Chamas que aquecem o frio

Como já era de se esperar a 11ª Conferência Nacional dos Bancários da Contraf foi tão ou mais fria que a Conferência de São Paulo. Seguiu a mesma lógica da anterior, ou seja, apresentação de relatórios e votação em bloco sem privilegiar os debates que tanto alimentam a democracia. Não fosse a intervenção organizada da CTB, que junto com a Intersindical, a CSD e a bancada do Nordeste, três questões vitais passariam em brancas nuvens: o índice a ser reivindicado; a estratégia da campanha sindical; e, uma questão que a força majoritária teima em contratar com os banqueiros, a remuneração variável.

A primeira questão diz respeito ao montante que queremos que corrija nossos salários deste ano e que vai até o ano que vem. Apresentamos a proposição de reposição da inflação apurada entre setembro de 2008 e agosto de 2009 mais um aumento real de 10%. Já a Articulação defendeu um reajuste de inflação com 5% de aumento, sendo que esta composição é inferior ao conquistado no ano passado. Não sua defesa a Articulação argumentou que estava se baseando em pesquisa realizada junto à categoria. Ora, sabemos todos que pesquisa reflete apenas um dado momento que tende a se alterar quando vai se construindo convicção acerca da justeza da proposta. Nos últimos anos já vimos muitos candidatos ganharem eleições quando as pesquisas os apontavam como derrotados.

A Estratégia da Campanha Salarial diz respeito aos caminhos que iremos construir rumo à vitória de nossas reivindicações. A Articulação defendeu a Mesa Única com mesas concomitantes enquanto as forças que formaram o Bloco formularam que a estratégia deste ano deve se dar em uma Mesa Geral com a Fenaban e Mesas Específicas nos Bancos Públicos com minutas específicas, inclusive com reposição das perdas salariais históricas. A princípio pode parecer proposições iguais, porém, não as são. A diferença está na determinação de recompor as perdas salariais a que os bancários dos bancos públicos foram submetidos durante os oito anos do Governo de FHC. Perdas estas que a força majoritária já não considera que deva ser mais apresentada aos bancos públicos.

Quanto à questão da Remuneração Variável, é tão venal que não gostaria de reproduzir aqui os argumentos utilizados. Só destaco que não é papel do movimento sindical estar auxiliando a gestão dos banqueiros determinando o nível de exploração a que os bancários devem ser submetidos para ganhar uns trocados a mais.

Assim como na Conferência de São Paulo (aqui corrijo uma injustiça) e na conferência nacional a voz firme de segmentos da categoria, que conformaram um bloco, aqueceu o gélido debate, espero, torço e confio que estas mesmas forças possam ser chamas que aqueçam nossa fria campanha salarial e dar direção aos verdadeiros anseios de nossa categoria. Cabe aos bancários e bancárias dos diversos bancos alimentar esta chama.


Eduardo Navarro é bancário do Bradesco, vice-presidente da Feeb Ba/SE, coordenador do Ramo Financeiro e tesoureiro adjunto da CTB Nacional.

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