Centenas de organizações exigem o fim da base de Guantânamo

O Movimento Cubano pela Paz e o Instituto Cubano de Amizade entre os Povos (Icap), realizou na semana passada, em Guantânamo, Cuba, uma atividade internacional pelo fechamento da base militar que os Estados Unidos mantêm há mais de um século no território. Primeira dentre todas as bases militares estadunidenses na América Latina e Caribe, Guantânamo simboliza o expansionismo, o intervencionismo e o imperialismo norte-americano na região.

Com centenas de organizações presentes, o evento contou com a presença da brasileira Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz (CMP). Realiza-se no quadro de uma campanha regional, lançada em janeiro, durante o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, pela abolição de todas as bases militares estrangeiras e pela afirmação da América Latina e do Caribe como uma região de paz. A campanha é desenvolvida por mais de uma centena de entidades, movimentos sociais e políticos de toda a região.

Leia abaixo a íntegra do pronunciamento de Socorro Gomes.

Vivemos uma época de mudanças promissoras no cenário econômico e geopolítico do planeta. A ordem imperialista mundial, fundada na supremacia dos EUA, entrou em crise, corrompida pelo parasitismo e a decadência da potência hegemônica, que contrasta com a extraordinária ascensão da China. O crescimento ininterrupto da próspera nação asiática, durante décadas e a uma taxa média anual superior a 9%, é uma prova inconteste da superioridade da chamada economia socialista de mercado sobre o capitalismo neoliberal praticado e difundido por Washington.

O clima também mudou na América Latina com a emergência, em vários países, de governos progressistas, que rejeitaram a Alca e decidiram apostar na integração política e econômica da região. Criaram a Comunidade de Estados da América Latina e Caribe, com a participação de Cuba e a exclusão dos Estados Unidos, a Unasul, o Conselho de Defesa da América do Sul, e buscam modelos de desenvolvimento soberanos e alternativos ao neoliberalismo.

A necessidade de uma nova ordem mundial tornou-se óbvia e tem caráter objetivo. Entretanto, a transição neste sentido não será tranquila, pois enfrenta forte resistência do imperialismo. Os Estados Unidos, a despeito da eleição de Barack Obama, reagem ao próprio declínio intensificando, em todo o mundo, a ofensiva política, ideológica e militar contra os povos, visando recuperar terreno e preservar a qualquer custo os interesses e domínios do império.

São muitos os sinais disto. Podemos citar a continuidade da ocupação militar e da guerra contra o povo do Iraque; a intensificação do conflito no Afeganistão; as verbas destinadas à defesa correspondente a 50% dos gastos bélicos de todo o mundo; as provocações e ameaças contra o Irã; a campanha reacionária contra Cuba; a reativação da IV Frota; o golpe em Honduras e a instalação de novas bases militares. Essas iniciativas constituem uma séria ameaça às nações e uma clara negação da Paz Mundial.

A conquista da Paz Mundial passa necessariamente pela denúncia, o combate e a derrota dos desígnios imperialistas, o banimento das armas nucleares, o respeito do direito das nações à soberania, o estabelecimento de relações justas e fraternas entre os povos, o encerramento das bases militares mantidas pelas potências capitalistas, em especial os EUA, no exterior. É com esta convicção que o os movimentos pela paz na América Latina e Caribe lançaram, no final de janeiro deste ano, durante o Fórum Social Mundial, a campanha pela erradicação de todas as bases militares estrangeiras no continente americano, intitulada “América Latina e Caribe, uma região de paz”.

É preciso destacar e intensificar a luta pelo fechamento da Base Naval de Guantânamo e o fim da infame prisão que os EUA mantêm no território de Cuba a despeito da oposição do governo revolucionário da ilha socialista e das forças e governos democráticos e progressistas de todo o mundo. O império construiu ali um centro de tortura que é um escândalo mundial. Lembremos que, aparentemente sensibilizado com a denúncia dos horrores praticados pelos militares contra prisioneiros políticos acusados de terrorismo, em janeiro de 2009 o presidente Barack Obama prometeu acaba com o campo de concentração no prazo de 12 meses.

O prazo se esgotou, mas Obama não cumpriu a promessa. Também se comprometeu com um novo cronograma. Localizada próximo de Santiago de Cuba, a base de Guantânamo foi construída em 1903, abarca uma área de 117,6 quilômetros quadrados entre terra firme, mar, água e pântano. É a base mais antiga dos EUA. Abriga três campos de detenção: Camp Delta, construído em 2002 e composto de cinco outros campos; Camp Iguana e Camp X-Rav, atualmente desativado. Estima-se que desde a abertura desses campos já passaram por lá 775 prisioneiros sem acusação formada, sem processo constituído e, obviamente, sem direito a julgamento.

