PIG ganha aliado: Voltaire

“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las”

Sempre achei bonita esta frase. Uma expressão forte, de luta e que retratava a vontade de ampliar horizontes, de garantir espaço para todos. Mas, hoje não a vejo mais assim! Ao ler o artigo “O Valor do Pluralismo” escrito por Eugênio Buccie e publicado no Observatório da Imprensa, resolvi repensar  minha opinião. E ainda bem que ainda posso fazer isso!

No referido artigo o autor responde a um comentário feito no texto de defesa contra a demissão arbitrária da psicanalista Maria Rita Kehl, que foi demitida pelo jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito, no último sábado (2/10), artigo sobre a “desqualificação” dos votos dos pobres.  Com o texto “Dois pesos…“, está autora gerou grande repercussão em todo ambiente comunicacional e invadiu a internet e mídias sociais nos últimos dias. Devo dizer que vale a pena ler o texto e ver uma boa análise sobre a corbertura da mídia com relação às Eleições 2010.

Segundo Bucci, os ataques empreendidos contra os jornais que fornecem à população argumentos para alimentar a esfera política de debate, podem fazer com que nós perdamos de vista  o que realmente acontece. Para ele: “É natural que, sob agressão de autoridades, editores e repórteres se unam para se defender e reafirmar sua liberdade (reafirmar a qualquer preço?). É natural, compreensível e até mesmo necessário […] Muito se diz que sem imprensa livre não há democracia…”.

Então, devo concordar que as ofensivas da Folha e do Estadão no direcionamento do debate sobre as Eleições 2010, e especialmente a candidata Dilma, são corretas por que elas refletem o exercício de liberdade de expressão? Mas de qual liberdade estamos falando? Nunca aprendi na Universidade que especular, agredir e partidarizar são valores para publicação de notícias. Em que manual isto está publicado?

Falamos que precisamos ter uma imprensa livre, e a Folha nomeia os jornalistas blogueiros de “blogueiros sujos” só porque eles exercem sua liberdade de expressão. Falamos que precisamos ter uma imprensa livre, e presenciamos o jornal Estado de São Paulo demitir uma colunista que até reconheceu ser nobre  atitude do jornal quando ele finalmente reconheceu ser partidário.

Infelizmente, Bucci não foi tão feliz assim em seu comentário de resposta ao assessor de imprensa que reside em São Paulo – SP, Ricardo Buono. Penso que este leitor do OI esperava outra postura do acadêmico, que outrora criticou a mídia por quantificar a audiência em cifras. Neste momento, me pergunto qual será a resposta de Bucci aos comentários assombrados de quem acompanha os discursos deturpados do que chamamos na rede de Partido da Imprensa Golpista (PIG).

Espero que ele não resolva justificar os desmandos do PIG como o fez em seu último texto: “É claro que cada diário, cada revista e cada site terão um modo particular de responder a esses desafios. A receita não é universal, ainda bem. Mas, de todo modo, hoje boa parte dos problemas graves da imprensa brasileira tem que ver com esta palavra em desuso: pluralismo”. O conceito de pluralismo, como aprendi na Universidade, não direciona para a liberdade de publicar e macular imagens, mas sim de abrir espaço para que discursos racionais, como o da psicanalista Maria Rita Kehl, sejam lidos, ditos e debatidos por todos. Para que com isso possa-se construir uma opinião mais forte frente às hegemonias que teimam em  sobreviver em nosso grande Brasil.

Concordo que plural foi a publicação, sem alteração, do texto da Maria Rita Kehl, pelo jornal. Porém, para não ficar barato esta conta a censura veio logo após. Por que será que não encontramos nada mais direto sobre isso no texto do Eugênio Bucci? Será que este acadêmico realmente criticou alguma vez a mídia de forma verdadeira, ou somente  devaneou como apontou Bento em texto publicado no blog do Nassif  “O Pluralismo na Mídia“?

Cabe a nós cidadãos questionar, debater e colaborar para fazer valer um discurso mais plural não só na rede, que já vem sofrendo sanções por parte do PIG sobre a retirada do ar do site Falha de São Paulo. De qualquer sorte, acrescento que da próxima vez é melhor analisar atentamente a ação do PIG antes de assassinar contribuições históricas para a construção política. Ou será que foi Voltaire quem assassinou e não percebemos isso antes?


* Joanne Mota é radialista em Sergipe e estudante de jornalismo.

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