Juventude trabalhadora, onde está?

Quando falamos em trabalhadores e juventude está incluída a política de realidade ocupacional e social do país. Este título-pergunta nos remete a uma resposta óbvia, a juventude trabalhadora do Brasil está em todos os lugares, nos mais diversos setores do mundo do trabalho, do chão de fábrica, passando por serviços, linhas aéreo-férrea, chão de banco, rua, informalidade e formalidade ao palco artístico. Tem tido que se adaptar e se estabelecer na incrédula tipologia do mercado de trabalho, principalmente nos países emergentes onde é limitada a conquista da carreira e a permanência no emprego. Por isso, ainda que praticamente conclusivo este início de discussão, a complexidade aumenta a partir do momento que vemos neste tema questões de caráter emancipatório do país. Ou seja, a juventude trabalhadora não grita?

Para entender melhor essa condição da juventude trabalhadora, é preciso iniciar pela análise de fragmentação da sociedade que, em nossa opinião, está também vinculada ao mercado de trabalho. A busca de metas sem muitas vezes saber o destino é uma constante e fazem com que a realidade de cada um pareça diferente, sendo que, no bojo, estão todos em um único sistema. Essa situação tem início no processo de flexibilização das leis trabalhistas na década de 90, onde, fomentou o trabalho temporário, a informalidade, a terceirização e com isso a alta rotatividade no emprego, principalmente para os jovens. Neste arcabouço o alto índice de desemprego que passa a ser sanado a partir de 2002. A fragmentação é tanta que não permite que trabalhadores e trabalhadoras com qualificações ou ocupações diferentes entre si, se reconheçam como irmãos solidários e enquanto classe, por exemplo, na luta sindical. Os dados demonstram que em 2010 a massa juvenil trabalhadora chega á 50 milhões (Pochman, 2010). Segundo, o Dieese e em cálculo baseado sobre os dados IBGE/Pnad/2006; da faixa etária dos jovens que trabalham e estudam de 14 a 29 anos, 30, 6 % fazem o ensino superior; 33,8 % o Ensino Médio e 24,3% Ensino Fundamental. (Campos, p. 154, 2010).

Uma segunda pergunta: Onde estão os jovens sindicalistas? Esta resposta com certeza não é óbvia, principalmente, se considerarmos responsabilidades em cargos diretivos dos sindicatos, que apenas em alguns a participação da juventude vem tomando corpo. Que nos consta alguns motivos para isso, primeiro a própria resposta da pergunta anterior baseado na fragmentação e segundo que o sindicalismo no Brasil não fala a mesma língua da juventude como já falou no pré e pós-30, pré-64 e 80. Entramos, porém, em uma situação curiosa as novas tecnologias de informação e comunicação do qual a juventude utiliza e mais que isso é utilizada (como valores neoliberais impregnados). Inverter essa relação poderia ser o mesmo que trocarmos para essa resposta em óbvia e lógica e a juventude retornar audaz e rebelde contra o trabalho precário e  por um mundo melhor. Acreditamos que a possibilidade do melhor entendimento do qual o mundo passa e assim a capacidade de influenciar a era do conhecimento de forma consciente é aproveitar as tecnologias de comunicação e utilizar para a organização de busca e solução dos anseios imediatos e do socialismo.

Uma das questões internacionais e para ampliar essa discussão. Outrora, seria interessante pesquisar o tema de sindicalismo Francês dos últimos dias. E investigar se há algum planejamento arrojado da CGT-Francesa, para manter duradoura a relação com essa massa de jovens incorporados no movimento sindical; qual a relação destes com as comunicações e o que passa na subjetividade desta juventude aguerrida que transforma sindicalismo em moda. Temos plena consciência de que os problemas de recessão Européia, originada, no sub-prime em 2008 nos EUA e o conservadorismo de Sarkozy é o motivo principal da radicalização, da sindicalização da juventude Francesa e da greve geral deste 2 Semestre de 2010.

Certamente a experiência vivida na França é de satisfação em termos de atitude da alto-declarada, juventude estudantil e trabalhadora, mobilizada no movimento sindical neste recente episódio. Mas a questão que fica é, será que existi um elo despertador da idéia e discussão de que foram colocados em prática resoluções anti-democráticas e conspiratórias para a tentativa de arrefecimento do sindicalismo socialista no pós-2 guerra e questionar como é que se pode querer banir instituições sindicais, idéias e culturas em nome de financiamento e reconstrução pós-traumática da Europa, com o objetivo central de fortalecer o padrão ouro-dólar¹, mantido, durante cerca de ¼ do século XX.

A história do Brasil é bem diferente dos países Europeus, desde, a forma e os períodos do surgimento do capitalismo até a forma e o surgimento da classe operária, os obstáculos para a consciência coletiva de luta sempre foram mais pesados. Ainda sim é evidente que a juventude trabalhadora do Brasil é lutadora, se esforça ao máximo pela sobrevivência e pela “manhã desejada” como diria o poeta Gonzaguinha. Tem muitos obstáculos pela frente se quiserem transformar a realidade e que demonstra que é crucial; combater à fragmentação, buscar a identidade de classe e não ter medo de ser feliz.

1. Ouro-Dólar padrão de política monetária inserida, pelo Bretton Woods, em 1944. O dólar como moeda superior, ligado ao ouro, do qual todas as outras moedas deveriam estar indexadas. O fim da conversibilidade do dólar em ouro ocorre, em 1970. Essa proposta é considerada como atitude imperialista dos EUA e predominância da política monetária com suas piores conseqüências, entre elas, o jogo financeiro.

Referências Bibliográficas

ALVES, G. Limites do Sindicalismo: Marx, Engels e a Crítica da Economia Política. Bauru: Praxis, 2003.
CAMPOS, A. Juventude e Ação Sindical: Crítica ao Trabalho Indecente. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2010.
MELLO, J.M.C. Capitalismo Tardio. São Paulo: Brasiliense, 1982.
POCHMANN, M. Desenvolvimento e perspectivas novas para o Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.
TEIXEIRA, A. O movimento da industrialização nas economias centrais no pós-guerra. Texto para Discussão, n 25, Rio de Janeiro: IEI/UFRJ, 1982.


André Lemos é Sociólogo formado pela FSA – Fundação Santo André. Especializou-se em Economia do Trabalho e Sindicalismo e de Economia do Trabalho (CESIT), do Instituto de Economia da Unicamp. Atualmente colaborador de pesquisa do Centro de Estudos Sindicais (CES).

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.