Estudantes chilenos rejeitam propostas anunciadas pelo governo

As medidas anunciadas na noite desta terça-feira (5) pelo presidente chileno, Sebastián Piñera, com o objetivo de interromper as mobilizações estudantis que exigem uma melhor educação pública e o fim do lucro nas universidades, foram rejeitadas pelos alunos.

A presidente da Federação de Estudantes do Chile (FECh), Camila Vallejo, classificou como “uma grande decepção” as propostas, que, disse, marcam um retrocesso. “Com relação ao lucro, hoje não se faz valer a lei: desrespeitam a lei que eles mesmos criaram, vulnerando o Estado”, enfatizou.

Além disso, a dirigente disse que Piñera negou taxativamente a possibilidade de os colégios municipais passarem a depender do Estado, a “principal reivindicação dos estudantes do ensino médio”.

Em declarações à Radio Cooperativa, Camila confirmou a convocação de uma grande manifestação para 14 de julho, quando, junto aos estudantes, haverá trabalhadores do setor de saúde, mineração e metalurgia, entre outros.

Acordo “imoral”

Piñera propôs na noite desta terça-feira um acordo nacional em matéria de educação, que inclui um fundo de US$ 4 bilhões, em uma tentativa de acabar com os protestos que exigem maior contribuição do Estado para reduzir as dívidas dos alunos.

O presidente advertiu que “já é tempo de terminar com os protestos e retomar o caminho do diálogo e dos acordos, e propôs um Grande Acordo Nacional pela Educação (Gane), cujos principais objetivos são melhorar a qualidade, o acesso e o financiamento da educação superior”.

Piñera disse que é necessário definir uma nova institucionalidade para o sistema universitário, que diferencie universidades estatais, tradicionais não estatais e privadas não tradicionais.

Nesta linha, o vice-presidente da FECh, Francisco Figueroa, qualificou de “imoral” e “sumamente grave” o anúncio do líder, ao assinalar que ocorrerá a identificação e cobrança de impostos às universidades que tenham fins de lucro.

Embora a norma vigente no Chile estabeleça que as universidades são corporações sem fins lucrativos, na prática, estas instituições obtêm benefícios tributários, subsídios e, em algumas ocasiões, lucro procedente de negócios montados graças a subterfúgios legais.

Para Paloma Muñoz, porta-voz dos estudantes do ensino médio, Piñera deixou de lado a principal reivindicação do setor: passar a administração dos colégios dos municípios ao Estado.

Desde meados de maio, os estudantes universitários e do ensino médio, entre outros, organizaram grandes manifestações tanto em Santiago como em algumas províncias e há por enquanto cerca de 300 estabelecimentos ocupados pelos alunos.

Os estudantes exigem o fim da educação municipal, que os colégios voltem a ser administrados pelo Estado, que seja melhorada a infraestrutura dos estabelecimentos destinados ao ensino técnico-profissional “e um sistema mais justo que permita a abolição da desigualdade e o fim do lucro nas universidades”.

Cerca de 200 estudantes universitários e do ensino médio, pertencentes à Universidade Tecnológica Metropolitana, tomaram nesta noite durante alguns minutos a Avenida Bernardo O’Higgins, à altura do Ministério da Educação. Após ouvirem o anúncio de Piñera, os estudantes tentaram manifestar-se nos arredores do ministério, mas foram impedidos pelos agentes de segurança.

Com agências

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