Professora culpa mídia por polêmica com livro de Monteiro Lobato

Um desabafo. Assim a professora Nilma Lino, do Conselho Nacional de Educação, falou sobre o polêmico parecer dado ao uso do livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, por conter citações racistas, durante palestra na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A professora explicou que em momento algum o conselho vetou a obra literária, apenas recomendou que os professores que fizessem uso do material fossem preparados para explicar as mudanças nas relações inter-raciais atuais e da época em que o livro foi feito.

Nilma Lino iniciou a palestra falando que estava sendo vítima do equívoco e da manipulação da grande mídia, que potencializou e deturpou o parecer. Abordou o tema antes que as pessoas que assistiam à palestra a provocassem, mas posteriormente não deu entrevista à imprensa, argumentando que não tinha autorização do Ministério da Educação (MEC) para fazê-lo. “Nunca um parecer do Conselho Nacional de Educação teve tanta repercussão e eu estou sendo vítima disso tudo. Houve uma grande distorção do parecer, que não estava sequer homologado e nunca teve força de veto. Apenas de recomendação”, disse.

Nilma Lino explicou que foi a relatora porque a denúncia apresentada ao Ministério da Educação se referia à educação básica, sua área de atuação. A denúncia de que o livro Caçadas de Pedrinho trazia uma referência racista à Tia Anastácia, a cozinheira do Sítio do Pica-Pau Amarelo, foi feita por um técnico em gestão educacional do Distrito Federal. “Entendi que a denúncia era coerente, mas nunca falei em veto à obra literária, principalmente a um escritor tão importante para o Brasil quanto Monteiro Lobato. Apenas coloquei que a literatura precisa ser contextualizada com os tempos atuais. Uma obra clássica será sempre uma obra clássica, mas a sociedade, as pessoas e os valores mudam e isso precisa ser explicado ao aluno.”

Cópia

Uma cópia do parecer da Câmara de Educação Básica (CEB) foi distribuída entre os participantes e nele consta que a relatora apenas pediu que, no caso do uso de obras consideradas clássicas que apresentem estereótipos raciais, os docentes não só da rede pública como da privada sejam preparados a lidar pedagógica e criticamente com aquela situação. E que deve ser exigido das editoras das obras que apresentem preconceitos e estereótipos, tais como os que foram denunciados, a inserção de uma nota explicativa ao leitor sobre estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura.

Diante da polêmica, o MEC resolveu reavaliar o parecer, o que acontecerá em dezembro, durante reunião ordinária da CEB. A partir dessa análise será decidido se a recomendação permanecerá ou não. Nilma Lino participou da conferência de encerramento do Seminário Nacional Desafios e Perspectivas da Implementação da Lei 10.639/03 no Brasil, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio. No evento, foi divulgada uma nota pública de apoio à professora, elaborada pelo Centro Luiz Freire, organização pernambucana de direitos humanos.

Fonte: Jornal do Commércio (PE)

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