Bilionários norte-americanos estão por trás da onda conservadora que assola o país

A onda conservadora que venceu as eleições legislativas nos EUA na semana passada, impondo uma dura derrota ao presidente Barack Obama, teve a ajuda decisiva de contribuições financeiras de bilionários e de grandes empresas. A lista dos principais financiadores dos republicanos inclui os irmãos Koch, com fortuna ligada ao setor de petróleo, o magnata do setor imobiliário Bob Perry e o administrador de fundos de investimentos Paul Singer.

Em alguns casos, as contribuições foram feitas de forma secreta, aproveitando a decisão deste ano da Suprema Corte americana que permitiu doações anônimas para entidades que canalizam dinheiro para campanhas eleitorais, como a American Crossroads e a Associação de Governadores Republicanos, grupos gastaram US$ 167 milhões nas eleições legislativas.

Os democratas também têm apoio de entidades do gênero, mas o dinheiro levantado é bem menor – US$ 68 milhões. Além das centrais sindicais, alguns bilionários, como George Soros, tradicionalmente apoiam os democratas.

Das 74 disputas em que o poder mudou de mãos nessas eleições, em 58 houve o apoio desse tipo de associação, segundo levantamento preliminar do PublicCitzen, instituição que monitora gastos em campanhas eleitorais, feito com base nas apurações feitas até a semana passada. Dessas 74 disputas em que o poder mudou de mãos, os republicanos venceram em 71.

A American Crossroads, criada por Karl Rove, que foi assessor do ex-presidente republicano George W. Bush, venceu 23 das 36 disputas em que colocou dinheiro, incluindo republicanos que foram reeleitos. Seu principal doador, com contribuição de US$ 7 milhões, é Bob Perry, que tem a terceira maior companhia de construção imobiliária da cidade de Houston, no Texas. Ele também fez uma doação de US$ 4 milhões para a Associação dos Governadores Republicanos e, juntando o dinheiro canalizado de outras formas, sua contribuição para candidatos conservadores é calculada em US$ 13 milhões.

Outro que fez grandes contribuições ao American Crossroads e grupos afins, com US$ 4,8 milhões, é Robert Rowling, cuja fortuna é originária do setor de petróleo no Texas. Ele também é dono da rede de academias de ginástica Gold’s Gym, que sofreu campanhas de boicote porque alguns dos candidatos republicanos apoiados com o dinheiro dele têm plataformas contra o reconhecimento de direitos civis a gays e lésbicas.

A lista de contribuidores às campanhas republicanas inclui Bradley Wayne Hughes, da Public Storage, empresa de armazenamento, com doação de US$ 2,3 milhões. E também Paul Singer, o fundador do bem sucedido hedge fund Elliott Management, que havia contribuído para a campanha de George W. Bush a presidente e desta vez fez uma doação de US$ 1 milhão para a Associação de Governadores Republicanos. O empresário do setor de comunicações Robert Murdoch, dono da Fox News, doou US$ 1 milhão para a Câmara de Comércio e US$ 1,25 milhão para a Associação de Governadores Republicanos.

O movimento ultraconservador Tea Party é bancado sobretudo por pequenas doações, mas suspeita-se que algumas fortunas estejam financiando o movimento, como os irmãos Charles e David Koch. Um levantamento da OpenSecrets, associação que monitora doações eleitorais, mostra que grandes companhias e grupos de interesses doaram aos republicanos tradicionais três vezes mais recursos do que a candidatos do Tea Party. Alguns candidatos a senador do Tea Party levantaram mais da metade do dinheiro de suas campanhas com pequenas contribuições, enquanto a média dos demais candidatos é de menos de 20%.

As conexões entre os irmãos Koch e o Tea Party ainda não foram totalmente esclarecidas. As alegações de que eles financiam o movimento Tea Party surgiram primeiro nos setores da mídia mais identificados com a esquerda. Mais recentemente, a tese ganhou corpo com um perfil dos irmãos Koch publicada na revista “New Yorker”.

A provável ligação entre os irmãos Koch e o Tea Party é a associação Americanos pela Prosperidade, que tem ajudado o movimento a se organizar e fazer protestos em várias regiões dos EUA. Os irmãos Koch, porém, afirmam que nunca contribuíram com os Americanos pela Prosperidade e que nunca deram declarações favoráveis ou compareceram a atos em apoio ao Tea Party. Um vídeo divulgado recentemente, porém, mostra David Koch discursando num evento recheado de ativistas do Tea Party.

A revista “Forbes” coloca os irmãos Koch como a 24ª maior fortuna dos EUA, com patrimônio de US$ 17,5 bilhões cada. Eles são donos da Koch Industries, uma empresa de capital fechado com faturamento de US$ 100 bilhões e 70 mil funcionários, cuja principal atividade é o refino de petróleo.

A família Koch tem uma longa história de financiamento a causas conservadoras. O patriarca da família, o engenheiro químico Fred Koch, instalou 15 refinarias na antiga União Soviética nos anos 1930, e teria se arrependido por ter ajudado no fortalecimento do regime de Stálin. De volta aos EUA, ele se filiou a grupos direitistas.

Os irmãos Koch também financiaram a criação de alguns centros de estudos sediados em Washington que procuram influenciar as decisões do governo e do Congresso. Um deles é o Instituto Catho, que defende políticas como livre comércio e corte de impostos.

Fonte: Valor Econômico

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