O Nordeste é o Brasil e em todo lugar

Dilma previu que o ódio e a calúnia – turbinas da campanha de José Serra – não ganhariam o Brasil. Venceu Dilma, venceu o Brasil, mas ilude-se quem crê que as palavras doces e pouco sinceras da Veja extraordinária posterior à vitória serão o diapasão a afinar a sintonia da oposição ante o mandato da nossa primeira presidenta.

Ilustrativo disso é o mais recente capítulo: a imbecilidade dessa juventude de direita, elitista, preconceituosa e – para espanto geral da nacionalidade – anti-nordestina, que, partidária de Serra, vocifera contra o Nordeste, atribuindo-lhe a responsabilidade pela eleição de Dilma. Esgrimem calúnias, ao atribuir à maioria acachapante em favor de Dilma outra motivação que não a consciência cidadã. Confundem riqueza com consciência, o que bem ilustra sua mendicância intelectual e a sensação de cerco ante a ampliação da classe média. Seu melhor – e divertido – retrato foi feito pelos estudantes da UnB, no YouYube. Se você não viu, não perca: http://www.youtube.com/watch?v=LA0JL7yVcSM

Reivindico sim, para o Nordeste a eleição de Dilma.

Mas em uma coisa eles não erraram. E já que fomos tão ofendidos, permitam-me essa reflexão sem demérito para os(as) compatriotas que – votando ou não na Dilma – jamais conciliariam com esse tipo de preconceito contra o Nordeste. Afinal, independente de região, o povo brasileiro se quer muito bem. Confiando nessa tolerância, vou “puxar a sardinha” sim; acho que a realidade dá algum direito de o fazer. De fato, nós, nordestinos(as) somos muito responsáveis pela eleição de Dilma.

É verdade, e eu adoro que essa direitazinha machista, racista, homofóbica, lambe-botas, gringa, descambe para um “juris sperneandi” desesperado. Faturam o repúdio nacional e processos do Ministério Público, assim como a ação impetrada pela OAB-PE contra o símbolo dessa vilania, Mayara Petruso. Em minha opinião, há que dar o devido combate a essa parcela juvenil, bem minoritária ainda naquela classe média que até já posou de progressista e democrática e, de repente se viu cercada pela TFP, Opus Dei, a extrema direita e, é claro, essa minoria anti-nordestina. Que companhias, hein, PSDB, DEM e PPS!? Digo mais: a direita necessariamente investirá mais e mais na juventude e não devemos subestimá-la.

Argumenta-se que a tese dos filhotes de Mr. Burns é falsa porque – excluindo-se o Nordeste do mapa eleitoral – mais de 1 milhão e trezentos mil eleitores(as) manteriam a vantagem de Dilma, assims e esconjuraria a tese do perigo nordestino. A conta está pela metade, no entanto. Sou pelo papel decisivo do Nordeste brasileiro para a eleição de Dilma, protagonismo que segue inúmeros movimentos revolucionários, progressistas e democráticos da História do Brasil. O berço das revoluções brasileiras não precisa se defender de seguir sua tradição e eleger Dilma. Contem os votos havidos nos Estados que compõem a região, mas também contem os nordestinos que votaram por todo o país. O Nordeste, cimento da unidade nacional, entranhado no Brasil, foi decisivo na eleição de Dilma.

Nordestino sim, Nordestinado não (Patativa do Assaré)

Afinal, nós somos os paus-de-arara, não é mesmo? Como diz a canção de Zé Geraldo:“Tá vendo aquele edifício alto, moço?” Pois é, foi o nordestino que ajudou a levantar. Se formos cada um atrás das histórias, na casa da gente, encontraremos sagas em nossas famílias, entrelaçadas com esse Brasil do futuro que se levanta. Meu pai e meu avô ajudaram a construir Brasília. Por isso, em vez de ir aos números, peço que se contabilize nessa vitória tudo o que erguemos de progresso pelo país e que nos trouxe até aqui.

O Brasil começou no litoral. Recordemo-nos da ocupação do Norte brasileiro e do protagonismo cearense no desenho do mapa nacional a partir da conquista do Acre. Para que não seja em vão, invoquemos o martírio e a morte de incontáveis tangidos pela seca, que malgrado tamanha opressão, espremidos entre a natureza e a injustiça dos homens, ergueram as belezas e os arranha-céus desta pátria tropical e industrializada, fato raríssimo feito em imensa medida com trabalho, sangue, suor e lágrimas nordestinos.

Berço de Revoluções

Invoquemos Canudos de Conselheiro, nascido no Quixeramobim-CE, e ao Beato José Lourenço no Caldeirão do Juazeiro do Norte. Recordem-se também as revoluções de 1817 e 1824, Frei Caneca e Padre Mororó, Pernambuco e Ceará de mãos dadas. Abreu e Lima, general de Bolívar e prócer latino-americano. A primeira presa política do Brasil, Bárbara de Alencar, avó de José de Alencar, criador do romance brasileiro e um dos grandes intérpretes do Brasil. O Dois de Julho, os Malês e Castro Alves, poeta dos escravos e da juventude.

Ressuscitemos dos desvãos da memória a greve dos jangadeiros contra a escravidão sob a liderança de Dragão do Mar, em 1881, a preparar caminho para que, em Redenção, o Ceará abolisse a escravidão ainda em 1884. Mencionemos a expulsão dos holandeses e franceses do solo pátrio. E Zumbi, comandante guerreiro, no Vaza Barris das Alagoas de Graciliano Ramos. Até no extremo Sul, Antônio Pinto da Silva ensinar a técnica das charqueadas, a indústria saladeril, desenvolvida pelos indígenas no Piauí, no Rio Grande do Norte e no Ceará ainda para alimentar a produção açucareira pernambucana.

Somos nordestinos em qualquer parte do país, sempre saudosos de nossa terra, sempre desejosos de voltar, sem que isso nos tire a alegria de viver e de lutar, construindo a grandeza do Brasil onde quer que estejamos, fazendo rir e dançar, enchendo de alegria e poesia a vida do nosso povo. E nossos filhos e netos, embora nascidos em qualquer Estado, tem inúmeras razões para orgulhar-se dessa origem tão bonita e importante para o Brasil.

“Não, eu não sou do lugar dos esquecidos/

Não sou da nação dos condenados/

Não sou do lugar dos esquecidos./

Você sabe bem: conheço o meu lugar.”

Belchior

O Nordeste prospera, vejam e surpreendam-se, chega de estereótipos. O Brasil está mudando. Mas se há algo perene é que é impossível separar o Nordeste do Brasil, ou o Brasil do Nordeste. Nós fomos, somos e seremos imprescindíveis à construção do Brasil. E, com esse histórico, vivendo no Nordeste ou pelo Brasil, é até óbvio que sejamos parte destacada das forças da mudança.

Lula é nordestino, saiu menino de Pernambuco, e passará a faixa à mineira Dilma, que refez sua vida no Sul. Os nordestinos e nordestinas achamos isso tão bonito! Amamos tanto nosso país que entendemos que o caminho do tucanato é a desagregação nacional e não a admitimos, por isso fomos Lula e somos Dilma. Lutamos pelo Brasil com sangue e trabalho, com muita esperança que dê certo, para entregar isso na mão dos vende-pátria. Sacrificamos tanto para que o Brasil chegasse aqui, que eu não posso deixar de me orgulhar do nosso papel nessa quadra histórica, e o reivindico: é verdade sim, o Nordeste das Revoluções foi imprescindível para eleger a primeira mulher presidente do Brasil.

Essa minoria elitista – que vocifera impropérios ao ponto de chegar ao crime – merece desprezo e cadeia. Eles não representam o Sul ou o Sudeste. Não. Essas toupeiras malparidas pela doentia campanha de José Serra e sua aliança representam apenas mais uma das mil cabeças dessa medusa anti-Brasil. E há que lhes dar combate! Sua utilidade, no entanto, é inegável. Eviscera-se o valhacouto de podridões que por alguns dias iludiu milhões de brasileiros e brasileiras. Não nos faremos pedra ao olhar de frente essa ignomínia. É preciso entender a dimensão da batalha para jamais subestimar esses confessos inimigos do Brasil, afinal, quem mais senão os inimigos da nacionalidade estimularia conflitos regionais e religiosos num país como o nosso? O Brasil é terra de querer bem, de união. Esses filhinho de papai são a turma de Miami. Não nos definimos apenas pelos amigos, mas pelos adversários também, e o Nordeste estará sempre a favor do Brasil.


Paulo Vinicius é secretário de Juventude da CTB

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