FMI já está dando as cartas da estagnação na Grécia

 

A Grécia está no caminho certo com o arrocho imposto aos trabalhadores? Depende do ponto de vista. Uma delegação conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), demonstrou nesta quinta (17) notória satisfação com o pacote recomendado por eles e imposto ao país pelo governo social-democrata liderado por George Papandreou, que provocou revolta e cinco greves gerais somente neste ano.

“O programa está no rumo certo em todos os sentidos”, sustentou o representante da CE, Servaas Deroose, durante coletiva de imprensa em Atenas. O diagnóstico está em linha com os interesses dos bancos e banqueiros, sobretudo franceses e alemães, que na verdade são os grandes beneficiários do arrocho imposto ao povo helênico.

Pântano da estagnação

A julgar pela experiência histórica, pela resposta da classe trabalhadora e por economistas com senso crítico, a resposta à pergunta com que iniciamos este artigo é outra. É NÃO. O pacote de arrocho monitorado pelo FMI pode até salvar os bancos da Alemanha e da França, mas tende a conduzir a Grécia ao pântano da estagnação.

O arrocho dos salários e o corte de direitos, além de despertarem a justa revolta da classe trabalhadora, vão repercutir negativamente sobre o mercado interno e a taxa de consumo, dificultando a recuperação da economia. Por isto se diz que a economia grega não voltará aos níveis pré-crise antes de 2017.

Evitar a moratória

O plano de “austeridade” do FMI e da União Europeia não é guiado pelo objetivo de amenizar o sofrimento do povo grego e promover a produção e o emprego, muito pelo contrário. Sua finalidade, única e exclusiva, é evitar a moratória e garantir o pagamento da dívida externa aos bancos franceses e alemães, o que se fará (se for bem sucedido) à custa da classe trabalhadora, com o sacrifício de salários e direitos.

Lembremos o legado dos acordos com o Fundo no Brasil, firmados a partir de janeiro de 1983, quando por aqui explodiu uma crise da dívida externa em muitos aspectos parecida com a crise grega. O Brasil viveu pelo menos duas décadas perdidas. A Argentina foi à bancarrota e dela saiu, a partir de 2001, com a moratória da dívida externa.

Desemprego em alta

Preste também atenção ao que diz o economista Paul Krugman em artigo que o Vermelho reproduz hoje sobre as supostas virtudes do arrocho fiscal, um remédio (ou veneno) que as potências capitalistas gostam de impor aos países mais pobres mas evitam quando o problema é lá com elas.

É sintomático que, no momento em que burocratas do FMI e da Comissão Europeia elogiam o comportamento servil do governo grego, que se dobrou diante de suas exigências, dados oficiais apresentados nesta quinta-feira (17) mostram que o desemprego se elevou ao nível mais alto em 10 anos.

Entre janeiro e março, a taxa de desocupados ficou em 11,7%. Um ano antes, estava em 9,3%. O desemprego foi mais elevado no grupo com idade de 15 anos a 29 anos, no qual a taxa subiu a 22,3%.

“O programa está no rumo certo em todos os sentidos”, garantiu Servaas Deroose. Falta verificar a opinião dos trabalhadores, que já realizaram cinco greves gerais ao longo deste ano e prometem ocupar as ruas outras vezes em defesa dos seus direitos e da economia nacional, ambos seriamente ameaçados pelo pacote do FMI e UE. A salvação da Grécia virá das ruas.


 

Umberto Martins é jornalista

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