A posição firme dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Hugo Chávez, em relação à reativação da 4ª Frota de Intervenção dos Estados Unidos, foi um ponto alto da Cúpula do Mercosul realizada terça-feira (1-7) na cidade Tucamán, Argentina. Todavia, a notícia não mereceu primeira página ou maior destaque nos meios de comunicação de massa monopolizados no Brasil por uma meia dúzia de famílias capitalistas (com destaque para os Marinhos, Frias e Mesquitas).
O silêncio da mídia burguesa reflete as posições e o pensamento das forças conservadoras e de direita a respeito do tema e deve ser interpretado, com senso crítico, como um sinal de cumplicidade desta gente com a estratégia do imperialismo estadunidense na América Latina. O jornalista Reinaldo Azevedo, da revista “Veja”, um direitista empedernido que não faz segredo de suas opiniões reacionárias, chegou a proclamar em seu blog que o presidente Lula aderiu “à paranóia de Cháves” ao questionar a Quarta Frota.
Instrumento de guerra
A idéia de que a preocupação externada pelos dois líderes sul-americanos é mera “paranóia” não procede e cumpre o objetivo diversionista de dificultar o esclarecimento da opinião pública sobre o tema e a mobilização das forças progressistas e patrióticas contra a 4ª Frota. O histórico de intervenção dos Estados Unidos no continente americano, como em outras regiões do mundo, sugere que as intenções do império não são nada pacíficas.
Criada em 1943 para combater submarinos da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, a 4ª Frota constitui um poderoso instrumento de guerra. Foi desativada em 1950 porque perdeu o sentido, já que vivemos uma região pacífica. A iniciativa de seu relançamento pelo governo Bush não se explica pelo acaso, inocência ou capricho. Muito menos por nobres motivos.
Mentiras
A Casa Branca justifica o gesto hostil afirmando que seu objetivo é combater o narcotráfico e praticar ações humanitárias. Tal argumento não convence e nos faz recordar a frágil a mentira usada para deflagrar a guerra imperialista contra o Iraque, de que Saddam Hussein tinha acumulado um grande arsenal de armas de destruição de massa e estava financiando o terrorismo no Oriente Médio. Como se sabe esses pretextos foram desmentidos pela história.
A América Latina vive um momento promissor de mudanças e transição política, marcado pela ascensão de forças e personalidades progressistas aos governos de países da região e a derrota dos partidos neoliberais. Os Estados Unidos já não têm voz de comando naquilo que outrora era tido como o seu quintal. Por isto, reagem com crescente agressividade. As reiteradas iniciativas golpistas na Venezuela, as crescentes provocações ilegais e subversivas contra Cuba e a tentativa de retalhar a Bolívia, são acontecimentos, entre outros, que trazem a inconfundível impressão digital do império.
Golpismo
Canta o grande poeta e compositor Paulinho da Viola que quando pensamos no futuro não podemos esquecer o passado. O imperialismo estadunidense esteve por trás do golpe militar de 1964 no Brasil; a CIA promoveu Pinochet, o assassinato de Salvador Allende e o golpe de 1973 no Chile; ajudou a organizar também o golpe contra Chávez em abril de 2002 e também orienta as ações da elite branca da Bolívia para retalhar o país e derrubar o presidente indígena, Evo Morales.
A reativação da 4ª Frota constitui uma séria ameaça aos governos progressistas e à soberania nacional dos povos latino-americanos. Não há justificativa aceitável para o ato hostil e belicista do império. A América Latina é uma região pacífica, cuja única guerra é contra a fome, a pobreza e a miséria, conforme bem lembrou o presidente Lula. O alvo do imperialismo é a Amazônia, os recursos naturais em que a região é rica (como o petróleo, o gás e a água), assim como as forças progressistas e patrióticas.
Quinta coluna
O movimento sindical não pode ficar alheio a este grave acontecimento nem subestimar seu significado histórico. É indispensável conscientizar nosso povo sobre as reais intenções do imperialismo e a cumplicidade da mídia capitalista. As ações do imperialismo na América Latina têm contado com o decisivo apoio das forças conservadores e neoliberais, que conformam em praticamente todos os países uma espécie de quinta coluna contra o movimento de libertação nacional e social e a mudança do cenário político.
As centrais sindicais, a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), o Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz) e o CMP (Conselho Mundial da Paz) devem unificar forças, ao lado de outras organizações progressistas e patrióticas, para organizar manifestações de rua, especialmente diante da embaixada e dos consulados dos EUA no Brasil, contra a reativação da 4ª Frota de Intervenção e em defesa da paz na América Latina e no mundo.
João Batista Lemos é Secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB