O 3º Encontro Nacional da Rede CTB teve início nesta quinta-feira (15), na sede do Sinpro Minas, reunindo lideranças sindicais, especialistas em comunicação e tecnologia para debater os desafios da comunicação sindical, o impacto da desinformação e as transformações trazidas pela inteligência artificial (IA) no mundo do trabalho.
A abertura contou com as falas de Valéria Moratto, presidente da CTB-MG; Marilda Silva, secretária de Comunicação da CTB-MG; Anderson Guahy, secretário de Comunicação da CTB Nacional; Ivanilda Brito, secretária adjunta de Comunicação da CTB Nacional e Renê Vicente, presidente da CTB-SP, que destacaram a importância da mobilização e da comunicação estratégica para a luta dos trabalhadores.
“Quero destacar a importância e a alegria de receber vocês aqui. Estamos em um processo difícil para todo mundo, e isso também vamos tratar na parte da conjuntura. Este encontro é obra e graça dos nossos secretários de comunicação nacional e estadual… Estão aqui representando bem a nossa central, e eu tenho certeza de que, ao final, sairemos com deliberações e acordos importantes para que a nossa comunicação avance”, ressaltou Valéria Moratto.
“Receber vocês aqui, representando a nossa CTB, é uma alegria muito grande. Tenho certeza de que hoje faremos, juntos, os trabalhos necessários. Sejam muito bem-vindos à nossa casa, o SINPRO-MG”, completou Marilda, secretária de Comunicação da CTB-MG, dando as boas-vindas.
E Anderson Guahy destacou a força da mobilização:
“Dando abertura a mais um Encontro Nacional de Comunicação da nossa central. Muito bom ver essa mobilização. Quero parabenizar os companheiros e companheiras de Minas, da Bahia, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de São Paulo, do Rio… Enfim, a mobilização da nossa central está muito boa.”
Iniciando os debates, Renê Vicente enfatizou a urgência do controle das redes sociais:
“Temos que lutar pela regulamentação das redes sociais. Isso não é censura. Não pode alguém chegar, falar o que quiser e não sofrer nenhuma punição. Essa tem sido uma das maiores dificuldades do governo Lula: o debate com a população.”
Comunicação sindical: muito além do engajamento
Anderson Guahy alertou para o risco de uma comunicação focada apenas em engajamento superficial:
“Não adianta ter engajamento sem objetivo. Colocar dinheiro numa postagem para gerar engajamento e simplesmente não ter um objetivo claro para aquela postagem… A gente não vai conseguir mobilizar as pessoas, como aquele companheiro falou. Comunicação não é só rede social, não é só inteligência artificial.”
Valéria Moratto reforçou a necessidade de ampliar o diálogo com os trabalhadores:
“Nossos materiais não podem tratar só de cláusulas econômicas. Temos que achar a forma, mas temos que dizer o que está acontecendo. O ataque ao INSS é também um ataque ao governo Lula, na tentativa de desqualificar.”
Ivanilda, secretária adjunta de Comunicação Nacional, fez uma reflexão sobre o que os trabalhadores realmente querem ouvir:
“O que é que o trabalhador quer ouvir de verdade? Porque se a gente busca melhora econômica, não é o suficiente, eles querem mais. Se busca melhoria da carreira, não é o suficiente, eles querem mais… Esse é o compromisso nosso aqui, discutir isso, ouvindo cada um, as experiências.”
Desinformação: Um problema com consequências reais
Ergon Cugler, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, apresentou um panorama preocupante sobre a desinformação:
“Desinformação com ‘D’ maiúsculo é informação falsa ou tirada de contexto com intenção de enganar para ganhar politicamente ou economicamente.”
Ele destacou o impacto da desinformação na saúde pública:
“Fake news sobre vacinas levaram a queda da cobertura vacinal para níveis de 40 anos atrás. Saímos de 97% para míseros 75%. Uma em cada quatro pessoas deixou de se vacinar – muito por causa da desinformação.”
Ergon também denunciou o mercado que se formou em torno da mentira:
“Tem gente que vende protocolo de enema para supostamente ‘expulsar parasitas’ do organismo. Estamos falando de um mercado que lucra muito com tudo isso.”
Sobre o papel das plataformas digitais, ele foi incisivo:
“As big techs lucram com a mentira porque quanto mais mentira, mais ela lucra. Se quem espalhou a mentira ganha no varejo, a big tech ganha no atacado.”
Ergon concluiu relacionando a valorização do trabalhador com o combate à desinformação:
“Valorizar o trabalhador e suas condições de trabalho é essencial para combater a desinformação, pois ele pode ser referência confiável na comunidade.”
Inteligência artificial: Ferramenta de risco e potencial
Camila Modanez, especialista em IA, explicou as diferenças entre automação, algoritmos, IA generativa e agentes de IA, e alertou sobre o uso crítico dessas tecnologias:
“Negar a IA na comunicação é se distanciar do mundo. Mas fazer um uso crítico da IA é a chave para disputar o jogo de comunicação de forma mais equilibrada.”
Ela ressaltou que a IA reproduz padrões dominantes e que não se pode confiar cegamente nos resultados gerados:
“A IA só faz aquilo para o qual foi alimentada… Se não colocamos Paulo Freire como referência para a IA, não dá para esperar que ela vá trazer uma resposta inspirada nele.”
Camila também apontou o uso prático da IA para potencializar a comunicação sindical:
“Hoje, por exemplo, é possível criar agentes de IA que analisem debates na Câmara dos Deputados… Isso facilita demais a construção da nossa visão estratégica.”
A luta política nas redes e a necessidade de romper bolhas
Inácio, analista político, destacou a transformação das redes sociais em espaços de disputa política:
“As próprias redes sociais começaram como ambiente para marcar encontros, ampliar o diálogo… Hoje não. Hoje são ambientes de disputa política, de embate mesmo.”
Ele ressaltou a importância de conhecer os algoritmos e mecanismos das plataformas:
“Estamos falando de empresas privadas que querem lucrar. Vão lucrar com aquilo que gera mais permanência nas plataformas.”
Sobre a presença dos trabalhadores, Inácio observou:
“Hoje, os trabalhadores estão mais no bairro, na pelada de futebol, no clube, nas redes sociais do que no local de trabalho.”
O papel central do trabalhador para enfrentar os desafios
Renê Vicente reforçou a importância da comunicação para a luta contra os juros altos e a justiça fiscal:
“A comunicação é uma frente fundamental. Essas questões estão intrinsecamente ligadas: comunicação, juros altos, e a luta que estamos travando agora.”
Anderson Guahy destacou o trabalho de base como alicerce da comunicação eficaz:
“Nós, classistas, temos essa sorte. Fazemos esse trabalho de base desde 2017, enquanto CTBistas… Nosso trabalho de base está bem fortalecido. Agora precisamos aprender a mobilizar e comunicar melhor.”
O primeiro dia do 3º Encontro Nacional da Rede CTB reafirmou que a comunicação sindical deve ser estratégica, crítica e comprometida com a realidade dos trabalhadores. O combate à desinformação, a incorporação consciente da inteligência artificial e a valorização do trabalho de base são fundamentais para fortalecer o movimento sindical e garantir que a voz dos trabalhadores seja ouvida e respeitada em todos os espaços, digitais e presenciais. O encontro continua e a CTB segue firme no compromisso de construir uma comunicação que contribua para a democratização da informação, a defesa dos direitos trabalhistas e a construção de uma sociedade mais justa e solidária.