Professores de ciências, sem fé nas ciências

Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) mostrou que estudantes evangélicos querem se tornar professores de ciências, mas não aceitam a teoria da evolução, descoberta por Charles Darwin.
O biólogo com mestrado em Zoologia do Museu Histórico Nacional, Luis Fernando Marques Dorvillé, questiona como alguém pode ensinar ciências sem acreditar na teoria de Darwin.

Nos últimos oito anos ele entrevistou alunos evangélicos da UFF e da Universidade Estadual do Rio (Uerj) para sua tese de doutorado na UFF. Dos 245 matriculados no número é mais alto do que revelou o Censo de 2000 (15,44% dos brasileiros são evangélicos), mas muito próximo das estimativas de crescimento que o próximo Censo deve mostrar em 2010.

Dorvillé distribuiu questões como “Comente a frase: alguns seres vivos têm parentesco maior entre si do que com outros”. Descobriu que 70% dos alunos protestantes desconfiam da teoria da evolução, assim como 30% dos católicos e 20% dos espíritas e umbandistas.

De um aluno o professor obteve esta pérola como resposta: “Minha avó não é macaca. Então foi Deus quem criou o homem.” Pobre animal! Outros estudantes querem conciliar o inconciliável e aceitar a evolução, porém tendo Deus como guia do processo. Alguns admitem a evolução para outras espécies, menos para o homem, pois este teria alma. Só nós outros, desalmados, seríamos resultados da evolução da espécie.

Olhando ao redor, às vezes a gente pensa que realmente algumas pessoas não evoluíram…
Há ainda os que querem forçar que o universo foi criado em seis dias, mas a leitura não seria literal, e então inventam que entre um dia e outro ocorreram eras geológicas e o processo de evolução. São realmente misteriosos os caminhos da fé! Dias que duram eras geológicas é tão compatível com a realidade quanto uma virgem ter filho. Mas parece que não há incompatibilidades para a crença humana.

A área de ciências é uma das que mais sofre com a falta de professores no país. Pela carência de profissionais, a maioria dos formandos consegue emprego assim que deixa a universidade. “Muitos deles estudam biologia justamente porque o acesso é mais fácil. Não tem muita disputa de vagas no vestibular”, constata o professor Dorvillé.

Tristes trópicos, como diria o recém falecido Claude Lévi-Strauss.

A pergunta que fica: as seitas aceitariam um pregador confessadamente ateu?

Para resistir a tudo isso, realmente a ciência tudo pode naqueles que a fortalecem.

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