Política monetária não pode continuar subordinada aos interesses de banqueiros e rentistas

Foto: CTB.

Por Adilson Araújo, presidente da CTB 

Em palestra na abertura do 33º Congresso e Expo Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), em São Paulo, o presidente do Banco Central, Gabriel Galipolo, disse nesta quarta-feira (27) que a taxa básica de juros  (Selic, hoje em 15%)  “deve permanecer por um período prolongado nesse patamar restritivo”. 

É uma declaração lastimável, da qual se pode deduzir que a atual direção do BC, que tem entre outras a atribuição de definir este instrumento essencial da política macroeconômica que é a taxa de juros, continua vassala dos interesses da oligarquia financeira, em franca contradição com os interesses maiores do povo e da nação brasileira. 

É lastimável porque Galípolo foi conduzido ao cargo pelo presidente Lula, no curso de uma forte crítica ao seu antecessor, o bolsonarista Roberto Campos Neto, precisamente pela política monetária restritiva, que renderam ao Brasil o vergonhoso título de campeão dos juros reais mais altos do mundo.

Esperanças perdidas

Sua posse, no início deste ano, despertou esperanças de uma reorientação da política monetária, mas para decepção de quem apostava na mudança o que verifica desde então é a continuidade, e por consequência o aprofundamento, do rumo antes atribuído a Campos Neto.  

O objetivo alegado dos juros altos, a pretexto de combater a inflação, é frear o crescimento da economia e perpetuar no país a lógica da estagnação da produção ou daquilo que os economistas classificam de voo de galinha, com desempenho desprezível e instável do PIB.

Isso transparece no discurso do atual presidente do Banco Central, quando constata, em tom lastimoso, que apesar dos juros altos, “a renda tem se mostrado bastante resiliente. Estamos com o nível de desemprego mais baixo da série histórica, batendo 5,8%, dessazonalizado 5,7%, é o menor nível de desemprego da série histórica”.

A redução da taxa de desemprego e o aumento da renda dos trabalhadores são apontadas como um fator de risco para a economia na medida em que fortalecem o mercado interno e elevam a demanda por mercadorias.

Recessão e desemprego

A solução, na visão dos tecnocratas do BC, consiste em deprimir a economia, provocando demissões em massa, arrochar salários e reduzir a renda, e por extensão o consumo de dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

De outro lado, no topo da pirâmide social, o efeito é precisamente o oposto. A alta dos juros garante a maximização dos lucros auferidos por banqueiros e rentistas bilionários que especulam com títulos do governo e vivem à sombra da dívida pública.

Os gastos com juros no Brasil em 2025 já atingiram cerca de R$ 1,313 trilhão até 4 de junho, representando mais da metade (53,4%) do orçamento federal, o que constitui um óbvio resultado das altas da taxa Selic impostas pelo Comitê de Política Monetária do BC sob a presidência de Campos Neto e, mais tarde, de Galípolo.

Para preservar os interesses dos abutres financeiros, um grupo restrito de bilionários ociosos, seus porta-vozes na mídia burguesa promovem diuturnamente um estridente alarido em prol de um ajuste fiscal fundado na redução ou destruição das políticas públicas criadas para minorar o sofrimento dos mais pobres e combater a fome.

Sobre as despesas financeiras, que consomem inéditos 53,4% do orçamento, a mídia burguesa nada fala. O silêncio é eloquente, significa a sacralização dos lucros exorbitantes dos abutres financeiros. Não é plausível equilibrar as contas públicas sem reduzir os gastos astronômicos com juros.

Excluir os pobres do orçamento

Considerando os limites da arrecadação tributária, a verdade é que a expansão do capital que rende juros requer, cada vez mais, a exclusão dos pobres do orçamento público. 

O efeito de tudo isto é muito evidente: maior concentração da renda nacional produzida pela classe trabalhadora, maior polarização social e radicalização dos chamados conflitos distributivos entre as classes sociais. 

O Brasil não pode permanecer refém desses interesses deletérios, que conspiram contra o desenvolvimento, a soberania nacional e o bem estar do povo brasileiro. 

O movimento sindical e as forças progressistas têm o dever de conscientizar a classe trabalhadora e a sociedade sobre os impactos da política monetária para o cotidiano do povo e a necessidade imperiosa de ampliar a luta pela redução substancial da taxa básica de juros e do spread bancário, bem como promover a auditoria e reestruturação da dívida pública.

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