A crise financeira pode ser tão catastrófica como os fenômenos naturais, a exemplo do Tsunami, mas com uma diferença, pode levar algum tempo para causar efeitos nocivos distantes dos centros onde ocorrem. É o caso da crise financeira dos EUA que em meados de setembro atingiu sua fase mais aguda e alastra-se pelo mundo.
No Brasil apresenta-se com sinais emitidos pelo mercado financeiro, pelas oscilações do dólar e pelas operações cambiais ruinosas de algumas grandes empresas.
Mas sua chegada era esperada. Ela foi tema de debates, como a discussão sobre a “teoria do deslocamento”, segundo a qual países como o Brasil, China e Índia entre outros, teriam um volume de comercio entre si, acumulando algumas reservas para se safarem das oscilações.
Esta é a explicação de várias viagens de Lula para alguns países, viagens estas criticadas pela mídia e pela oposição conservadora. Quem não se lembra do “Zorra Total da TV Globo” no quadro: “Olha Lula indo, olha Lula vindo!”; ridicularizando com as viagens de Lula.
Mas Lula estava apenas se preparando para momentos como este, procurando outras alternativas de comércio e não ficando na dependência dos Estados Unidos.
Diferentemente de crises passadas, como a de 1998, quando o país quebrou sobre a batuta do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, que adotou praticamente de joelhos as exigências do FMI – da privatização e da desregulamentação.
Agora no governo Lula não. Ele está agindo para acalmar os agentes econômicos com:
· Envio ao congresso da MP-443 que autoriza o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprarem bancos e empresas com dificuldades;
· Desvalorização do real – colocando na mesa a disposição de usar até 50 bilhões de dólares para segurar a moeda nacional;
· O BNDS anunciou conjunto de medidas para apoiar as exportações brasileiras;
· Medidas pontuais – quando o governo Lula pede a população que continue comprando coisas para manter o mercado aquecido, garantir emprego e renda para os trabalhadores e brandar a crise;
· Lançou mão de R$ 150 bilhões para conter os efeitos da crise junto ao sistema financeiro, dando conforto no credito e agricultura e bens de alto valores unitário como automóveis e imóveis, mas como afirma o economista Marcio Pochamann, essas medidas atende a pressão dos de cima.
Temos que ficar de olho, pois a mídia e a oposição conservadora, continuam apresentando a mesma receita neoliberal, pressionando o governo Lula, como forma de enfrentar a crise, a não valorização do salário mínimo, redução dos gastos públicos, como não valorização do salário do servidor publico e corte nos investimentos sociais, entre outros, no “bolsa família”.
Mas a redução dos gastos públicos que defendemos, é a redução com gastos no pagamento da divida, pois o governo gasta muito com juros exorbitantes com este pagamento. É preciso mudar a forma de arrecadação, com medidas que garantam maior arrecadação para ricos. As Prefeituras por exemplo, não cobram IPTU progressivo, o que faz com que as mansões paguem menos que os casebres.
A crise esta aí, nos rodeando e não podemos ter ilusões. Não podemos seguir aqueles que torcem para o aprofundamento da crise, para tirarem dividendos eleitorais na eleição de 2010 e nem seguir aqueles que achem que com apenas essas medidas até agora pelo governo Lula, o Brasil está imune.
É preciso mais do que nunca, medidas mais ousadas, atacando o tripé econômico neoliberal:
· Política monetária restritiva (juros altos e metas artificiais de inflação)
· Arrocho fiscal (superávit primário)
· Livre fluxo de capitais.
É neste caminho que aponta a carta dos movimentos sociais ao governo Lula, cobrando 22 medidas contra a crise.
Não podemos deixar esse debate apenas com a mídia, com os grandes grupos econômicos e financeiros e com o governo, é preciso que os trabalhadores, a sociedade civil organizada e o povo em geral participem deste debate, procurando entender o significado desta crise e o verdadeiro caminho para as mudanças que o Brasil necessita.
É de fundamental importância, o apoio a divulgação e o fortalecimento do conteúdo das 22 medidas contra a crise, apontadas na carta assinada por 57 entidades dos movimentos sociais e sindicais.
A necessidade objetiva diante da crise é o controle da entrada e saída de capitais, indispensável para o crescimento da economia, superar a vulnerabilidade externa do pais, garantir maior investimento à área social e atacar de frente o livre fluxo de capitais que incentiva atividades ilícitas.
É na falta de controle e regulamentação que a grande parte das atividades ilegais, como o tráfico de drogas, de armas e de partes do corpo e o crime organizado encontram ambiente ideal. E é neste ambiente de ausência de controle que políticos corruptos utilizam os serviços dos bancos para lavagem de dinheiro sujo e para remessa de fortunas aos paraísos fiscais do exterior.
O governo Lula precisa dar um basta a tudo isto, mesmo sabendo que vai mexer em casa de maribondo.
Os setores organizados e o povo em geral precisam estar a postos nas ruas e nas praças, apoiando o governo Lula nesta medida.
O povo e as novas gerações de brasileiros merecem.
Notas:
1 –
A crise chegou. Mas com que intensidade?
2 –
Crise Mundial e controle de capitais – 20/11/2008 (Altamiro Borges)
3 –
A crise e a libertinagem financeira – 21/11/2008 (Altamiro Borges)
4 –
Crise deve ser vista como oportunidade para o Brasil – 25/11/2008 (Marcio Pochamann)
5 –
Carta dos movimentos sociais cobra 22 medidas contra a crise – 26/11/2008.
Jô Sousa é pedagoga, funcionaria da URB – Recife e Técnica Social do PREZEIS