E se é perverso esse senso comum, o que nós da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil queremos registrar é que ele é fruto da forma como as instituições governamentais tratam a força de trabalho que depois de décadas de dedicação ao setor produtivo ou de serviços.
É necessário reconhecer que ao chegar à condição de usufruir o direito a aposentadoria pública, o homem ou mulher trabalhadora já percorreu uma “via crucis”, tendo conseguido escapar das doenças profissionais que tantas vezes nos inutilizam para o trabalho, da depressão dos difíceis momentos das levas de desemprego e da condenação à informalidade, das rotinas operacionais muitas vezes massacrantes, em muitos casos, cheias de ameaças e de assédio de todos os tipos.
E, por último, tendo escapado dos acidentes de trabalho ou da violência no campo e na cidade, conseguem obter o direito à aposentadoria e entram no sistema da previdência social.
O que queremos refletir nesse artigo, principalmente, junto aos jovens trabalhadoras é que a sociedade civil deveria tomar para si a responsabilidade de fazer com que “o dia da aposentadoria” chegue para todos e todas os cidadãos brasileiros e que esse momento deva ser de muita dignidade. O homem e a mulher trabalhadores, APOSENTADAS, merecem tomar seus direitos na totalidade e gozarem de amparos, já que deixaram grande parte de suas vidas, energia e saúde construindo a riqueza de nosso país.
Há ainda que considerar que muitos aposentados e aposentadas continuam sustentando suas famílias, não só com o minguado dinheiro que recebem, mas com seu trabalho, com os “bicos”, e com a mesma coragem e dedicação de sempre. E isso nos leva a afirmar que ser APOSENTADA não significa, em hipótese alguma, ser inútil.
Temos a obrigação de acabar com essa mentalidade que é fruto da ideologia capitalista que transforma seres humanos em mercadorias a serem descartadas, depois de um tempo de uso. É preciso que nossos dirigentes e militância sindical busquem consagrar a preservação do direito à aposentadoria em nossos acordos coletivos e de responsabilidade social (forma de marketing que esteve tão em moda antes da crise econômica que revelou a mesma e velha face de exploração) e que a experiência e maturidade profissional (ainda que sem o desejável diploma) sejam valorizados.
Em outros períodos históricos, a Humanidade já valorizou os mais velhos. Na Antiguidade, os senadores (senex = idoso) eram aqueles que tinham os cargos mais importantes nas decisões. Entendia-se que por serem mais velhos, por terem vivido mais, aqueles indivíduos (infelizmente homens porque a discriminação de gênero é milenar) tinham mais sabedoria, podiam julgar melhor, com mais ponderação e seriam capazes dos melhores conselhos.
O medo da aposentadoria tem íntima ligação com o medo da velhice. Aposentado e velho são tidos como sinônimos. E essa correspondência vem carregada de uma significação depreciativa que muitas vezes pode significar uma aposentadoria não só do trabalho mas da direção de nossas famílias, grupo de amigas e de nossas vidas sócio-sexual. Sem dúvida que essa percepção gera um impacto doloroso nos indivíduos.
No Brasil, na maioria das vezes, a idéia de aposentadoria está ligada à desocupação, a alguém de menor importância social, quase sempre mal remunerado, em eterna luta com os problemas de saúde e as dificuldades com a compra dos remédios necessários.
Devemos rejeitar a tendência de estigmatizar o processo de envelhecimento natural como “senilidade”. Muitas pessoas acabam caindo na armadilha da pressão social que as faz procurar incansavelmente por mais e mais formas de “rejuvenescimento”, sob o falso pretexto de que o espírito é sempre 20 anos mais novo que o corpo, corremos o risco de transformar nossos rostos e corpos em coisas plastificadas, deixando de encontrar a beleza que existe em cada um/a na maturidade. Esse fenômeno acaba atingindo ainda de forma mais brutal as mulheres trabalhadoras que sofrem suas aposentadorias com ainda maior stress, pois é tempo das rugas, da vinda da menopausa e quando o papel social da maternidade (nunca esquecer das inúmeras jornadas) costuma se tornar, aparentemente, menos necessário. Eis o campo aberto para doenças psicossomáticas, que são as respostas do organismo ao stress, fruto das emoções negativas, das frustrações.
Diante desse diagnóstico, os trabalhadoras aposentados e ativos que atuam na CTB recusam a idéia de inatividade e estamos prontos a continuar a contribuir para a construção de uma mundo melhor para nossas famílias e país. Vemos a aposentadoria como o merecido reconhecimento social pelos anos de trabalho de cada homem ou mulher trabalhadora.
É com esse espírito que lutamos para que essa aposentadoria seja cada vez mais dignificada. Nesse sentido, a luta para que os serviços de saúde públicos e também privados ganhem maior controle, e maior qualidade no atendimento não só para os idosos, mas, também, para nossas crianças, é fundamental.
Para CTB é hora de exigirmos, junto às demais centrais sindicais, a mudança no cálculo dos benefícios previdenciários pagos pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Nesse sentido os projetos de Lei do Senador Paulo Paim, do PT. RS, expressam os interesses dos aposentad@s brasileiras e, afirmamos, são fundamentais para toda a classe trabalhadora.
Pela sistemática atual, as aposentadorias superiores ao mínimo são reajustadas pela variação da inflação. E o mínimo tem uma reposição maior, pois seu valor foi fruto do movimento sindical junto ao governo LULA. Essa diferença, nos últimos cinco anos trouxe uma significativa defasagem nos salários massa de trabalhador@s aposentadas pois enquanto o salário mínimo subiu 98,68%, os benefícios acima do mínimo foram reajustados em apenas 56,46%.
O impacto social dessa política discriminatória pode ser demonstrado por números da Fundação Getúlio Vargas que mostra que os idosos foram vem sendo mais afetados pela alta de preços do que a média da população desde 1994. Em aproximadamente 14 anos, a inflação da terceira idade foi 27,6% superior à do varejo. Os preços dos remédios, planos médicos, foram os vilões da inflação dos idosos.
Assim, ao comemorarmos o próximo dia 24 de janeiro, data consagrada pelo Congresso Nacional, em 1981, como o Dia do Aposentado e Aposentada, nós da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil deixamos claro nosso compromisso com sua luta por tratamento isonômico entre trabalhadoras ativos e aposentados e convocamos a todas a juntarmos nossa energia a serviço de construir uma nova realidade nas regras da previdência social de nosso país.
Sônia Latgé é Secretária de Políticas Sociais e Previdência