Em Guantânamo transparece a vilania, a arrogância e o cinismo imperialista dos EUA. De acordo com denúncias da Cruz Vermelha Internacional, os detentos são vítimas de tortura, desrespeito aos direitos humanos e à Convenção de Genebra. Entre os crimes cometidos, relatados pelo soldado estadunidense Brandon Neely (que serviu por seis meses em Guantânamo), incluem-se o transporte dos prisioneiros em jaulas, abusos sexuais cometidos por médicos, variados tipos de tortura, espancamentos brutais que deixaram o chão encharcado de sangue, desrespeito às práticas religiosas (como forçar a vítima a comer carne de porco ou assistir profanações do Alcorão) e prisão de crianças.

As barbaridades cometidas pelos Estados Unidos em Guantânamo, assim como na prisão de Abu Gharaib no Iraque, revelam o caráter hipócrita da retórica imperialista sobre democracia e direitos humanos. Acusam o governo revolucionário de Cuba de não respeitar os direitos humanos e é com este pretexto que desencadearam uma campanha feroz contra a ilha socialista, que desde a revolução, em 1959, tem sido vítima de atentados, pressões, agressões e chantagens promovidas por Washington.

A verdade é outra. A revolução cubana aboliu a tortura, que seus líderes abominam, assim como acabou com o analfabetismo, o desemprego, a miséria e universalizou a assistência pública e gratuita à saúde para todo o povo. A ilha é uma fonte de humanismo, que inspira admiração e respeito em todos os povos do mundo. O que Cuba mais exporta hoje é solidariedade, enviando seus abnegados médicos e professores a diversos países carentes. O Estado norte-americano extrapola os limites territoriais da nação, é por essência imperialista. E os imperialistas não têm moral para falar em democracia ou direitos humanos, pois é notório que estiveram por trás de todos os golpes militares ocorridos na América Latina ao longo dos séculos XX e XXI, incluindo os mais recentes, na Venezuela (felizmente derrotado) e em Honduras.

Os interesses dos monopólios ianques não são compatíveis com a democracia, muito menos com os direitos humanos. Cuba é atacada porque é rebelde, porque não se subordina às imposições do império, porque zela pela soberania e dignidade do seu povo, porque, afinal, a revolução socialista, que completou 51 anos em janeiro, expropriou os expropriadores ianques. Submetida há cinco décadas a um criminoso bloqueio econômico, o país resiste com heroísmo e conta com a solidariedade de todas as forças progressistas do mundo.

O capitalismo americano, por seu turno, amarga a segunda maior crise de sua história, mas seus líderes não extraem da história as lições corretas. Estima-se em 30 milhões o número de trabalhadores e trabalhadoras sem emprego ou com ocupações precárias. O Estado imperialista pouco ou nada faz para amenizar a dor das camadas mais pobres da população, porém destinou cerca de um trilhão e meio de dólares do orçamento público a uma operação de resgate do seu corrompido sistema financeiro, protegendo bancos e banqueiros. Incorreu com isto em dívidas e déficits colossais, que hoje constituem a principal fonte de desequilíbrios econômicos no mundo. Mas não reduziu os gastos militares, que consomem anualmente centenas de bilhões de dólares.

Pelo contrário. O declínio econômico deixou o império ainda mais agressivo e arrogante. Nós, no Conselho Mundial da Paz, continuaremos batalhando, ao lado das forças democráticas e progressistas, por uma nova ordem mundial, fundada em relações justas e democráticas entre as nações, na solidariedade e mútuo respeito entre os povos. Não calaremos diante da barbárie mundial promovida pelo sistema capitalista e imperialista, sob a liderança dos Estados Unidos.
Hipotecamos, nesta nossa trajetória, total solidariedade ao povo e aos revolucionários cubanos. Reivindicamos o fim do odioso bloqueio econômico imposto pelo império contra Cuba, que provoca graves prejuízos ao país; unimos nossa voz aos que pedem a libertação dos cinco patriotas cubanos presos nos EUA. Estamos convencidos de que nossa luta, por mais árdua que seja, resultará em vitória. Neste caminho vamos conquistar a paz, a justiça social, o fim da exploração do homem pelo homem, das agressões imperialistas, da violência contra os povos.

Continuaremos cobrando a promessa feita por Obama de fechar a prisão de Guantânamo, mas queremos muito mais. Queremos o encerramento da base naval mantida pelo imperialismo na ilha socialista e a devolução do território à soberania cubana; lutamos pelo fim de todas as bases militares que os Estados Unidos e outras potências mantêm em outros países contra a vontade dos povos e com objetivos escusos, que em si constituem séria ameaça à paz e à convivência pacífica das nações. Não arriaremos nossas bandeiras. Pelo fim do imperialismo, pela paz mundial, pelo banimento das armas nucleares, por uma nova ordem econômica e política.

Viva Cuba socialista. O futuro nos pertence.
Muito Obrigada!

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