bolivariana em curso. Esse é o sentido das muitas intervenções do presidente.
Em meio às celebrações e à preparação das eleições, uma provocação de Uribe, que tenta passar para a comunidade internacional a fantasiosa versão de que Chávez seria leniente com a alegada presença de militantes das Farc na Venezuela.
Tudo isso, em meio ao ocaso do governo Uribe, o que levanta a suspeita de tentativa de interferir no processo eleitoral venezuelano. Quatro milhões de colombianos vivem na Venezuela. Há aqui quem ache que isso também pode interferir no quadro eleitoral brasileiro (lembrem-se das declarações do vice de Serra).
Parece que há uma clara relação de causa e efeito entre as eleições na Venezuela, o aumento da presença militar dos EUA na região (agora também na Costa Rica) e as ameaças de Uribe.
A revolução bolivariana, que procura abrir novas vereadas para o povo, também foi impactada pela crise econômica. Um exemplo: o petróleo, que representa 1/3 do PIB do país, teve violenta queda nos preços e isso prejudicou a economia do país. Os preços subiram e a situação está se normalizando, para desespero dos opositores.
Apesar disso, a Venezuela tem algumas vulnerabilidades. Precisa importar alimentos e o suprimento de energia elétrica tem suas instabilidades (são as tais soberanias alimentar e energética). Diminuindo a oferta dos alimentos e com o problema elétrico, o resultado é difícil para qualquer governo: alimento e energia com oferta controlada, além das suspeitas de desabastecimento criminoso.
A principal voz da oposição é a mídia. Os chavistas acusam também setores empresariais, da cúpula da igreja, estudantes, ONGS financiadas do estrangeiro e principalmente os EUA, claro.
Mas o que se destaca é a mídia. A guerra midiática aqui é feroz, parece não haver meio-termo, mas alguns analistas consideram que se o governo enfrenta dificuldades, a oposição também não tem uma liderança unificada para se colocar como alternativa.
A mobilização do PSUV para as eleições é muito forte, e emissoras como a Globovisión fazem com que a nossa mídia pareça moderada… Os meios a favor do governo (TVs, jornais, emissoras de rádio) não têm qualquer paralelo com o Brasil, neste item perdemos de goleada.
São impressões rápidas sobre a conjuntura da Venezuela. Chávez prepara a população para o pior – ataque militar da Colômbia e, como resposta, suspensão da exportação de petróleo para os EUA. A tendência, parece, é que não se chegue a esse extremo: a posse do novo presidente colombiano pode atenuar o atual grau de tensionamento entre os dois países vizinhos.
É a segunda vez que venho aqui (a outra vez faz dois anos) e acho que a sensação de relativa melhora é perceptível, mesmo com as sequelas da crise, embora não disponha de muitos dados para comparar. A fala de Chávez no III Encontro Nossa América é emblemática: ele disse que é mais fácil ir à lua do que construir o socialismo!
Mudando de assunto: visitamos um morro de Caracas (favelas parecidas com as do Rio, pela topografia) com o novo teleférico, vários vagões com capacidade para oito passageiros cada um, gratuito, que desfila morro acima levando o povão.
Dá um friozinho na barriga, quem tem vertigem no pode se aventurar. A viagem dá uma sensação – real! – de que você está pendurado no alto e olhando o grande vazio abaixo, sensação mais forte, por exemplo, do que o bondinho do Pão-de-açúcar no Rio.
Mas é muito mais interessante do que o famoso teleférico caraqueño, principal atração turística da capital venezuelana. Os trenzinhos sobem morro acima, as pessoas chegam perto de sua casa. O impacto urbanístico é bem maior do que os famosos CEUs da periferia de SP implantados durante a gestão Marta, principalmente porque toda a região central e arredores da cidade veem as máquinas se movimentando morro acima.
No topo dos morros há vistosas plataformas, coisa bastante moderna. Muitos moradores praticamente precisavam ser alpinistas para chegarem em suas residências, agora sobem no badalado “metrocable”, aliás construídos por empreiteiras brasileiras. Essas engenhocas poderiam, por exemplo, subir a Rocinha.
O metrô de Caracas é muito barato (pagamos cinquenta centavos a passagem, algo como vinte centavos de reais no Brasil), e vivem lotados. Para encher um tanque de gasolina nos carros o valor fica em mais ou menos R$ 1,00, isso mesmo, um real!
Já os ônibus são bastante velhos, caindo aos pedaços, embora também com tarifas baixas. Os táxis não usam taxímetros, os valores são previamente acertados. Os que ficam nos estacionamentos dos hoteis enfiam a faca, mas os da rua são baratos. No domingo fomos à La Hatillo, uma cidade parecida com Embu das Artes, região metropolitana de SP.
Lá, além das construções históricas, há a venda de artesanatos, roupas, recordações da Venezuela, etc. Distante mais ou menos 30 Km do hotel onde estávamos e a tarifa ficou em 70 bolívares, algo como R$ 25,00.
Depois falo mais sobre a semana bolivariana.