O fator boato

Não há um santo dia em que abra meu e-mail pessoal e não dê de cara com um mundaréu de e-mails vindos de um “não sei onde”, enviados por um “não sei quem” arroba isso e aquilo ou fulana arroba disto e mais daquilo. Para mim, sinceramente, contatos absolutamente desconhecidos. Sabe-se, contudo, do seu fim último: atacar, de forma vil e torpe a candidata Dilma Roussef. Corrijo… Estes infames (des) informes saídos da decadente cloaca política da ultra-direita não querem nada com a candidatura de Dilma. Diga-se de passagem, que candidatura é temática fundamentalmente política e que traz à baila, categorias relativas ao cenário, às circunstâncias, às relações políticas e, sobremaneira, aos projetos de desenvolvimento para o país. Se este fosse o caso, estaríamos asseguradamente no melhor dos mundos. Teríamos um fecundo e necessário debate político. Mas qual… Nada disso! São obreiros do caos.

O que esses cyber-caluniadores da política pretendem é, de novo, investir fundo na desinformação, na confusão e na pior das dúvidas, qual seja aquela ancorada em toda sorte de machismos, de um preconceito de tipo militante e no obscurantismo como movimento epistemológico.
A maquinação desta direita visa desconstruir, se utilizando dos mais abjetos mecanismos de desqualificação ética, moral, política e mesmo existencial, a totalidade humana de Dilma. E para este trabalho sujo, não há qualquer tipo de decoro, pudor ou reserva. A fórmula desta gente é uma só: Um cansativo e falsário blá-blá-blá, tamanho quarenta e cinco, fonte Times New Roman, que acompanha duas ou três cores e que se estende sobre um PowerPoint. Cito ainda a indizível cantilena supostamente tocante, a fim, é claro, de gerar algum tipo de sensibilização do incauto ouvinte.

Feitos a partir de abordagens das mais diversas e que variam do passado supostamente “terrorista” da candidata, aliás, terminologia, não por acaso, advinda do vernáculo institucional da ultra-direita civil e militar e que lastimou o Brasil por intermináveis vinte e um anos até aos já clássicos temas-armadilhas como: Deus, aborto, homossexualismo, maconha, etc.

Pra encurtar a conversa pego, por exemplo, o espinhoso tema do aborto e desafio quem quer que seja a exibir um único texto, artigo, gravação ou documento que o valha e que demonstre, sob qualquer aspecto que Dilma Roussef ou o Partido dos Trabalhadores em sua condição de instituição político-partidária, defende ou tenha defendido o aborto. É mesmo cansativo ter que seguir de eleição em eleição afirmando de forma intermitente as mesmas coisas, tendo que dizer que não existe tal deliberação, tal posicionamento partidário, tampouco qualquer indicativo equivalente. É de um absurdo inominável ter de fincar o pé nas mesmas discussões há pelo menos trinta anos. Tudo em função de um nefasto projeto de despolitização e alienação afiançado pela ultra-direita alocada, sobretudo em setores do PSDB e do tal DEM.

Segundo os parteiros do caos da direita, o negócio é confundir. Confundir ontem, confundir hoje e… Confundir sempre. Então… Onde estiver escrito “POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE EM PROL DE VÍTIMAS DE ABORTO”, leia-se: “PT apoia aborto”; onde estiver “RESPEITO E TOLERÂNCIA À DIVERSIDADE SEXUAL” ou “COMBATE À HOMOFOBIA”, leia-se: “PT defende casamento gay”; onde estiver “REFORMA AGRÁRIA COMO FATOR CENTRAL PARA A AGRICULTURA FAMILIAR”, leia-se: “PT defende invasão no campo”; onde estiver “DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO”, “PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNICAÇÃO MAIS JUSTA E EDUCATIVA”, leia-se: “PT é pelo fim da liberdade de imprensa” ou “PT quer amordaçar a imprensa”; onde estiver “GOVERNO BRASILEIRO DEFENDE DIALOGO E ENTENDIMENTO COM IRÔ, leia-se: “Lula defende regime sanguinário dos aiatolás” e por aí vai… De tal maneira que todo esse ajuntamento de confusões não é uma casualidade. Tem origem, meio, método e objetivos. Representa fundamentalmente uma crença política, portanto um tipo particular de militância saída das elites políticas e econômicas deste país e que jamais acreditaram no futuro do Brasil e por isso mesmo, apostam todas as suas fichas na desinformação, na confusão e na incapacidade do povo de gerar discernimentos para o conturbado mundo da política atual e da qual é parte inexorável.   

Traduzem, a partir do cotidiano de nosso povo, os temas que lhe são mais caros e diretos. Temas como vida, família, paternidade ou maternidade, infância, casamento, religiosidade, paz, Deus, união, trabalho, dentre outros e se lançam a produzir por intermédio de toda sorte de deturpações e mentiras, horrores e maledicências, obviamente buscando vincula-los ao PT e nos imediatos do tempo que corre a candidata Dilma Roussef.

Dessa forma é dever de toda a militância petista, dos partidos aliados, dos movimentos sociais e de todos os que acreditam no aprofundamento da revolução democrática que Lula iniciou no Brasil que façamos o bom e velho debate político com base em uma profunda leitura histórica, comparando as gestões tucana (1995 – 2002) e petista (2003 – 2010), trazendo à tona dos debates, por exemplo, investimentos realizados, crescimentos auferidos deste processo, ganhos sociais saídos de cada gestão, bem como as possibilidades históricas que cada um e a seu modo desenvolveu.

Finalmente registre-se a importância de se ocupar de forma inteligente e criativa as novas mídias. Porque, não tem jeito, para combater o info-fascismo que ronda as redes sociais tal qual um espectro fantasmagórico hiper-processado só com uma substantiva e articulada cyber-militância progressista, anti-autoritária e libertária a defender em toda a sua plenitude os direitos humanos de milhões de pessoas e que de uma forma ou de outra produzem existência própria e singular nestas mesmas redes. Inequivocamente são os novos desafios que a atual conjuntura apresenta para a esquerda e para o Partido dos Trabalhadores.


 

Ângelo Cavalcante é economista e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.