Bancário, um trabalhador perdendo a identidade

Há alguns anos, ser bancário era motivo de status e orgulho para qualquer família. Primeiro porque não existia tanta rotatividade. As vagas eram raras. Quem estava empregado só perdia a vaga se realmente cometesse infração gravíssima. Os salários eram razoáveis, não existia tanta sobrecarga de serviço e acúmulo de funções, e não havia um avanço tecnológico para maltratar o bancário. Hoje, o que enfrentamos é a degradação da categoria com uma redução drástica do número de trabalhadores. Muitos eram demitidos e posteriormente contratados como terceirizados exercendo as mesmas funções, com condições rebaixadas de salários e benefícios, além de uma jornada desregulada.

Os que sobrevivem à categoria, menos da metade de 15 anos atrás, são submetidos a situações insuportáveis. A sobrecarga tem provocado o adoecimento da categoria. Mais da metade dos bancários está com algum tipo de doença ocupacional. A maior incidência são as LER-Dort, que geram problemas psicológicos e em alguns casos levam até ao suicídio. Alguns fatores são determinantes para que isso aconteça: a cobrança de metas e o assédio moral. O bancário passou a viver da comissão de vendas. Hoje, só fala em remuneração variável, abonos, vendas de produtos, competição interna, tudo isso,  além das tarefas diárias.

Hoje o piso da categoria é, em média, de dois salários mínimos, “recheados” por outros benefícios indiretos, não levados em conta para efeito de aposentadoria. Uma categoria que exige tanta qualificação deveria ter uma remuneração à altura.

Em contrapartida à evolução do império dos bancos, o que se vê nos últimos anos é a corrida alucinante por batimento de recorde de lucratividade e a concentração cada vez maior no sistema financeiro. Aconteceram fusões e incorporações, principalmente investidas agressivas dos grupos estrangeiros no Brasil, que levaram à perda de milhares de postos de trabalhos e fechamento de agências e departamentos, além de corte de benefícios.

Nos bancos públicos, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, houve um verdadeiro desmonte, com medidas visando a privatização. Foram programas de desligamento “voluntário” impostos ao funcionalismo. A era FHC ficou marcada pelos reajustes “zero”, além de que os funcionários que entraram após 1998 têm benefícios rebaixados em relação aos antigos. Hoje, uma das principais bandeiras dos empregados dos bancos públicos é a justa luta pela isonomia. Esses bancos deixaram de cumprir um papel social para ajudar no desenvolvimento do país e passaram disputar o mercado como os bancos privados.

Lamentável o momento que vive a categoria. Precisamos resgatar a nossa identidade com salários dignos, respeito à jornada, contra a sobrecarga de trabalho e funções, o assédio moral, a cobrança de metas, pela estabilidade no emprego (ratificação a convenção 158 da OIT), as armadilhas dos banqueiros com salários “indiretos” que não somam como verbas salariais e não contam para aposentadoria, pelo pagamento das perdas salariais, principalmente nos bancos públicos, e pelo resgate do seu papel social.

A luta é contra os poderosos, mais não perco a esperança de, juntos, conseguirmos mudar essa história. Vamos à luta pelo resgate de nossa categoria!!!

 

*Adelmo Andrade é diretor de Imprensa do SBBA e funcionário do Santander

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