Uma fraude eleitoral para legitimar o golpe em Honduras


As eleições que serão realizadas domingo (29) em Honduras nada têm de democráticas. Foram convocadas por um governo ilegítimo com o único propósito de institucionalizar o golpe militar que depôs o presidente Manuel Zelaya em 28 de junho deste ano. Não se trata de um pleito legítimo, mas de uma fraude rechaçada pela Frente Nacional de Resistência ao Golpe e por parcelas ponderáveis da população.

Brasil, Venezuela, Equador, Bolívia e muitos outros países latino-americanos não vão reconhecer a farsa e têm um forte motivo para isto. “Um golpe de Estado não pode ser legitimado”, destacou nosso ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Uma posição divergente dos EUA, que respaldam o movimento dos golpistas e vão apoiar e reconhecer o processo eleitoral.

Jogo duplo

Na verdade, o império faz um jogo duplo insidioso. Para manter a aparência enganosa de uma política externa guiada por princípios democráticos, o presidente Obama condenou formalmente o golpe, enquanto nos bastidores a diplomacia norte-americana apoiava os gorilas golpistas. Conforme muitos analistas denunciaram, o golpe em Honduras seguiu um script clássico aplicado em muitos países da região. As digitais do império ficaram impressas no triste episódio.

Sem a conivência dos EUA, não haveria golpe em Honduras. É igualmente verdade que se o governo Obama tivesse real interesse em restabelecer a democracia no país não lhe faltariam meios poderosos para constranger os golpistas ao recuo. Mas, como se sabe, não os utilizou. Limitou-se a uma condenação branda e formal. Não é de surpreender que esteja apoiando a fraude eleitoral montada para institucionalizar o golpe. Os interesses imperialistas falaram mais alto do que a suposta ética democrática do presidente e sua equipe.

Interesses imperiais

O objetivo dos golpistas é muito simples e coincide plenamente com os interesses do imperialismo ianque: interromper e impedir as mudanças que o governo Zelaya estava implementando e pretendia aprofundar através de uma Assembléia Nacional Constituinte. Convém lembrar e ressaltar o ingresso do país na ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) e a decisão de acabar com a base militar dos EUA no país.

Honduras adentrara, assim, pelo acidentado caminho das mudanças que vem sendo desbravado com entusiasmo e esperança por outros povos latino-americanos. Foi isto que despertou a ira e a reação golpista da oligarquia local, que tem uma vil história de servilismo ao imperialismo. Os EUA fingiram indignação diante do golpe, que não apoiaram explicitamente, mas agora parecem claramente satisfeitos com os resultados e decidiram respaldar seu desfecho, ou seja, a fraude eleitoral convocada para o próximo domingo.

A classe trabalhadora e as forças progressistas e democráticas da América Latina têm a obrigação de repudiar com energia a fraude que, pelo jeito, vai se consumar no domingo. O golpe é um mal sinal para todos os povos e nações da região. A democracia não está consolidada no continente. As forças do atraso e do golpismo, em aliança com o imperialismo estadunidense, ainda são muito poderosos. É imperioso lutar para impedir o retrocesso, defender a democracia e avançar no processo de mudanças. Neste sentido, impõe-se o firme repúdio ao golpe e a denúncia do jogo duplo, e sujo, promovido pelo imperialismo.

João Batista Lemos, secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB

  

 

  

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