Ofraneh: ‘O golpe começou com a adesão de Honduras à Alba’

Hoje (21) completam 55 dias do golpe de Estado que depôs e expulsou de Honduras o presidente Manuel Zelaya e impôs o então presidente do Congresso Nacional, Roberto Micheletti, como mandatário provisório do país.

Nas ruas, a população e organizações populares se mantêm em protestos, principalmente na capital Tegucigalpa e na cidade industrial de San Pedro Sula. A atuação de organizações nacionais e locais estimula a atuação dos hondurenhos e dá visibilidade à resistência internacionalmente. Prova disso são as diversas missões e organismos que visitam semanalmente o país em conflito.

A ADITAL entrevistou, por e-mail, a Organização Fraternal Negra Hondurenha (OFRANEH), uma das entidades que compõem a Frente Nacional contra o Golpe de Estado. Para ela, o golpe já vinha sendo arquitetado há pelo menos dois anos, quando o país aderiu à ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América).

A entidade reforçou que o governo provisório "encobre os fatos se utilizando de eufemismos". Também denunciou que "os advogados próximos à Sra. [Hillary] Clinton [secretária de Estado dos Estados Unidos] serve como representantes do lobby dos financistas hondurenhos do golpe ante o Congresso dos EUA".

Adital – Depois de 55 dias do golpe de Estado, a situação no país segue mais preocupante, com grandes violações aos direitos humanos, perseguições e repressões. Quais as expectativas dos movimentos organizados?

Ofraneh – A Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado aglutina diversas organizações populares que confiam na restituição de Manuel Zelaya como presidente constitucional de Honduras, ademais que, dentro de nossa agenda, encontra-se a refundação do país por meio de uma assembleia constituinte e a elaboração de uma constituição que substitua a do ano 1982, a qual foi elaborada no período quando John Negroponte se desempenhava como embaixador dos Estados Unidos e a guerra fria se encontrava em seu clímax.

Adital- A postura mais firme dos Estados Unidos em relação ao Golpe e ao governo de fato segue sendo uma das demandas tanto dos movimentos como da Frente de Resistência. O próprio Manuel Zelaya iniciou uma cruzada diplomática a vários países solicitando mais apoio nesse sentido. O senhor crê na possibilidade dos Estados Unidos adotarem uma postura mais firme? No que isso implicaria, quais seriam os impactos?

Ofraneh – Aparentemente o Departamento de Estado reclama uma restituição de Zelaya ao poder, ao mesmo tempo, o círculo de advogados próximos à Sra Clinton serve como representantes do lobby de financistas hondurenhos do golpe ante o Congresso dos Estados Unidos. Especificamente no caso de Lanny Davis, contratado para esses ofícios pelos empresários golpistas, e o Sr. Bennet Ratcliff, que fez abertamente o papel como encarregado de tomar decisões em nome do governo de fato, na primeira rodada de negociações em San José, convocada pelo Presidente Arias.

Como mostra a ambiguidade por parte da Administração Obama sobre o golpe, encontram-se as declarações de Barack onde acusa de hipocrisia aos que exigem a intervenção dos Estados Unidos para enfrentar o golpe, quando o acontecimento foi friamente calculado por agentes do Pentágono.

O golpe se iniciou há uns dois anos, com a adesão de Honduras à Alba e, posteriormente, a posição assumida por Zelaya referente à base aérea de Palmerola (Soto cano) que pretendeu transformá-la em um aeroporto civil, exacerbando os interesses militares na região.

Adital – No entanto, as pessoas seguem nas ruas, em resistência. Como está a situação da repressão e das detenções ilegais?

Ofraneh – A repressão às marchas de repúdio é permanente. No entanto, o movimento popular não se desanima em sua luta permanente pela restituição da ordem democrática. Anistia Internacional apresentou na terça-feira (18) seu relatório sobre as violações dos direitos humanos em Honduras, onde pormenoriza os múltiplos casos de abusos que ocorreram.

Adital – O governo de fato, através da imprensa local, tem passado a ideia de normalidade e tranquilidade. Mas se sabe que há paralisações e manifestações diárias. Há como fazer um panorama de como está caminhando a vida em Honduras?

Ofraneh – Assim como a grande maioria dos meios de comunicação locais se apresentaram na gestação do golpe precedente à destituição de Zelaya, continuam na atualidade com sua posição de encobrir os fatos, utilizando eufemismos para maquiar o golpe de estado e encobrindo as agressões da parte dos militares e policiais à população civil.

A crise econômica mundial mais a paralisação da economia local como consequência das marchas de repúdio ao regime de fato colocam Honduras em um abismo econômico sem precedentes.

É óbvio que o regime já teria deixado de existir se os Estados Unidos tivessem freado o comércio entre os dois países. Apesar de uma suposta suspensão da ajuda econômica humanitária, prosseguem os desembolsos do chamado Fundo do Milênio, tal como apontam as mesmas fontes do governo dos Estados Unidos.

Fonte: Agência Adital

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