Brasil pode seguir adiante

Parece que as medidas anticíclicas adotadas pelo governo Lula têm surtido algum efeito. Por exemplo, a redução do IPI dos automóveis aqueceu a níveis pré-crise o setor, também a redução do IPI dos materiais de construção e da linha branca tem se revelado bem sucedido em seus objetivos. Alinha-se o programa habitacional de um milhão de casas para famílias com renda até dez salários mínimos, os investimentos do PAC e Pré-sal, além dos demais programas sociais do Ministério de Desenvolvimento Social de Patrus Ananias.

Outros aspectos da macroeconomia, como a redução a 10,25% da taxa Selic, o retorno dos investimentos em bolsa, inclusive estrangeiros, com a Bovespa superando os 50.000 pontos, a relativa estabilidade do real, com o BC voltando a comprar dólares, mantendo em alto patamar as reservas e, apesar da redução do volume do comércio, a balança comercial apresentando saldo de quase U$ 7 bilhões, superando em mais de U$ 2 bilhões os resultados para o mesmo período de 2008.

A inflação sob controle, os resultados comerciais positivos e o retorno dos investimentos estrangeiros indicam uma condição muito favorável para estabilidade da moeda e da economia, não havendo ataques especulativos comuns nas crises da era FHC.

Aliás, ao contrário das crises daquele período, onde o governo elevava os juros e cortava investimentos, agora, acontece justamente o contrário: o governo Lula tem promovido a redução dos juros e ampliando os investimentos e as medidas anticíclicas. Uma diferença substancial também é que aqui nós temos margem para queda de juros, ao contrário dos EUA, onde esse instrumento de política macroeconômica praticamente perdeu a eficácia.

Não se pode negligenciar que a atual crise vem abalando o planeta, sem dúvida ela já trouxe elevados prejuízos ao país. Contudo, não se pode dizer que ela atinge a todos da mesma forma. Apesar do ambiente externo amplamente desfavorável, ele é muito mais negativo para o Japão e Alemanha, por exemplo, do que para o Brasil, pois os primeiro são fortes exportadores, já o Brasil é menos vulnerável, por isso sofre menos suas conseqüências negativas.

Além disso, o Brasil tem se colocado cada vez mais diversificado no cenário externo e valorizando parceiros estratégicos como a China e a América do Sul. Sem dúvida, ao contrário da ALCA (Are de Livre Comércio das Américas), que seria uma corda em nosso pescoço, o Mercosul (Mercado Comum do Sul) abre um vasto canal de possibilidades. Assim, a integração latino americana pode criar um ambiente riquíssimo de desenvolvimento autônomo e sustentado das nações amigas.

O próprio mercado interno desse gigante que é o Brasil nos favorece por demais diante da crise. Até aqui fomos acostumados com taxas de juros mais elevadas do planeta, com escassez de crédito, com baixos salários, isto é, o consumidor brasileiro parece que vive enjaulado e ávido para consumir, só lhe falta renda e crédito. Assim, políticas de distribuição de renda e medidas de promoção ao consumo têm alta sensibilidade e podem responder muito bem contra a crise.

Por fim, as perspectivas dos países ricos, como os EUA, não são nadas boas para 2009. Podem revelar que os diversos planos e medidas anticíclicas não têm tido o efeito esperado ou podem demorar a ocorrer. Vejo um cenário diferente para o Brasil, acho até, sem precipitação, que existem boas evidências para o retorno do crescimento. Os óbices ao desenvolvimento nacional vêm de fora – como seria a ALCA – e, uma vez que o nosso caminho é o desenvolvimento nacional com valorização do trabalho e distribuição de renda, o país pode seguir adiante.


Murilo Ferreira da Silva é secretário de Comunicação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-Minas) e diretor do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG).

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