As estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) sobre a evolução do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre deste ano indicam uma queda de 0,8% da produção no período em relação ao quarto trimestre do ano passado, o que configura o que os economistas classificam de recessão técnica. O valor agregado no processo de produção soma R$ 684,6 bilhões, de acordo com o Instituto.
Embora significativa, a queda do PIB ficou aquém da expectativa dos analistas, que projetavam um declínio entre 0,9% e 3%, e mostra que o Brasil, ao contrário do que ocorria no passado, está hoje em melhor condição que os EUA, a Europa e o Japão, assim como muitos países da América Latina e do leste europeu. O dado positivo é o comportamento do mercado interno, que suavizou o impacto da recessão exportada pelos EUA. A indústria, setor mais afetado, sofre em função da contração do mercado externo, refletido num forte recuo das exportações (-16), mas não pode reclamar do consumo doméstico. As vendas internas desaceleraram, mas continuam em alta.
Mercado interno
O consumo das famílias cresceu 0,7% no primeiro trimestre de 2009 em relação ao quarto trimestre de 2008 e 1,3 % sobre os primeiros três meses do ano passado. Isto se deve em larga medida à modesta valorização do trabalho praticada pelo governo Lula, que garantiu o aumento do valor real do salário mínimo e ampliou a Bolsa Família. Também contribuiu (e muito) para tal resultado outras medidas anticíclicas que foram adotadas na área fiscal (incluindo redução do superávit primário e da carga tributária) e monetária (diminuição dos juros básicos, o que reduziu significativamente os encargos da dívida interna).
Os números do IBGE podem ser percebidos como uma confirmação da justeza da concepção desenvolvida pela nossa CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) de que o novo projeto de desenvolvimento nacional defendido pelas centrais e as forças progressistas da nossa sociedade deve ter por fundamento, em oposição ao neoliberalismo, a valorização do trabalho e que esta é o caminho para fortalecer o mercado interno e garantir um crescimento mais vigoroso e independente da economia brasileira.
As bandeiras do trabalho se revelam, assim, bandeiras desenvolvimentistas. Consideramos que é preciso avançar muito mais no atendimento às reivindicações da classe trabalhadora, o que inclui contemplar o Grito da Terra e as reivindicações unitárias das centrais para enfrentar a crise, ratificar a Convenção 158 da OIT, acabar com o odioso fator previdenciário, condicionar a concessão de benefícios públicos à iniciativa privada à manutenção e ampliação do nível de emprego, reduzir a zero o superávit primário e ampliar os gastos e investimentos públicos, entre outras coisas. Cabe destacar que neste sentido tem grande relevância a bandeira estratégica da redução da jornada de trabalho sem redução de salários, motivo de uma mobilização unitária das centrais sindicais no próximo dia 30. Os dirigentes e militantes da CTB devem redobrar os esforço de mobilização para garantir o êxito da manifestação.
Wagner Gomes é presidente da CTB