Miguel Arraes e as Questões Trabalhistas

As questões trabalhistas sempre mobilizaram Miguel Arraes para a luta. Quis o destino, ou outra justificativa de passagem tão marcante nas nossas vidas de trabalhadores e trabalhadoras, que ocorressem dois últimos fatos protagonizados pelo nosso inesquecível comandante Arraes, que agora me vem à mente e que tive a honra de testemunhar: o primeiro, quando o acompanhei no Congresso da CONTAG, no final de 2004. Fui à frente, para acordar, com o então presidente Manoel de Serra, o melhor horário para Arraes chegar ao evento. Havia uma grande confusão, os delegados e as delegadas, aos milhares, discutiam questões polemicas como a desfiliação da CONTAG à CUT (o que só veio se concretizar agora, em 2009, com a maioria alcançada pelas FETAGs ligadas a CTB). O clima era tão tenso que até umas cadeiras foram jogadas para “o alto”. Preocupado, liguei para o comandante Arraes que, mesmo sabendo da situação, confirmou sua ida ao referido Congresso. Assim fez. Ao chegar ao pavilhão do parque da cidade, em Brasília, onde o evento realizava-se, a confusão, que era grande, aumentou, mesmo assim, Arraes aceitou falar para os Congressistas Campesinos que diante do imponente líder, sentaram-se todos e todas e ouviram, em silêncio, a voz rouca, firme, amiga e solidária que abrandou o ânimo da discórdia dos presentes, recolocando nos termos da unidade o evento dos camponeses. Arraes foi aplaudido de pé por todos os trabalhadores e trabalhadoras e, na saída, foi cercado por centenas de camponeses que pediam autógrafos e para fazer fotos;

O segundo fato, foi quando no final de maio de 2005, comuniquei-lhe da preocupação do movimento sindical do PSB, diante das ameaças da reforma trabalhista em curso, iniciada através da famigerada PEC 369/05, que quebrava a unicidade sindical e abria uma fenda para a reforma trabalhista reduzindo direitos e conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras. O Comandante Arraes não hesitou, convocou a Executiva Nacional do PSB e a bancada federal, em reunião conjunta, realizada na Câmara Federal, para rechaçar a proposta. Naquele momento afirmava nosso Comandante ao encerrar a reunião, “a proposta é desarrazoada, votarei contra a mesma, e qualquer tentativa de dividir os trabalhadores e trabalhadoras”. Continuando, Arraes afirma, “sempre estarei contra os mecanismos de controle das forças conservadoras, que não querem o crescimento das forças emergentes da sociedade que desejam transformações mais profundas”. “Defendo a unicidade sindical e a manutenção e ampliação dos direitos, como resposta a essa tática de dividir os trabalhadores”, encerrou assim nosso líder. Foi seu último discurso à frente da Direção do PSB, para dias depois ser internado e não mais voltar, deixando-nos essa sensação de vazio, de orfandade, da sua presença, mais também, deixando-nos o caminho, a causa que nos revigora, o legado dos socialistas do nosso partido.

Neste momento em que lutamos para a aprovação, no Congresso Nacional, de medidas estruturais para o nosso País, entre estas, destacamos a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, nos vem à memória a militância do nosso eterno Comandante Miguel Arraes que, entre tantas outras ações a favor da classe trabalhadora, realizou o grande acordo do campo, na década de 60, reduzindo a jornada de trabalho e garantindo os mesmos direitos dos trabalhadores da cidade para os campesinos dos canaviais de Pernambuco. Memórias, estas, que nos servem como exemplo, inspiração e guia na conduta dos socialistas e das socialistas, em especial, à bancada federal que irá votar tão importante matéria para a vida dos trabalhadores e trabalhadoras, como no caso da redução da jornada de trabalho.


Joilson Cardoso é Professor, secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da CTB e secretário Nacional Sindical do PSB

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