Brasil manifesta apoio ao governo de Evo Morales

"O governo brasileiro está tomando todas as medidas necessárias para garantir o abastecimento de gás no país", assegurou a nota do Ministério das Relações Exteriores.

O Itamaraty demonstrou "preocupação" com a situação da Bolívia e lamentou "o recrudescimento da violência e dos atos de desacato às instituições e à ordem legal."

"O governo brasileiro insta todos os atores políticos a que exerçam comedimento, respeitem a institucionalidade democrática e retomem os canais do diálogo e da concertação, na busca de uma solução negociada e sustentável", diz o comunicado do ministério.

O assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, telefonou nesta quarta-feira ao vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Linera, para ter mais informações sobre a situação e reiterar o apoio do Brasil à legalidade no país vizinho.

Golpe civil fascista

O presidente boliviano Evo Morales denunciou que os confrontos na cidade de Santa Cruz fazem parte de um "golpe cívico contra a democracia", pelo qual responsabilizou o governador Rubén Costas e o presidente do Comitê Cívico desse estado, Branko Marinkovic.

Embora os confrontos tenham deixado feridos e danos materiais, o governo reiterou que não irá ditar estado de sítio e que trabalha para garantir o restabelecimento da paz e ordem. "Hoje vivemos o início de um golpe cívico contra a democracia que tem mais de um quarto de século de vigência", promovido pelo "fascismo incrustado em alguns comitês cívicos e governos departamentais", declarou o ministro do Interior, Alfredo Rada.

Segundo Rada, as manifestações "contam com apoio interno e externo" e são lideradas por governadores de oposição e pelo presidente do Comitê Cívico, como "denunciou oportunamente" o presidente Evo Morales.

Ao comentar sobre a decisão de não declarar o estado de sítio, o titular da Defesa, Walker San Miguel, disse que "a vida de um milhão de habitantes não será alterada por 500 vândalos fascistas".

San Miguel ordenou ao presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz "que entregue a lista com os líderes desses grupos formados por vândalos", responsáveis pela "violência irracional, racista e xenófoba".

O ministro também convocou "os cidadãos para que se mobilizem em defesa da democracia diante desta tentativa de golpe civil" e denunciou a existência de um plano para cortar o fornecimento de gás a todo o país.

Ataque ao gasoduto

Os temores do governo boliviano em relação a sabotagens à infraestrutura energética do país se concretizaram nesta quarta-feira quando milicianos de direita a serviço dos opositores de Morales atacaram um gasoduto no departamento de Tarija, entre as usinas de San Antonio e San Alberto. O atentado – uma explosão – provocou uma redução do fornecimento de gás ao Brasil, da ordem 3 milhões de mmcd (milhões de metros cúbicos-dia).

Santos Ramírez, presidente interino da estatal YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos), afirmou em coletiva de imprensa que se trata de "um atentado terrorista contra a pátria".

Ramírez indicou que, ao reduzir suas exportações para o Brasil em mais de 3 milhões de MMCD, a Bolívia está perdendo mais de US$ 8 milhões por dia. O país produz no total cerca de 40 milhões de mmcd. Entre 6 e 7 milhões de mmcd destinam-se ao consumo interno. O Brasil importa 31 milhões de mmcd e a Argentina o restante.

O presidente da estatal petroleira indicou que o conserto do gasoduto será feito em 20 dias e custará mais de US$ 100 milhões, aí incluídas as multas e danos. Ramírez assinalou que o custo deverá ser coberto pelos governadores e "Comitês Cívicos" irresponsáveis que "recorreram a estes atos terroristas".

O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, anunciou que será reforçada a segurança das instalações petroleiras, face à escalada dos atentados. Disse que as ações em Tarija, e as ocorridas na véspera em Santa Cruz, "geraram indignação e irritação entre os bolivianos, pois afetam a unidade e a economia nacionais".

Quintana denunciou que os atentados tentam colocar em risco a nacionalização dos recursos naturais e expressam desacordo com as políticas sociais do governo do presidente Evo Morales. Buscam ainda, agregou, "frear o processo de mudanças estruturais e evidenciam os planos de um golpe atípico contra a ordem constitucional".

"Agora já não se usa os tanques, o golpe de Estado sai das prefeituras [governos dos departamentos] e dos 'Comitês Civis', aos quais não interessa a democracia. Só interessa e eles instaurar um clima de terror, que passa pelo sacrifício das pessoas e da economia", advertiu.

Quintana também dirigiu um apelo explícito ao fiscal-geral da República, Mario Uribe, para que "prenda os autores intelectuais e materiais de atos inadmissíveis numa sociedade democrática".

Embaixador dos EUA expulso

A certeza de que os atentados têm motivação tanto interna quanto externa levou o governo boliviano a solicitar a "imediata saída" do embaixador dos Estados Unidos em La Paz, Philip Goldberg, que foi considerado pelo governo da Bolívia como "persona non grata".

Evo instruiu o chanceler boliviano a informar no mesmo dia a Goldberg, dentro dos marcos legais e diplomáticos, sobre a decisão do governo da Bolívia e de seu presidente constitucional, para que ele retorne aos EUA.

"Não queremos gente separatista, nem divisionista, nem que conspire contra aunidade. Não queremos pessoas que atentem contra a democracia", afirmou o presidente, em meio aos aplausos das pessoas que assistiam ao ato de lançamento o programa Meu Primeiro Emprego, que visa colocar os jovens bolivianos no mercado de trabalho..

Evo Morales recordou que o Goldberg, antes de ser nomeado embaixador na Bolívia, atuou como chefe da missão estadunidense em Pristina, Kossovo, onde consolidou a separação e a independIncia dessa região às custas de milhares de mortes.

Evo disse que a decisão sobre Goldberg é uma homenagem à luta histórica do povo boliviano contra o modelo neoliberal e contra toda forma de ingerência estrangeira. "Quero dizer-lhes, irmãos e irmãs, e ao povo boliviano, que é obrigação do governo e do povo defender a unidade nacional", afirmou.

Para o presidente, só o povo organizado pode defender e recuperar a democracia face aos separatistas. Ele convocou os movimentos sociais a defender a unidade da Bolívia.

Da redação do Vermelho com agências

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