Na ONU, Lula diz que comunidade internacional quer restituição de Zelaya

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, no discurso de abertura da 64ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York (EUA), que toda comunidade internacional "exige que [Manuel] Zelaya reassuma imediatamente a Presidência do país". Deposto do poder em Honduras, Zelaya está abrigado desde segunda-feira (21) na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. O prédio está cercado pelas tropas hondurenhas, sob comando do governo interino do país.

Em seu discurso à ONU, Lula pediu que seja garantida a "inviolabilidade da embaixada brasileira na capital hondurenha", arrancando aplausos da plateia de 119 líderes mundiais.

O presidente deposto de Honduras chegou de surpresa à capital Tegucigalpa, segunda-feira. Ele confirmou em entrevista à Folha publicada nesta quarta-feira que o Brasil "não sabia" de seus planos. "Tomei a decisão de vir direto à embaixada por uma questão de estratégia, uma posição de reserva, para que o plano não corresse risco."

O Ministério de Relações Exteriores do Brasil afirmou nesta terça-feira que o Brasil foi alertado pouco antes da viagem de Zelaya por uma deputada hondurenha favorável ao líder deposto. O encarregado de Negócios da embaixada brasileira, o diplomata Francisco Catunda Rezende, avisou então o chanceler Celso Amorim que conversou com o presidente deposto por telefone quando este já estava na embaixada brasileira.

Segundo o Itamaraty, Zelaya disse ter buscado abrigo na embaixada para voltar para à Presidência por meio do diálogo e de forma pacífica.

Lula pediu ainda mais comprometimento e "vontade política" da organização para confrontar situações que conspiram contra a paz, o desenvolvimento e a democracia, e citou o golpe de Estado de 28 de junho em Honduras, cujo líder, disse, tem "refúgio garantido" na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

O Brasil solicitou nesta terça-feira uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir a nova situação em Honduras.

O Conselho de Segurança da ONU, no qual o Brasil reivindica há uma década uma reforma e uma vaga como membro permanente, é presidido este mês pelos Estados Unidos.
Lula aproveitou o discurso para pedir justamente a abertura do Conselho a novos membros permanentes, além de EUA, Rússia, China, França e Reino Unido.

Cerco

Centenas de efetivos de segurança, alguns mascarados e outros portando armas automáticas, mantiveram nesta quarta-feira uma área ao redor do prédio da embaixada do Brasil onde Zelaya se refugiou com a família e um grupo de cerca de 40 partidários.

O Ministério de Relações Exteriores do Brasil confirmou que a eletricidade, a água e o telefone da embaixada foram cortados por várias horas, mas que estava permitida a entrada de alimentos. Segundo o Ministério Público hondurenho, representantes da ONU levaram alimentos e água para o presidente deposto.

De acordo com o 22º artigo da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961, os locais das Missões Diplomáticas (embaixadas e edifícios anexos) são invioláveis. Os agentes do estado acreditado (que recebe a embaixada) não podem penetrar neles sem o consentimento do chefe da missão.

Um toque de recolher, que virtualmente parou a capital, foi ampliado até as 18h desta quarta-feira (21h no horário de Brasília) e provocou o fechamento de aeroportos, escolas e comércios.
Micheletti disse nesta terça-feira que Zelaya pode ficar na embaixada por "cinco ou dez anos, nós não temos nenhum inconveniente que ele viva ali", sinalizando estar preparado para um conflito demorado.

Na terça-feira, policiais e militares dispersaram com bombas de gás lacrimogêneo, carros hidrantes e uma antena que emitia um som ensurdecedor os manifestantes que se aglomeravam diante da embaixada brasileira. Os manifestantes pró-Zelaya se defenderam jogando pedras, em um conflito que deixou ao menos 20 feridos, nenhum em estado grave, e cerca de 150 presos.

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