Humanistas de todos os quadrantes repudiam com veemência os crimes que os sionistas vêm cometendo nos últimos dias em Gaza. Inspirados por Jeová, fanáticos judeus, detentores do poder do Estado, perpetram crimes semelhantes aos de que judeus foram vítimas a partir de fanáticos cristãos, detentores do poder do Estado. Marx dizia que só com o fim das classes sociais a humanidade sairia da pré-história. As classes estão aí, e a barbárie também.
Em nome das três divindades monoteístas com maior número de seguidores do mundo – o Jeová judeu, o Deus-Jesus cristão e o Alá islâmico – atrocidades sem fim são justificadas. No presente caso, os seguidores de Jeová ganharam, no século passado, da Organização das Nações Unidas, o direito de ocupar território próprio no Oriente Médio, como compensação das perseguições criminosas de que foram vítimas, em especial as mais recentes, da parte de cristãos nazistas e fascistas, com a bênção (no caso dos fascistas) ou silêncio cúmplice (no caso dos nazistas) do chefe supremo dos católicos, o Papa Pio XI.
Desde a criação de Israel – desconsiderando, na prática, a existência dos palestinos que lá moravam, os judeus se fiaram nas palavras do Deuterônimo 30:4-5, onde Deus fala a Moisés e aos filhos de Israel: “Ainda que os teus desterrados estejam na extremidade do céu, desde ali te ajuntará o SENHOR teu Deus, e te tomará dali; E o SENHOR teu Deus te trará à terra que teus pais possuíram, e a possuirás; e te fará bem, e te multiplicará mais do que a teus pais”. Famílias judaicas que, por inúmeras gerações, jamais estiveram no Oriente Médio, dirigiram-se para Israel como se lá fosse sua pátria de nascença.
A religião não existe por si só. Foi criada pelos homens para tentar explicar o desconhecido e justificar interesses de tribo, de grupo, de classes. A imposição do Estado de Israel aos moradores da região tinha por trás também interesses econômicos e políticos. Assim como os atuais ataques, que ocorrem às vésperas da posse de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos – país de sucessivos governos liderados por cristãos, principal financiador, aliado, instigador e fornecedor de armas de Israel – não se prestam apenas a defender o Estado de Israel dos desalmados e mal armados seguidores de Alá.
Naturalmente, a culpa não é da religião. Com perspicácia, observou Steven Weinberg: “Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas a fazer coisas boas e más pessoas a fazer coisas más. Mas para termos boas pessoas a fazer coisas más, para isso é preciso uma religião”. E àqueles que dizem que é necessário respeitar o direito dos judeus a uma terra própria, por serem judeus (quanto aos palestinos, cabe esperar que a ONU cumpra sua resolução de garantir também a eles terra para viver), vale a consideração de Richard Dawkins, talvez o mais célebre propagandista do ateísmo na atualidade: “Enquanto aceitarmos o princípio de que a fé religiosa deve ser respeitada por ser fé religiosa, não teremos como repudiar a fé de Osama bin Laden e os homens-bomba”.
Os crimes em nome da religião continuam. Apelos mundiais têm sido insuficientes para suspendê-los porque interesses mais poderosos estão por trás desses ataques. Num momento contra judeus, noutro contra islâmicos, noutro contra negros ou asiáticos ou índios… Na época do poder supremo do capital, variam as vítimas, porque a classe capitalista não tem preconceito de raça – existem capitalistas de todas as raças (a diferença genética entre homem e chimpanzé é de apenas 1%; qual será a diferença genética entre os israelitas eleitos de Deus e nós outros, deserdados pelo Pai?), a classe capitalista tem é interesse em multiplicar seu capital, às custas do trabalho de qualquer povo. E ai de quem se deixa servir de massa de manobra (melhor diria, bucha de canhão) para esses intentos… Como registrou José Saramago no seu recente A viagem do elefante, “Ter de pagar pelos próprios sonhos deve ser o pior dos desesperos”.
Carlos Pompe é jornalista