“É um esforço atender o imaginário do que é um diretor”, afirma Laís Bodanzky

Pela primeira vez, o Brasil tem uma presidenta mulher. O Ministério da Cultura também é comandado por uma representante do sexo feminino, Anna de Hollanda, cujas primeiras medidas têm colocado em alerta a comunidade audiovisual. Mas em relação ao fazer cinematográfico, qual é a condição das mulheres?

“Acho que a participação feminina na direção de filmes tem evoluído na proporção de outras áreas do trabalho”, afirma a cineasta Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo) ao Cineclick. Laís integra a geração pós-Retomada, que representa a maior participação feminina da história no cinema – por detrás das câmeras.

Historicamente, o site Mulheres do Cinema Brasileiro, que tem um caprichado banco de dados sobre o assunto, elenca 83 diretoras brasileiras. O primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher foi O Mistério do Dominó Preto, de Cléo de Verberena, também atriz do filme. Segundo a base dados da Cinemateca Brasileira, o filme estreou em São Paulo, no Cine Paratodos, a 9 de fevereiro de 1931. Cléo, cujo nome verdadeiro era Jacira Martins Silveira, teve de vender jóias para financiar seu longa e chegou a fundar a Épica Filmes apenas para produzir este longa.

Segundo Mulheres do Cinema Brasileiro, entre 1897 e 1962, apenas seis mulheres dirigiram filmes. Neste período, uma delas se destacou por realizar um estrondoso sucesso de bilheteria: o melodrama O Ébrio, protagonizado por seu marido, o cantor Vicente Celestino. Lançado em 1946, período no qual o Brasil tinha 41 milhões de habitantes (quase um quinto do número atual), estima-se que 6 milhões de pessoas tenham assistido ao longa

Nos anos 1960, o mundo muda e surgem musas atrizes como Leila Diniz, Lilian Lemmertz, Norma Bengell e Helena Ignez. Na década seguinte, assistimos a um boom de diretoras, entre elas Ana Carolina, Sandra Werneck, Tizuka Yamazaki, Suzana Amaral e Lucia Murat que, de certa forma, abriu mais portas à geração dos anos 90.

Laís Bodanzky conta que se considera uma diretora, não uma diretora mulher. “Certeza absoluta. Não tenho essa bandeira, até poderia ter, não vejo problemas. Mas às vezes, alguém interpreta de fora dizendo que certa coisa no meu filme tem um tom feminino, um olhar de mulher, mas trata-se de um olhar de quem vê meu filme, olhar do outro, não o meu”.

Preconceito? “No Brasil, não senti, até por que faço cinema junto dos amigos, crescemos juntos”, opina a cineasta, que lembra de um caso em seguida. “Na Itália, quando estava finalizando o Bicho de Sete Cabeças, meu primeiro longa, foi um esforço conseguir me colocar. Primeiro, por ser diretora estreante, depois artista de terceiro mundo e, além de tudo, mulher. Foi um esforço fazer eles compreenderem que a palavra final era minha”.

Laís Bodanzky não tem problema algum com o fato de ser uma cineasta. Quem tem são os outros. “Uma coisa engraçada é a expectativa com a imagem do diretor. Eu sou magrinha, delicada, muita gente quando me conhece pergunta espantada ‘mas você que é a Laís?’. É um esforço corresponder ao imaginário do que é o diretor, e não estou disposta a gastar energia nisso”, finaliza.

Em tempo

Estamos mais acostumados a prestar atenção na grande quantidade de atrizes de respeito que temos no cinema brasileiro. Porém, por trás das câmeras existe um rol de profissionais de expressão. Algumas áreas apresentam expansão, como as Direção e Roteirista. Outras, profunda escassez, como Direção de Fotografia, que tem em Kátia Coelho a sua única representante no cinema.

Abaixo, separamos algumas profissionais em diversas áreas que merecem ter o trabalho conferido. Boa descoberta!

Montadoras: Cristina Amaral (Falsa Loura), Vânia Debs (FilmeFobia), Idê Lacreta (Hotel Atlântico) e Karen Harley (Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo).

Roteiristas: Anna Muylaert (Proibido Fumar), Adriana Falcão (Eu e Meu Guarda-Chuva), Melanie Dimantas (Orquestra dos Meninos), Helena Soárez (Antonia) e Antonia Pellegrino (Bruna Surfistinha).

Figurinistas: Marília Carneiro (Sexo, Amor e Traição), Kika Lopes (A Festa da Menina Morta)

Produtoras: Andrea Barata Ribeiro (Ensaio Sobre a Cegueira), Sara Silveira (Os Famosos e os Duendes da Morte), Vânia Catani (Feliz Natal), Mariza Leão (De Pernas pro Ar), Nora Goulart (Saneamento Básico – O Filme), Assunção Hernandez (De Passagem),Ana Maria Nascimento e Silva (O Gerente), Van Fresnot (O Sol do Meio Dia), Zita Carvalhosa (A Casa de Alice)

Técnicas de som: Valéria Ferro (Moscou)

Fotógrafa: Kátia Coelho (Tônica Dominante)

Diretoras pós-Retomada: Tata Amaral (Antonia), Eliane Caffé (O Sol do Meio Dia), Carla Camuratti (Carlota Joaquina), Lina Chamie (Via Láctea, Rosane Svartman (Desenrola), Sandra Kogut (Mutum), Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo

Diretoras históricas: Ana Carolina (Amélia), Tizuka Yamazaki (Aparecida), Suzana Amaral (Hotel Atlântico, Lúcia Murat (Maré – Uma História de Amor), Sandra Werneck (Sonhos Roubados).

Fonte: Cineclick

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