Em novo patamar, Brasil aumenta segurança de plataformas de petróleo

O Brasil vem acompanhando bem de perto a catástrofe ecológica no Golfo do México, ciente de ser um dos países mais expostos a um acidente similar desde que se iniciou na exploração de imensas jazidas de petróleo e gás em suas águas profundas do Atlântico.

Os diretores da Agência Nacional do Petróleo (ANP), órgão regulador oficial, e os da Petrobras se recusam a comentar o acontecimento, enquanto não forem descobertas as causas exatas do desastre. Mas eles não demoraram a agir, de forma discreta.
Logo após a explosão da plataforma Deepwater Horizon, no dia 20 de abril, a ANP enviou às operadoras petrolíferas um questionário destinado a avaliar a qualidade de suas instalações e a adequação de seus procedimentos de segurança, especialmente em alto-mar.

Em maio, diretores da Petrobras declararam, diante da Câmara dos Deputados, que suas equipes de resgate estavam aptas a intervir em um prazo máximo de 24 horas em qualquer instalação no Brasil, e em um prazo de 8 horas nos campos offshore mais distantes.

O Brasil é há muito tempo o líder mundial da exploração em águas profundas, uma atividade que domina perfeitamente. Seu aprendizado nessa área teve suas atribulações. Em 1984, uma explosão incendiou a plataforma central de Enchova: 42 pessoas morreram durante a evacuação. Em 1988, uma outra explosão destruiu a mesma plataforma, sem fazer vítimas.

Em julho de 2009, no campo de Tupi, na bacia de Santos, um sistema de parafusos se rompeu devido à alta pressão submarina. O incidente não provocou vazamento, mas chamou a atenção para a necessidade de substituir e reforçar determinados materiais. Dois outros incidentes ocorreram recentemente em outras plataformas. Em maio de 2010, uma boia de 900 toneladas afundou sem provocar danos. Em 7 de junho, um vazamento foi rapidamente reparado, após a perda de 1.500 litros de petróleo.

A descoberta, em 2006, de jazidas em águas profundas, a mais de 7 mil metros e sob uma espessa camada de sal de 2 mil metros – que explica o nome em português “pré-sal” – inaugurou uma nova era da exploração petrolífera no Brasil, cheia de incertezas. Antes, a Petrobras extraía petróleo a uma profundidade máxima de 1.886 metros, o que já constituía um recorde mundial.

Os especialistas reconhecem que essa nova fronteira submarina certamente revelará surpresas. “Em tais profundezas, e com pressões tão fortes, não podemos fingir que estamos preparados para qualquer eventualidade”, admite Segen Estefen, chefe de um laboratório universitário que trabalha com a Petrobras. “É um novo paradigma”, resume Magda Chambriard, diretora da ANP.

São vários os desafios tecnológicos. Sabe-se muito pouco ou quase nada sobre as rochas carboníferas, porosas, e com 120 milhões de anos de idade, onde jaz o petróleo. A baixa temperatura do mar (4°C) provoca um risco de formação de parafina sólida nos risers, os tubos de escoamento do petróleo. A forte pressão também pede um reforço de suas paredes. Os sedimentos acima do sal são instáveis e complicam a instalação das âncoras que estabilizam as plataformas.

O principal perigo é o da corrosão provocada pela forte presença de CO2 nas jazidas que, em contato com a água, produz ácido carbônico. Isso exige o uso de novas ligas, à base de níquel, mais leves e mais resistentes. Uma corrosão prematura no equipamento instalado no fundo do mar, chamado de “Árvore de Natal”, provocou uma suspensão das perfurações em Tupi em julho de 2009.

A distância das jazidas – até 300 km da costa – complica sua exploração. Com o tempo, as plataformas do pré-sal serão geridas de forma diferente. “Haverá menos funcionários a bordo”, prevê José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras. “Elas serão mais automatizadas e controladas à distância por computadores”.

A companhia está estudando duas soluções: a instalação de oleodutos ligando os poços e a costa, evitando que o petróleo passe pelas plataformas ou pelos navios de produção; a construção de bases intermediárias, como ilhas artificiais, entre as jazidas e a costa.

O pré-sal abriga entre 50 e 100 bilhões de barris provados e deverá fazer do Brasil o 4º maior produtor mundial de petróleo em 2030. Até lá, as boas notícias vêm uma atrás da outra. Duas grandes jazidas foram descobertas em maio no espaço de uma semana: Franco (4,5 bilhões de barris) e Libra, certamente ainda mais rica. O Brasil continua descobrindo seu tesouro no fundo do mar.

Le Monde

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