Sem consenso, Unasul convoca cúpula presidencial para discutir crise

A reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) terminou, na noite desta quinta (29), sem um acordo para solucionar a crise diplomática entre Venezuela e Colômbia. Em meio à falta de consenso, os representantes da Unasul pediram à presidência rotativa da entidade – ocupada pelo Equador – que convoque uma cúpula de presidentes, o mais rápido possível, para que os chefes de Estado analisem as diferentes posições apresentadas na reunião.

“Esperamos que ocorra nas próximas semanas”, assinalou o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño. “Oxalá seja um segundo passo adiante na aproximação dos governos de dois povos irmãos”, completou, acrescentando que a convocação da cúpula e a data serão definidas pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, e o secretário-geral da Unasul, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner.

Ao resumir as discussões de ontem, Patiño afirmou que não foi possível chegar a um acordo por causa das amplas divergências dos chanceleres Jaime Bermúdez, da Colômbia, e Nicolás Maduro, da Venezuela. Mas destacou a importância de eles terem se sentado na mesma mesa.

Patiño disse que, por causa das divergências, não chegaram a acordo sobre um mecanismo de “verificação” da denúncia de Bogotá de que cerca de 1.500 guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) se refugiam em território venezuelano – acusação que levou a Venezuela a romper relações diplomáticas com o país vizinho na semana passada.

“Não se chegou a uma resolução final”, disse o chanceler do Equador, Ricardo Patiño, em entrevista coletiva em Quito, de acordo com rede latino-americana Telesur. “Não vamos ter um documento oficial assinado por cada um dos chanceleres, pois ainda há posições distintas” que não permitiram a elaboração de um documento final, explicou Patiño.

Após a reunião, Bermúdez insinuou que a Venezuela se negou a assinar um acordo final que estabelecia a cooperação na luta contra o terrorismo e o narcotráfico. A acusação foi imediatamente negada por Maduro. “O chanceler da Colômbia vai deixar a Unasul mentindo. O objetivo dessa reunião não era sair daqui com uma resolução”, afirmou o chanceler. Maduro disse ainda que recebeu garantias de Bogotá de que não haverá qualquer ação militar contra a Venezuela.

Já ao desembarcar em Quito, o chanceler colombiano tentou esvaziar o encontro, afirmando que não tinha “grandes expectativas” sobre a capacidade de a cúpula produzir resultados práticos. Bermúdez chamara a atenção para a ausência, na reunião, do secretário-geral da Unasul, assim como ao fato de alguns países terem enviado vice-chanceleres – como é o caso do Brasil, representado pelo secretário-geral do Itamaraty, Antônio Patriota.

O chefe da diplomacia colombiana disse ter escutado “de vários países” que a reunião de ontem no Equador não era “conveniente”. Ele indicou ainda que a Colômbia não recuaria nas denúncias de que as Farc atuam livremente na Venezuela e voltaria a exigir que Caracas entregue os guerrilheiros.

O chanceler venezuelano, por sua vez, prometeu apresentar aos 12 integrantes da Unasul um plano e uma metodologia para consolidar a paz em território colombiano. Maduro manteve o tom duro e culpou Bogotá pela violência: “O Estado colombiano é o único que produz essa guerra, ameaça seus vizinhos e abandona seu território.”

As denúncias sobre a presença das Farc na Venezuela voltaram a ser negadas pelo chanceler de Caracas. “Exercemos plena soberania sobre os 2.219 quilômetros de fronteira que temos com a Colômbia”, assegurou Maduro. “Viemos expor e denunciar as agressões do governo que está de saída na Colômbia e vamos propor ideias para que se possa retomar o caminho da paz justa”, explicou o venezuelano. Bermúdez respondeu atacando a “ingerência” venezuelana.

Brasil

Durante o encontro, o Brasil colocou sobre a mesa de reunião uma proposta com cinco pontos, na qual se destaca o compromisso de Colômbia e Venezuela de resolver suas diferênças, e que ambos países lutem contra grupos armados ilegais, especialmente os vinculados ao narcotráfico.

De acordo com a Telesur, o documento, que orientaria a reunião de presidentes, iniciava com a declaração da América do Sul como zona de paz. Na proposta também se pede a Colômbia e Venezuela o “compromisso de resolver diferenças por meios pacíficos” e que ambas as nações não façam “declarações públicas que agravem a situação”. Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela telesur, Peru, Uruguai, Paraguai e Bolívia apoiam a proposta do Brasil.

Com agências

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