Longas jornadas e trabalho por aplicativos ampliam o adoecimento e a exploração

O avanço das novas tecnologias e a expansão do trabalho mediado por plataformas digitais criaram uma nova face da exploração laboral no Brasil. Essa é a análise da pesquisadora Laura Valle Gontijo no artigo “Impactos das longas jornadas de trabalho dos entregadores de alimentos por plataformas digitais em sua saúde física e mental”, que integra o Dossiê Fim da Escala 6×1 e Redução da Jornada de Trabalho.

A pesquisa, realizada com entregadores no Distrito Federal, revela jornadas que chegam a 12 horas por dia, com apenas um ou dois dias de folga por mês. As entrevistas apontam adoecimento físico e mental, conflitos familiares, fadiga constante e distúrbios do sono, além de altos índices de acidentes de trabalho.

“Os entregadores trabalham até o limite da capacidade física para garantir o mínimo necessário à sobrevivência. É um sistema que normaliza o cansaço, a ansiedade e até a morte no trânsito”, relata um dos entrevistados.

De acordo com Gontijo, a ausência de regulamentação e o pagamento por entrega agravam a exploração, uma vez que a renda é incerta e o trabalhador se vê obrigado a estender a jornada para atingir metas mínimas. O controle exercido pelos aplicativos, por meio de bloqueios e avaliações automáticas, reforça a pressão e o medo constante de perder o acesso à plataforma.

O estudo aponta que os efeitos dessa dinâmica sobre a saúde mental são profundos, gerando estresse, sentimento de injustiça e desvalorização. Além disso, a falta de descanso regular e férias remuneradas contribui para o isolamento social e o esgotamento.

A autora defende que é urgente uma regulação do trabalho por plataformas digitais, com limite de jornada, remuneração mínima, direito a descanso e proteção previdenciária, como forma de garantir dignidade e reduzir o sofrimento desses trabalhadores.

“Duzentos anos após a Revolução Industrial, as inovações tecnológicas nos permitem produzir mais com menos trabalho. No entanto, a exploração permanece. Reduzir a jornada e garantir direitos é uma pauta essencial para o século XXI”, conclui Gontijo.

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